Fonte: Jornal do Brasil – Mônica Francisco*
Há muito as iniciativas de pequenos produtores deixaram de ser apenas “coisa de quem está desempregado” ou precisando “complementar” a renda. Desde 2005, estes empreendimentos entraram de vez no mapa, ou melhor, nos dados oficiais do país, com a criação da Secretaria Nacional de Economia Solidária (Senaes), em 2003, e a solicitação de todo um movimento empenhado em dar visibilidade a esse verdadeiro exército que povoava um verdadeiro limbo.
Em 2005, o primeiro mapeamento dos empreendimentos econômico-solidários, ou seja, que produziam de forma associativa e coletiva, dividindo tarefas e recursos, era retirado do limbo e posto às claras.
De lá pra cá muita coisa mudou, o país mudou e o desejo de uma sociedade mais inclusiva, justa e que se adeque aos anseios reais da população é cada vez mais necessária.
E isso diz também respeito às inciativas de cunho popular e que são por demais exitosas e que têm feito circular um PIB (Produto Interno Bruto) considerável. São diversas áreas : pesca artesanal, comunidades tradicionais, catadores, agricultura familiar, agroecologia, artesanato, clubes de trocas solidárias, fundos solidários que fornecem crédito de forma justa e nem de longe lembrando a sanha predatória dos grandes bancos e seus juros mortais.
São iniciativas que deram certo, que estão no dia-a-dia impactando diversas localidades. A academia está de olho nos conceitos que definem, explicam ou pelo menos tentam dar uma lógica a essa atividade tão pitoresca em meio a uma sociedade onde o capitalismo se mantém como sistema, cada vez mais forte, mas que dá sinais de que em algum momento será bem difícil para nós todos convivermos com ele.
Segundo o economista chinês Ha-Joon Chang (Universidade de Cambridge, Reino Unido), declarou em seu livo “Chutando a escada”, os países desenvolvidos estão “chutando a escada” (na memorável frase de List) que eles usaram para se tornar mais ricos e poderosos e, em contrapartida, estão tentando impingir aos países em desenvolvimento um conjunto de políticas totalmente inadequadas para a sua atual condição e interesse econômico.
Estas declarações, segundo ele, continuam atuais e precisamos rever logo muitos conceitos em relação à economia capitalista de livre mercado e suas consequências.
Ora, em um cenário cada vez mais difícil é importante estar atento, ou melhor, que os governos e os governantes estejam atentos a essas importantes e necessárias iniciativas que tiram milhares de cidadãos e cidadãs da miséria e impactam tremendamente várias regiões de nosso país e muitos lugares ao redor do mundo.
Segundo Sérgio Trindade, representante de uma entidade de assessoria a empreendimentos em Mangaratiba e membro do Fórum Estadual de Economia Solidária, a economia solidária será tema de uma série de debates na Fundação Casa de Rui Barbosa, estimuladas e articuladas pelo pesquisador e Cientista Social Júlio Aurélio Vianna Lopes e pelo grupo de pesquisadores do Núcleo de Solidariedade Técnica,o SOLTEC/UFRJ na primeira semana de novembro.
Isso marca a importância do aprofundamento dos estudos e da produção de conhecimento especializado em torno da temática e cada vez mais subsidiar políticas públicas consistentes, para que a Senaes e as secretarias municipais que são “especiais” não sejam facilmente descartadas por qualquer capricho político.
É preciso se manter no caminho, fortalecer as instituições democráticas, nascidas da luta dos movimentos sociais e dos cidadãos e cidadãs comprometidos com um país melhor para todos. Junho não terminou!
“A nossa luta é todo dia. Favela é cidade. Não à GENTRIFICAÇÃO e ao RACISMO, ao RACISMO INSTITUCIONAL, ao VOTO OBRIGATÓRIO e à REMOÇÃO!”
*Membro da Rede de Instituições do Borel, Coordenadora do Grupo Arteiras e Consultora na ONG ASPLANDE.(Twitter/@MncaSFrancisco)