Por Secretaria Executiva do FBES

O debate sobre a organização do movimento de economia solidária ocorreu ontem (19) na Escola Nacional Florestan Fernandes, aonde ocorre o terceiro dia da Oficina Nacional de Formação Política. Foi um momento importante para trazer os principais acúmulos, bandeiras e eixos de ação, além da compreensão da estrutura e organização nacional do FBES. A apresentação foi feita por Tiana Almire, da coordenação executiva do FBES, com base no documento final da IV Plenária.

As reflexões levaram a perceber as forças e fraquezas, a entender e compreender melhor os princípios e deliberações como elementos para fortalecer o trabalho nas bases.

Além disso, o terceiro dia da Oficina contou com o debate sobre as práticas da economia solidária no mundo, em especial na Colombia e no Equador, e na visibilização de um mapa global da economia solidária no mundo.

Nos debates da manhã sobre a organização do movimento no Brasil, foram levantados importantes elementos, como por exemplo:

* Perceber que o FBES existe para fortalecer o movimento com organicidade e fazer a luta e a incidência política, sendo que o objetivo de fortalecer as bases é para fazer a luta política pelo projeto de desenvolvimento.

* Ter claro sobre o papel dos gestores nos fóruns, segundo a definição da IV Plenária, o gestor no FBES é o representante do movimento no estado, e não o contrário.

* O que deve orientar os fóruns locais é a carta de princípios do movimento e as deliberações em Plenária, as quais precisam ser apropriadas pela nossa base, tendo em vista também o respeito ao modo como cada fórun se constrõe.

Outro tema debatido foram aos conflitos internos, aspecto evidenciado na reflexão das experiências dos educadores, Luigi Verardo da Anteag colocou que “Nós escolhemos a política e não as pessoas, as pessoas são para executar as coisas. Se temos alguns problemas temos que qualificar as pessoas. Isso porque o FBES tem um caráter de representação que cria disputa e nós queremos uma estrutura horizontal, em rede, em centrais, que nos permitem trabalhar melhor a questão da horizontalidade. Precisamos romper as verticalidades, as representações que vem para o FBES tem que estar em processos horizontais. Temos que aceitar a disputa com mecanismos que preservem a ética, o respeito, a solidariedade e a representação das bases”. Também foi pontuado que devemos buscar que nossas coordenações não acumulem cargos de representação, para haver um processo saudável de renovação.

Neste aspecto, foi problematizada a questão sobre o papel do educador frente aos desafios da organicidade do movimento de economia solidária. Foram destacados a necessidade do educador trabalhar diante das contradições, evidenciar e trabalhar com os elementos de contradição colocados pela prática. Também foi pontuado o compromisso dos educadores para a apropriação pela base sobre os acúmulos e informações do movimento de economia solidária, bem como trabalhar para a criação de instrumentos pedagógico e educativo que facilitem os processos desta construção, por exemplo para mobilizações, para levantamento de dados e conhecimento mútuo.

quem fala esquece

quem mostra se lembra

quem faz aprende

Na parte da tarde, foi socializado duas experiências da economia solidária: na Colômbia por Tatiana Castilla e no Equador por Sandra Lopez. No Equador a experiência vista mostrou toda uma comunidade construída por mutirão, em cima de um antigo lixão, num processo inicado há 20 anos, sem qualquer apoio externo e com base na luta e na construção coletiva.

Nesta construção, Sandra colocou que “a cooperação depende do cultivo dos valores, é a nossa força social. Os outros é quem tem medo da gente, negociamos de igual a igual”, dentro deste processo há também conflitos e contradições, que são tratados na cultura do diálogo, com um mediador para os conflitos.

Sobre a relação com o estado, o Equador tem uma constituição avançada que coloca a economia como social e solidária, estando em debate a lei da economia solidária. Embora o governo coloque a proposta da revolução cidadã, segundo Sandra, a consolidação disso depende da cidadania, das pessoas assumirem uma postura e responsabilidade, somando-se a um trabalho de mudança de sociedade. “Não sou cooperativista por ser pobre, mas por ser solidário”, colocou Sandra.

Ademar Bertucci, representante da Cáritas na Coordenação Executiva do FBES complementou com as reflexões colocando que “só a lei e os direitos não fazem as transformações necessárias, não basta título de eleitor, é preciso a atuação das bases, a radicalização da democracia, a autogestão na organização da soceidade como um todo”.

No Equador há também um movimento nacional organizado, o MESS – movimento da economia social e solidária, para articular uma rede latinoamericana de economia solidária.

Já sobre a economia solidária na Colombia, Tatiana Castilla apresentou um contexto das práticas solidárias e dos movimentos sociais, suas expressões e a lei nacional, que inclusive foi a primeira lei da economia solidária na América Latina.

A caracterização da economia solidária colombiana está muito relacionada a sua forma legislativa, nas cooperativas, associações e fundações. Foi apresentada a experiência com comércio justo e solidário da Mambe.shop. Por fim, foram apresentados os limites e desafios destas práticas, visibiliando que ainda não há uma identidade e um movimento nacional organizado na Colômbia.

Conhecer a experiência de outros países trouxe importantes reflexões sobre as práticas e as identidades no Brasil e na nossa relação com a aliança latinoamericana e mundial para uma proposta de sociedade justa, sustentavel e solidária, ou seja, nos somando para uma emancipação da américa latina e global.

Avançando sobre o debate mundial da economia solidária, Daniel Tygel em teleconferência, apresentou o mapa da economia solidária no mundo, o ESS Global, que identifica e visibiliza as diferentes formas de organização, experiências e características da economia social e solidária em diversos países. O mapa foi apresentado no Fórum Intercontinental de Economia Social e Solidária (FIESS) que ocorre nesta semana em Montréal, no Canadá.

Segundo Daniel “há conceitos e metodologias diferenciadas do que se considera a economia solidária no mundo, é fundamental que as experiências sejam compartilhadas, nós no Brasil temos a informação pelo farejador da economia solidária, mas mais complexo ainda é um mapa global. Dentro disso o desafio é ter categorizações mundiais, o que não requer que todos os países assumam para si as mesmas categorias”.

Uma das dimensões caracterizadas é a autogestão, embora não assumida por todos os países, bem como as dimensões do aspecto comunitário, da melhoria da qualidade de vida, da questão ambiental, da segurança alimentar e nutricional, entre outros. O destaque para a questão pedagógica do instrumento é que possibilite fazer uma animação com o mapa e o debate político sobre a economia solidária no mundo, percebendo semelhanças e diferenças.

Daniel aproveitou também para transmitir um pouco do que está ocorrendo no FIESS, que conta com a participação de cerca de 1300 pessoas de 67 países, permitindo uma ampla impressão da economia solidária no mundo, em específico sobre o tema das políticas públicas.

Segundo Daniel “a crise é uma questão forte na região e nos debates daqui, sendo que a economia solidária aparece como uma perspectiva para a transformação da economia, do modelo de desenvolvimento, aonde a economia possa estar nas mãos dos 99% da população e não o contrário. Está sendo um momento histórico e político o que está ocorrendo, e o Brasil é uma referência mundial da economia solidária”. Durante o evento os participantes fizeram um ato político com o movimento dos indignados de montreal, contado com uma fala da ministra do Equador.