Por Tatiana Félix*
Os Fundos Solidários, organizados para financiar produções associativas e comunitárias, surgiram para que comunidades ou grupos carentes pudessem se fortalecer e alcançar o desenvolvimento sustentável. Surgidos no início da década de 80, essas experiências logo se consolidaram pelo Brasil.
De acordo com Jaime Conrado, assessor da Cáritas, os Fundos Solidários surgiram como uma alternativa para solucionar a seca que castigava a região Nordeste, mas foi no Sul do Brasil que surgiram as “melhores e bem organizadas iniciativas”. Segundo ele, foi no estado do Paraná que o cooperativismo de Crédito nasceu forte a partir da experiência dos Fundos Solidários, e foi no Rio Grande do Sul o local onde ele afirma ter nascido a Economia Popular Solidária, também a partir dos Fundos Solidários.
Ele disse que foi através das experiências do Rio Grande do Sul, onde os Fundos Solidários (FS) são mais fortes, que foi possível perceber e avaliar a autossustentação dos grupos produtivos. “Percebemos [no RS] que os grupos apoiados pelos FS, depois de seis anos, mais de 80% sobrevivem, enquanto que os micro-empreendimentos do Sebrae depois de dois anos, 80% faliram”, informou Jaime.
Segundo o assessor da Cáritas, “a partir da aceitação da metodologia do Fundo Solidário, a comunidade passa a administrar seus recursos de forma coletiva, (gestão participativa) e se fortalece, pois, além do apoio financeiro recebem também formação e capacitação nas mais variadas áreas que a comunidade ou os grupos trabalham”.
Como exemplos de organizações solidárias no Nordeste do país, Jaime citou o estado da Paraíba, com suas diversas redes territoriais organizadas que utilizam esse método para promover o desenvolvimento local. No Maranhão, a Rede Mandioca é um exemplo de organização comunitária que já se refletiu por quase todo o estado, beneficiando 10 mil famílias. Já no Ceará, a Rede Bodegas, assessorada pela Cáritas, mescla em quatro núcleos de comercialização, produtos oriundos dos grupos rurais e urbanos.
Exemplos de Fundos Solidários na área rural são as cisternas de placas, para armazenar águas, banco de sementes, construções de casas de farinhas, apoio para agricultura, através da roças comunitárias e apoio na criação de animais. Já na zona urbana, diversas iniciativas envolvendo alimentação, artesanato, vestuário, bebidas e produtos da agricultura figuram nas práticas dos Fundos Solidários.
O público são associações, cooperativas, grupos produtivos formais e informais, composto na maioria das vezes por mulheres, mas que contam também com a presença de jovens e dos homens.
Jaime ressaltou que atualmente o Banco do Nordeste (BNB) em parceria com a Secretaria Nacional de Economia Solidária (SENAES) e apoio de várias Redes Solidárias, vem apoiando mais de 50 projetos de Fundos Solidários pelo país.
Afirmou ainda que a Pastoral da Criança movimentou entre os anos de 1987 a 2006, cerca de 15.000 famílias com experiências nos Fundos Solidários. A Fundação Grupo Esquel Brasil e a Pastoral da Criança entre o período de 2003 a 2008 apoiaram juntas 430 empreendimentos solidários com participação de 2.100 famílias. E a SENAES, BNB e Ministério do Trabalho e Emprego apoiaram outras 50 experiências de fundos solidários com aproximadamente quatro mil famílias.
Jaime explicou que é possível estimar três dimensões dos empreendimentos econômicos solidários que utilizam metodologias de Fundos Solidários. A primeira, segundo ele, conta com mais de 3.200 organizações, a segunda com 924 e a terceira com 462 empreendimentos, mas muitas experiências ainda não estão cadastradas pelo governo.
“Com o Projeto Nacional de Fundos para todas as regiões brasileiras, pretendemos ampliar os números. Iremos realizar um mapeamento das experiências em todo Brasil e temos como meta 300 experiências mapeadas”, disse.
*Jornalista da Adital