Por Coletivo Gestor Casa Mafalda (http://noticiasanarquistas.noblogs.org/)
A Casa Mafalda, como boa parte dos espaços autônomos do Brasil, sempre teve um empecilho fundamental pra existir e continuar existindo, o mesmo que entrava a nossa sobrevivência cotidiana no mundo capitalista: as contas. Aluguel, água, luz e impostos, tudo isso tem um custo difícil de cobrir e, quando esse custo aumenta, as coisas ficam ainda mais complicadas.
Pensamos dentro da casa em diversas formas de conseguir sustentá-la coletivamente sem transformar a nossa presença nela numa eterna corrida atrás do próprio rabo pra pagar as contas. Mas nem sempre essas formas funcionam, e não foram poucas as vezes em que tivemos que completar o dinheiro das contas do próprio bolso. Com a atual crise econômica e financeira e o engajamento de vários dos nossos em lutas que lhes custaram, por vezes, o emprego ou o corte do ponto, resolvemos estender a nossa realidade aos parceiros e parceiras para pedir uma contribuição financeira que ajude a manter o espaço.
Caso você possa ajudar:
Banco do Brasil
Ag: 7016-5
Poupança: 2108-3 (variação 96)
Luara Alves de Carvalho
Um pouco mais sobre as dificuldades (e a necessidade) de se manter um espaço autônomo em um mundo capitalista
Acreditamos que um importante elemento da história das lutas populares são as experiências de autogestão exercidas em espaços autônomos livres, como forma de resistência às relações de dominação e exploração e como uma base para que haja o agrupamento de pessoas com interesses comuns e a organização política. O termo ‘espaço autônomo’ é obviamente um termo político – tendo em mente que uma autonomia total, econômica, social e integral, não é possível dentro do capitalismo.
Espaços autônomos pretendem ser lugares de criatividade e experimentação que, ao invés de seguir a lógica colonizadora, desumana e exploradora do capitalismo, funcionem como ambientes onde pessoas possam tentar viver e se relacionar entre si de forma igualitária. A luta pela existência e pela manutenção dos espaços autônomos é também uma forma de ação anticapitalista que visa começar a mudança que queremos para o futuro aqui e agora. Ao mesmo tempo em que pode servir como ferramenta para a resistência global, ajudando a desenvolver alternativas coletivas viáveis ao sistema de lucro privado.
Nesse processo, é inevitável que em muitas ocasiões apareçam diversas contradições. Sobretudo quando falamos em um espaço autônomo dentro do cenário urbano de uma megalópole como a cidade de São Paulo. Em um ambiente como esse, inevitavelmente estamos reféns dos donos dos meios de produção, ou seja, os capitalistas. Burlamos e sabotamos o quanto podemos, mas ainda é necessário que vendamos alguma parte de nosso tempo e força de trabalho para termos as condições mínimas de sobrevivência (moradia, alimentação, transporte, etc), venda essa que aumenta em intensidade e se torna mais opressora quando estamos em uma conjuntura de crise, na qual o neoliberalismo avança a passos largos através de projetos como o da terceirização.
Dessa maneira, a vida de um espaço autônomo acaba sendo uma frequente equação onde há uma tentativa constante de redução de danos, políticos e econômicos, para possibilitar que nos aproximemos mais e mais de uma vivência coletiva não só cultural, política e simbólica, mas também material e economicamente autônoma. No caso da Casa Mafalda, além dos coletivos que a habitam para diversas atividades (diárias ou não), existe um coletivo gestor, atualmente composto por cerca de 10 pessoas, responsável pela manutenção material e política do espaço. Por opção estratégica, nos localizamos próximo a uma estação de trem, em um bairro onde a gentrificação avança cada dia mais, tornando a possibilidade de realizar uma ocupação de imóvel que dure a longo prazo praticamente inviável. Sendo assim, nos vemos em uma eterna contradição, que é ter de pagar aluguel, impostos e as diversas contas para existir. Atualmente, a soma dessas contas chega a aproximadamente 2 mil reais por mês. A principal forma de arrecadação que temos é a venda de bebidas em festas e eventos, livros, camisetas e outros materiais. No entanto, isso tudo arrecada em média 40% a 50% do valor total, chegando a 70% ou 80% em meses eventualmente mais cheios de atividades (que, ao mesmo tempo, acabam nos sobrecarregando em termos de tempo e trabalho ainda mais), fazendo com que a arrecadação mensal tenha que ser completada por doações e mensalidades das próprias pessoas da gestão.
Em 2015, houveram problemas sociais conjunturais que mexeram com a estabilidade dessas contribuições. Dentro da gestão da Casa existem estudantes sem emprego, professores em greve com o salário cortado pelo governador, pessoas precarizadas e temporárias com diminuição da demanda de trabalho, pessoas em funções públicas com reajuste salarial menor do que a crescente inflação. Para piorar, nos meses de junho e julho, por serem próximos ao período de férias escolares, acaba diminuindo a frequência de pessoas que circulam pela casa. Essa realidade, junto ao não-aumento durante os anos no valor dos produtos que vendemos para manter a Casa (uma opção política para que não haja ainda mais exclusão, onde uns possam entrar em um evento ou tomar um refrigerante, por ex, e outros não), além de não cobrarmos entrada na imensa maioria dos eventos, nos levou a escrever esta carta pedindo aos coletivos, organizações e indivíduos parceiros e apoiadores contribuições financeiras para que possamos ter mais tranquilidade em relação ao pagamento das contas.
Nesses quase 4 anos, a Casa Mafalda funcionou como um espaço para muitos encontros e eventos solidários. Arrecadamos em diversas festas para outros coletivos e movimentos parceiros. Neste momento, infelizmente somos nós quem precisa vir a público pedir uma ajuda solidária.
Abraços libertários,
Coletivo gestor da Casa Mafalda
Casa Mafalda
Rua Clélia, 1895, Lapa.
A três quadras do terminal Lapa e da estação Lapa da linha 8 da CPTM.
Email: contato@casamafalda.org
Site: casamafalda.org