Fonte: http://www.agroecologia.org.br

Articular comunicadores. Unir ações para ampliar a visibilidade da agroecologia de norte a sul do Brasil. Estes foram alguns dos objetivos da oficina realizada pela Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), nos dias 23 e 24 de setembro. A atividade ocorreu em Juazeiro (BA), local do III ENA em maio de 2014, e contou com a participação de 30 pessoas de organizações de todas as regiões do Brasil, inclusive do Fórum Brasileiro de Economia Solidária. A oficina ajuda a garantir que a comunicação da ANA e das organizações que fazem parte da rede se fortaleça até o III ENA.

Para afinar o discurso entre os comunicadores, o primeiro passo foi refletir sobre a ANA e os Encontros Nacionais de Agroecologia. “A ANA é uma rede de redes, procura construir uma unidade política na diversidade, com princípios políticos comuns para enfrentar os desafios. O I ENA deu origem a ANA e reconheceu essas experiências locais, procurando alternativas aos padrões dominantes do agronegócio. A agroecologia nasce da valorização dos diálogos de saberes, portanto, a comunicação é importante desde o princípio. A ANA sempre se organizou em três eixos: enfrentamento ao agronegócio, incidência nas políticas públicas e fortalecimento do campo agroecológico. Isso está colocado para a gente na construção do III ENA”, explicou Denis Monteiro, secretário executivo da ANA.

O II ENA representou o amadurecimento desse processo e caminhou para o mapeamento de mais de mil experiências capazes de mostrar a força da agroecologia pelo país. Temas mobilizadores acumularam as experiências dessas articulações: soberania alimentar, biodiversidade, mulheres, certificação, etc. Desde então foi adotado o método político pedagógico de atuar com base nessas experiências locais. O Encontro de Diálogos e Convergências foi um marco para buscar alianças com outras redes da sociedade rumo ao III ENA. A Política Nacional de Agroecologia, sancionada em agosto de 2012, é outro espaço de luta para a ANA na atualidade, e fruto dessa mobilização nacional.

De acordo com Helen Santa Rosa, do Centro de Agricultura Alternativa (CAA), do Norte de Minas, no II ENA a comunicação foi mais utilizada como produto e no Encontro de Diálogos ela adquire um status político: não apenas é instrumento para visibilidade, e sim de direito e processo de enredamento. “Vai ganhando força na ANA ao sair só do operacional”, complementou.

“Faz parte da própria evolução do movimento agroecológico no Brasil o desejo de uma maior interlocução com a sociedade. Os benefícios são inúmeros, desde o potencial aumento do consumo de produtos saudáveis ao apoio popular nas políticas de fomento à agroecologia. Daqui para diante, a equipe de comunicadores ligados à ANA tem um grande desafio”, destacou Fernando Angeoletto, do Centro de Estudos e Promoção da Agricultura de Grupo (Cepagro), de Santa Catarina.

Para Andrea Ono, da Articulação Paulista de Agroecologia (APA), é preciso pensar na comunicação do ENA e na comunicação para fora. “Criar um sistema permanente e aproveitar o ENA para dar visibilidade, mas com caráter de processo. Passar mensagens positivas nesses espaços e não ser reativo. Disputar espaço com o agronegócio. Oficinas como estas são importantes porque a comunicação da base de organizações da ANA tem que estar forte e com o mesmo discurso”, disse a jornalista.

Experiência

Seguindo a metodologia da ANA, que se apóia nas experiências, durante a oficina foi realizada a apresentação da rede da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), que também integra a ANA. O sistema de comunicação que inclui a rede passou por vários formatos e é construído na perspectiva da valorização do conhecimento local e das experiências dos agricultores. A comunicação ajuda a refletir um dos objetivos centrais do trabalho da ASA, que é mostrar a convivência possível com o bioma semiárido. A rede congrega 75 comunicadores populares em todo o bioma, e o resultado é o fortalecimento institucional da ASA também via comunicação e a mudança gradual da visão regional e nacional sobre o semiárido.

Segundo Lívia Duarte, da ONG Fase, que estava na coordenação da oficina, é preciso pensar a comunicação também como direito e lembrar que existe uma série de barreiras nos meios de comunicação. Ela lembrou que a cultura popular é estratégica, e ressaltou sua importância nas caravanas agroecológicas. Lívia acredita que essa reunião é o primeiro esforço para aumentar essa rede em busca de dar visibilidade à agroecologia e dialogar com a sociedade.

“Precisamos falar para fora sem esquecer de fortalecer os comunicadores e organizações que fazem parte da ANA. Precisamos nos apropriar da metodologia da própria ANA, do protagonismo das experiências concretas e a partir delas buscar caminhos de mostrar o que é a Agroecologia. Esta oficina tem a ver com a ideia de criar formas entre nós para facilitar nossa comunicação. Produzimos muitas coisas para dentro das redes, mas pode ser melhor. Precisamos fortalecer essa ideia e pensar na comunicação de um jeito planejado”, afirmou.

Os participantes traçaram estratégias para construção dessa rede a partir das caravanas agroecológicas, etapas preparatórias ao III ENA. Pensaram sobre formas de organizar questões operacionais nestas etapas como a elaboração de vídeos e áudios, mas também foram estimulados a refletir em cada região sobre o direito de comunicar junto com todos aqueles que lutam pela agroecologia. Agora esses comunicadores devem colaborar mutuamente no mapeamento de outros companheiros e dar mais passos rumo a estratégias que dêem voz às agricultoras e agricultores por um modelo de desenvolvimento saudável e sustentável no campo.

(*) Foto de Fernando Angeoletto e arte de Guilherme Cavalcanti.