Com entusiasmo e com a cálida e solidária acolhida das organizações de economia solidária brasileiras, encabeçadas pelo Fórum Brasileiro da Economia Solidária, FBES e a Prefeitura do Rio de Janeiro, 250 pessoas na representação das mais diversas redes e organizações da economia solidária e o comércio justo de 20 países latino-americanos e do Caribe, e o acompanhamento de delegadas(os) de Espanha, Portugal, Malásia e Filipinas, realizou-se, na capital carioca, o V Encontro Latino-americano e Caribenho de Economia Solidária e Comércio Justo, que convocou a Rede Intercontinental de Promoção da Economia Social e Solidária, RIPESS LAC.

Chegamos a esta cidade em um momento de crise da civilização, quando se discutem alternativas para o planeta, na Cúpula dos Povos, e, oficialmente, na Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, Río+20.

Nas nossas comunidades, regiões e países, praticamos iniciativas econômicas e sociais nos diversos setores e com distintas metodologias, que apontam para novos modelos de desenvolvimento e de sociedade, em que a vida, a pluralidade, a justiça social e ambiental define uma economia includente, diferenciada da economia do capital.

A Economia Solidária é um movimento social que deve contribuir para a consolidação da democracia política e econômica, e na criação de outros modelos de desenvolvimento que tenham como centro o bem viver. A relação entre ação econômica e política constitui uma característica da Economia Solidária no propósito da superação do capitalismo.

Observamos que as práticas de Economia Solidária na nossa região conquistou importantes avanços, tanto nas propostas de alternativas de desenvolvimento como no fortalecimento da articulação com outros setores e movimentos, em especial de mulheres, indígenas, de soberania alimentar e nutricional, agroecologia e justiça ambiental. Percebemos também a invisibilidade que sofremos frente à sociedade, com uma presença ainda muito tímida nas agendas dos outros movimentos e setores sociais.

Nos países da região onde se implementam algumas políticas públicas que reconhecem e intencionam fomentar a economia solidária e o comércio justo, porém, ainda são iniciativas insuficientes e tendem a ser mais reguladoras do que de real alcance estratégico e sustentável para o sector. As políticas públicas devem ser integrais, transversais e contínuas, e devem ser políticas de Estado.

Mesmo com as limitações conceituais de recursos, é importante contribuir para a formação, acompanhamento e coordenação com os gestores públicos, sustentando uma interlocução autônoma para ganhar um maior reconhecimento e sensibilização nas diversas instâncias dos Estados e facilitar uma política pública que contribua com as dimensões econômicas, social, política, cultural e ambiental para a sustentabilidade das práticas da economia solidária.

Reconhecemos a importância de estabelecer mapeamentos que narrem, registrem, sistematizem e visibilizem ou acionem a dimensão e presença da economia solidária. Igualmente se requer esforços no diálogo entre saberes tradicionais, técnicos e acadêmicos que apontam para a construção do pensamento solidário, desde a metodologia da educação popular, para perceber, identificar e significar valores, diversidade étnica, cultural e de gênero, e concepções das práticas solidárias e a leitura crítica e estratégica de processos, métodos, tecnologias da informação e o entorno. Se requer trabalhar na constituição de um comitê que contribua na intenção de elaborar ferramentas epistemológicas e teóricas, assim como conceitos e indicadores próprios para a economia solidária.

É imprescindível que o movimento de comércio justo avance no diálogo e reação sul-sul, desde uma perspectiva local, regional, nacional e latino-americana. Fazer juntos e juntas a comercialização de acordo com a viabilidade dos produtos e no marco do respeito à autonomia das redes. Assim mesmo, afirmar e visualizar a reação entre ecologia, comércio justo e consumo ético. Nesse sentido, devemos apoiar a defesa do direito à alimentação e à água, que implica repudiar o extrativismo e os agronegócios nacionais e transnacionais.

O intercâmbio e as Finanças Solidárias desenvolvem-se ancestralmente na nossa região como um instrumento comunitário e popular de resistência às práticas especulativas do capital para gerar riqueza coletiva e contribuir para a democracia econômica das sociedades. É necessário superar, desaprender e aprender com experiências que se complexificam e tendem a perder a mística, práticas e valores solidários. É fundamental transmitir saberes e experiências e estabelecer instâncias e processos que visibilizem e contribuam para construir mecanismos e fundos econômicos de segundo plano para que as finanças solidárias contribuam para o desenvolvimento e o fortalecimento da economia solidária.

Outro aspecto importante debatido na o V Encontro de RIPESS LAC foi a defesa dos territórios para assegurar a soberania dos recursos naturais e o respeito às culturas locais e regionais. Porém, é de suma importância que se identifiquem e fortaleçam as redes de cooperação solidária para divulgar os métodos, saberes e experiências que são implementadas para a consecução do desenvolvimento local através da economia solidária. Na medida em que se fortaleçam tais iniciativas nos diferentes territórios, garante-se que nas políticas públicas e ações governamentais se reconheçam como interlocutores válidos líderes que surgem de processo transparentes, participativos e democráticos, nos quais a legitimidade e o poder político são locais.

Agradecemos às entidades públicas, as agências de cooperação, as redes e organizações da economia solidária que contribuíram, patrocinaram e fizeram possível o processo e a realização do V Encontro e convocamos a participar do Encontro Continental Globalizando a Solidariedade que convoca RIPESS Intercontinental de 14 a 17 de outubro de 2013. Convidamos as redes de economia solidária e comércio justo e os movimentos sociais da região para participar do VI Encontro Latino-americano e Caribenho de Economia Solidária e Comércio Justo que acontecerá na América Central no ano 2014.