divulgado por Ana Mercedes
Companheiras(os), irmãs(ãos), a ti que sonhas, que lutas, caminhas, celebras, reivindica, consome, compra e vende, queremos nos apresentar e fazer um convite para compartilharmos pensamentos e ações. Somos um grupo de mulheres e homens, trabalhadores rurais e urbanos do Rio Grande do Sul que estamos organizados para e pelo Movimento da Economia solidária. Somos recicladores(as), artesãos(as), agricultores(as), pescadores(as), mas acima de tudo, somos trabalhadores que optamos por lutar por um trabalho autogestionario, coletivo, associado e autônomo ao invés de vender nosso único bem, a nossa força de trabalho para quem nos explora.
Acreditamos em um novo paradigma de sociedade que valorize e priorize o ser humano e a natureza. Que tenha por base o comércio justo, o consumo consciente e o combate à miséria e ao desemprego. Pois, o consumo exacerbado tem causado prejuízos imensuráveis para nós e para as futuras gerações. Urge a mudança de valores diante da situação insustentável dos nossos dias em meio a violência que nos assola de todas as formas. Lutamos pelo desenvolvimento de uma ordem socioeconômica centrada na produção e distribuição de riquezas de forma justa, a partir de ações locais concretas.
O Movimento da Economia Solidaria vem constituindo-se enquanto uma alternativa viável e contra-hegemônica ao modo capitalista de produção material, produção e organização das relações humanas. Enquanto, Movimento Social propõe um novo projeto de sociedade. Seus princípios e valores baseiam-se na autogestão, autonomia, democracia, valorização e emancipação da mulher, educação libertadora, diversidade, ampla sustentabilidade, direito a vida e ao bem viver na construção de um outro modo de produção de bens e serviços e de relação e respeito à natureza e meio ambiente, a segurança alimentar sem o uso de agrotóxicos priorizando o cultivo das sementes crioulas.
Entendemos que a luta da Economia Solidaria converge com as lutas dos demais Movimentos Sociais que assumem as bandeiras anticapitalista, anti-imperialista, anti-racista, anti-machista, anti-homofobica, anti-lesbofobica e, a pleno favor das plataformas Ecológicas e ambientalmente sustentáveis. Identificamo-nos às lutas dos movimentos sociais, como: MST, MBA, MTD, MM, MNCR, Via Campesina, Movimento dos Quilombolas, Movimento Indígena, entre outros. Cremos que, uma união de forças, nos dá Unidade nas Lutas e abre um diálogo para tratarmos de pontos específicos em nossas diferenças na transformação e busca de um novo projeto de sociedade.
Nesta caminhada, ainda estamos em um movimento de transição para nos percebermos e fortalecermos enquanto movimento social. Mas desejamos parceria e diálogos por termos pautas em comuns na luta por efetivação de direitos conquistados e ampliação de suas garantias.
O dialogo aqui proposto também busca a possibilidades de momentos de formação, qualificação e contribuições mutuas ao pensarmos o lugar do trabalho associado, enquanto educativo, criativo e gerador de vida e sentido para o ser humano. Só o trabalho associado possibilita a construção de uma sociedade, em que a economia não seja para poucos. Que não haja exploração do homem sobre o homem e que a democracia seja para todos com justa distribuição de riquezas e reconhecendo os sujeitos construtores deste processo. Que é permeado pela autogestão, cooperação solidariedade e o direito de produzir e viver.
Vivemos em um momento de profunda fragmentação das forças políticas/sociais, devemos quebrar o ciclo de formação cultural produtora do e reprodutora do individualismo. Nosso país é um dos mais desiguais do planeta e, ao mesmo tempo orgulha-se em ser a sexta economia do mundo. Somente nossa união poderá fazer a diferença através do compromisso com as lutas coletivas. Como, a luta pelos 10% do PIB para a Educação, a socialização da terra, criação de políticas efetivas de redistribuição de riquezas, prioridade dos recursos do Fundo do Amparo ao Trabalhador (FAT) ser para os trabalhadores e não as empresas, lutamos pela facilitação e ampliação do acesso aos fundos do BNDS por parte dos empreendimentos da economia solidaria e dos pequenos produtores, para que as universidades publicas recebam recursos públicos para a produção de tecnologia social e não de tecnologias para a reprodução do capital.
Faz-se necessário que estas pautas, comuns a todos nós, possam nos unir cada vez mais para enfrentar, de forma estratégica, por exemplo, as manobras de higienização urbana que surgem com a aproximação de grande eventos, a privatização de espaços historicamente públicos e, para a revogação de Leis que são um retrocesso na conquista por direitos.
A forma de produção não capitalista que propomos, através da economia solidaria, vai ao encontro da sustentabilidade integral do ser humano e da natureza. A formação de redes integradas de consumo dos produtos e serviços da Economia Solidaria fortalece todos os movimentos sociais contra-hegemônicos, e favorece o surgimento de uma nova cultura. A cultura da união e cooperação contra o sistema capitalista que nos oprime.
Por isso, lutamos pelo fortalecimento e consolidação de uma grande rede de produtores, consumidores e militância que, articulados, sejam protagonistas de ações que visem o bem viver, emancipando o ser humano de toda e qualquer dependência que o alienam política, social, cultural e economicamente. Nessa direção, entendemos que alguns encaminhamentos são necessários para viabilizar a nova sociedade pela qual sonhamos e lutamos. É importante que mais pessoas compreendam a relevância deste entendimento e do porquê (ou no quanto) esta proposta se opõe ao sistema Capitalista, com sua estrutura neoliberal de Estado mínimo, em que poucos acumulam muitas riquezas e usufruem de privilégios, enquanto aos demais resta somente as políticas compensatórias; ou conformar-se com as conseqüências adversas de um mundo desigual e de finitas reservas.
Baixe a carta em: http://www.fbes.org.br/index.php?option=com_docman&task=doc_download&gid=1683&Itemid=216