Por nanda barreto, especial para o Fórum Brasileiro de Economia Solidária no Dia da Economia Solidária

Fonte: http://transitivaedireta.blogspot.com, em 15/12/2011

Com grandes desafios pela frente, temos muito o que comemorar neste Dia Nacional da Economia Solidária! O movimento está cada vez mais fortalecido e conquista novas adesões todos os dias. Exemplo disso é o crescimento da Cirandas.net – a rede social e econômica da economia solidária na internet, que atingiu o marco de cinco mil integrantes na última semana. Criada em 2009, a rede favorece a integração de ativistas por todo o país, além de oferecer uma ampla “vitrine digital” para a exposição de produtos e serviços de empreendimentos econômicos solidários.

A curiosidade de descobrir quem realizou o cadastro de número 5.000 na Cirandas.net levou o Fórum Brasileiro de Economia Solidária a uma grata surpresa: trata-se de uma comunicadora, ativista pelos direitos humanos, que diariamente aplica sua capacidade produtiva na construção de um mundo melhor. Gizele Martins é estudante de jornalismo e mora na favela da Maré, no Rio, onde é repórter e editora do jornal local “O Cidadão”, colabora com diversos meios de comunicação e atua no grupo Roça Rio, que revende produtos naturais e orgânicos na comunidade a um preço justo.

Cada vez mais integrada ao movimento de economia solidária, Gizele afirma que está adorando conhecer de perto esta forma de organização que propõe um novo modelo de produção, centrado em valores como a justiça, a colaboração e o respeito ao ser humano e à natureza. “Já tinha ouvido falar bastante do Cirandas.net. Mas foi na última terça-feira, que um amigo me convidou para participar. Entrei e agora vou criar comunidades de todos os meios, grupos que participo”, conta a jovem comunicadora. “As experiências que estou conhecendo vão nos ajudar no dia a dia aqui na Maré. Não só na loja Roça Rio, mas também na comunicação comunitária. Afinal, estes dois temas têm tudo a ver”, acredita.

Aliás, na avaliação de Gizele, a aliança entre economia solidária e comunicação popular deve ser compreendida como uma estratégia para o desenvolvimento de comunidades. “A economia solidária pode ser uma ótima forma de sustentabilidade também para os veículos de comunicação comunitária, já que as dificuldades para manter qualquer meio comunitário são grandes. Ter um local [na internet] que reúna as mais variadas experiências de economia solidária ajuda ainda mais a fortalecer esta prática que cresce cada dia mais. Além de se tornar referência não só para quem faz, mas para quem quer ver de perto, conhecer esta prática que só cresce dia a dia”, ressalta.

Leia, a seguir, um pouco mais sobre a nossa integrante “5 mil” – uma cirandeira cinco estrelas *****.

Quem é Gizele Martins?

Posso dizer que sou uma grande sonhadora. Sonho com um mundo mais solidário, amigo, humano, justo. Sem diferenças sociais, sem diferenças entre raças, ou qualquer outra divisão que faça o ser humano sofrer, se esconder, ter vergonha do que é ou do lugar que nasceu. E para realizar este tão grande sonho, pratico dia a dia a comunicação comunitária. Comunicação esta que é feita unicamente para a defesa e garantia dos direitos humanos, da valorização da cultura e da identidade local de cada cidadão.

É por este motivo que estou me formando em jornalismo. A ideia foi buscar a técnica para melhorar ainda mais aquilo que já fazíamos ali no O Cidadão, jornal comunitário que circula há 12 anos na favela da Maré. E com esta mistura da técnica e da prática comunitário o objetivo é andar de favela em favela compartilhando aquilo que aprendi, mais que isto, aprendendo e trocando com todas e todos os outros companheiros que fazem acontecer a comunicação comunitária, colaborativa, real, solidária, humana e justa.

Colaboro também em outros meios de comunicação comunitária e alternativa do Rio. Além disso, há um ano, três amigos, também moradores da Maré, me chamaram para criar algo, numa reunião ao ar livre, resolvemos criar a Roça Rio. A Roça é uma cooperativa que revende produtos naturais e orgânicos na favela. O maior questionamento de todos nós que moramos na favela, ou que temos pouca grana, é que estes produtos naturais não são vendidos em um valor tão acessível para nós. A Roça nasce dessa ideia, de repassar estes produtos naturais e orgânicos da forma mais acessível possível para um grande público. Além deste objetivo, de vender, de fazer com que os moradores conheçam produtos naturais e saudáveis, o objetivo também é o de aprender na prática o que é a economia solidária.

Qual seu interesse e relação com a economia solidária?

O maior interesse na economia solidária é porque ela tem como conceito o trabalho coletivo, a autogestão, além da grande responsabilidade de fazer acontecer, já que é sustentável. O mais interessante é que a economia solidária não é um projeto pronto, uma receita de bolo, ela pode e deve ser adequada de acordo com o meio onde se pratica. Mais que isto, ela deve ser feita junto com o público que vai ser atendido. Ou seja, ela não é feita para o povo, ela é construída junto com o povo.

O que você pensa sobre o uso da internet como ferramenta de comunicação e mobilização social?

Temos que nos apropriar cada dia mais de todas as formas de se fazer comunicação. Os movimentos sociais necessitam criar suas ferramentas para se fortalecerem, e uma delas é, sem dúvida, a comunicação. Sendo a internet o meio mais rápido que uma notícia, um artigo, uma foto, uma denúncia pode chegar até o outro. É fato que a maioria da população ainda não está ligada na net, falta grana para comprar computador, a internet, as empresas de telefonias ainda são bem caras, mas este é um espaço que também está sendo ocupado cada dia mais. E é necessário se inserir neste espaço. Precisamos fazer com que a nossa voz se torne referência.

E um site como o Cirandas.net, um blog, uma mídia social, pode se tornar referência de informação para muitos que não conhecem o nosso discurso, que não conhecem a nossa prática, que apenas nos conhecem pelo discurso midiático global. Já sabemos que estes grandes meios de comunicação não nos servem, eles não são feitos para servir ao povo. Povo este que pensa, que cria, que inventa formas alternativas e saudáveis de se viver, assim como a economia solidária e a comunicação comunitária é feita pelo Brasil e mundo. Vamos ocupar as redes sociais, a internet, vamos nos conhecer, divulgar nossas experiências, vamos nos fortalecer, fazer crescer a nossa rede solidária que sonha um mundo mais justo!