Fonte: Rosa Santa Isabel (rosa.roldan@yahoo.com.br)

Incentivados e apoiados por uma professora das ciências sociais, os estudantes Kaiowá escreveram uma carta em repúdio ao homicídio do cacique Nísio. Estamos coletando assinaturas de apoio à carta dos estudantes e entregaremos às autoridade e Secretaria de Direitos Humanos no dia 1º de dezembro.

As assinaturas podem ser postadas diretamente no blog www.direitoshumanosmt.blogspot.com/2011/11/massacre-de-indios-em-acampamento-em.html ou enviadas para o Fórum de Direitos Humanos e da Terra de Mato Grosso através do e-mail direitoshumanosmt@gmail.com ou ainda para michelesato@gmail.com

CARTA dos Estudantes Guarani e Kaiowá

Por volta das seis horas chegaram os pistoleiros. Os homens entraram em fila já chamando pelo Nísio. Eles falavam segura o Nísio, segura o Nísio. Quando Nísio é visto, recebe o primeiro tiro na garganta e com isso seu corpo começou tremer. Em seguida levou mais um tiro no peito e na perna. O neto pequeno de Nísio viu o avô no chão e correu para agarrar o avô. Com isso um pistoleiro veio e começou a bater no rosto de Nísio com a arma. Mais duas pessoas foram assassinadas.

Alguns outros receberam tiros mas sobreviveram. Atiraram com balas de borracha também. As pessoas gritavam e corriam de um lado para o outro tentando fugir e se esconder no mato. As pessoas se jogavam de um barranco que tem no acampamento. Um rapaz que foi atingido por um tiro de borracha se jogou no barranco e quebrou a perna. Ele não conseguiu fugir junto com os outros então tiveram que esconder ele embaixo de galhos de árvore para que ele não fosse morto.

Outro rapaz se escondeu em cima de uma árvore e foi ele que me ligou para me contar o que tinha acontecido. Ele contou logo em seguida. Ele ligou chorando muito. Ele contou que chutaram o corpo de Nísio para ver se ele estava morto e ainda deram mais um tiro para garantir que a liderança estava morta. Ergueram o corpo dele e jogaram na caçamba da caminhonete levando o corpo dele embora.

Nós estamos aqui reunidos para pedir união e justiça neste momento.

Afinal, o que é o índio para a sociedade brasileira?

Vemos hoje os direitos humanos, a defesa do meio ambiente, dos animais. Mas e as populações indígenas, como vem sendo tratadas?

As pessoas que fizeram isso conhecem as leis, sabem de direitos, sabem como deve ser feita a demarcação da terra indígena, sabem que isso é feito na justiça. Então porque eles fazem isso? Eles estão acima da lei?

O estado do Mato Grosso do Sul é um dos últimos estados do Brasil mas é o primeiro em violência contra os povos indígenas. É o estado que mais mata a população indígena. Parece que o nazismo está presente aqui. Parece que o Mato Grosso do Sul se tornou um campo de fuzilamento dos povos indígenas. Prova disso é a execução do Nísio. Quando não matam assim matam por atropelamento. Nós podemos dizer que o estado, os políticos e a sociedade são cúmplices dessa violência quando eles não falam nada, quando não fazem nada para isso mudar. Os índios se tornaram os novos judeus.

E onde estão nossos direitos, os direitos humanos, a própria constituição? E nós estamos aí sujeito a essa violência. Os índios vivem com medo, medo de morrer. Mas isso não aquieta a luta pela demarcação das terras indígenas. Porque Ñandejara está do lado do bom e com certeza quem faz a justiça final é ele. Se a justiça da terra não funcionar a justiça de deus vai funcionar.

Estudantes Guarani e Kaiowá dos cursos de ciências sociais e história e moradores da aldeia de Amambaí.

APOIAM ESTA CARTA DOS ESTUDANTES INDÍGENAS, AS ENTIDADES:

1. Fórum de Direitos Humanos e da Terra de Mato Grosso, FDHT-MT

2. Associação Brasileira de Homeopatia Popular, ABHP

3. Associação Rondopolitana de Proteção Ambiental, ARPA

4. Associação Verde Vida – São Paulo – SP

5. Centro Burnier Fé e Justiça, CBFJ

6. Centro de Direitos Humanos João Bosco Burnier, Várzea Grande-MT

7. Coletivo Jovem de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul

8. Comissão do Povo Chiquitano de Cáceres

9. Comissão Pastoral da Terra, MT

10. Conselho Indigenista Missionário, CIMI-MT

11. Escritório de Direitos Humanos da Prelazia de São Félix do Araguaia, MT

12. FASE regional MT

13. Fórum de Direitos Humanos e da Terra de Mato Grosso, FDHT-MT

14. Fórum de Lutas das Entidades de Cáceres – FLEC

15. Fórum Mato-Grossense de Meio Ambiente e Desenvolvimento, FORMAD

16. Grupo Cultural e Ambiental Raízes

17. Grupo de Pesquisa de Movimentos Sociais e Educação, GPMSE-UFMT

18. Grupo de Pesquisa Processos Político Sociais e Exclusão (USP)

19. Grupo de trabalho de Ecopedagogia da Feusp, Gruteusp

20. Grupo de Trabalho de Mobilização Social, GTMS-MT

21. Grupo Maricá – Viamão – RS

22. Grupo Pesquisador em Educação Ambiental, Comunicação e Arte, GPEA-UFMT

23. Instituto Caracol, iC

24. Mandato Coletivo

25. Movimento Ecológico, Movieco – Barueri – SP

26. Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, MST-MT

27. Rede Axe Dudu, MT

28. Rede de Comunidades Tradicionais Pantaneira

29. Rede Mato-Grossense de Educação Ambiental, REMTEA

30. Sociedade Fé e Vida

E AS PESSOAS FÍSICAS:

1. Atila Calvente, RJ

2. Celso Sanchez, RJ

3. Edna Ferreira Costa do Sim, Ribeirão Preto, SP

4. Eliana de Faro Valença, SP

5. Elizabeth North

6. Fernanda Domingos da Silva, MT

7. Flávio Boleiz Júnior – Professor Universitário – S. Paulo

8. Guilherme Loyolla Rodrigues Machado, PR

9. Guilherme Tomishiyo Teixeira de Sousa, Estudante de Física – UFSCar SP

10. Jorge Amaro de Souza Borges

11. Liana Márcia Justen, PR

12. Luigi Teixeira de Sousa, MT

13. Luís Manuel Costa Moreno, professor da Universidade de Lisboa, Portugal

14. Maria Aparecida Rezende, MT

15. Maria José Souza Moraes, MT

16. Merel van der Mark, Holanda

17. Michèle Sato, MT

18. Michelle Jaber, MT

19. Roberto Tadeu Vaz Curvo – Defensor Público Interamericano/Br

20. Sucena Shkrada Resk, RJ

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