Fonte: http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=926908
Não faz nem três semanas que o Dendê Sol começou a circular entre os moradores do bairro Edson Queiroz. Ainda nem é recebido por grande parte dos estabelecimentos da região. As exceções são a farmácia e o açougue, e um ou outro comércio. Mas a mais nova moeda social de Fortaleza já traz muitas expectativas de melhoria para a vida da população.
Hoje, 25 mulheres que integram a Associação de Mulheres Dendê Sol irão favorecer a realização da primeira operação de crédito da instituição. Elas vão contrair um empréstimo no valor total de R$ 15 mil com o intuito de fortalecer as atividades da entidade, voltadas ao desenvolvimento local e sustentável.
“Esse dinheiro é para que as mulheres possam fazer seus trabalhos, como realizar a feira aos sábados, para venda de comidas típicas; bijuterias; e também para oferecer diversão às crianças, com a construção de um parque infantil. O empréstimo também servirá para investir na produção realizada por elas, como de confecção”, explica a presidente da Associação, Cilene Sousa da Silva.
Com o apoio do Banco Palmas para a implantação, importante aliado na divulgação e perpetuação das experiências comunitárias no Estado e no País, o Dendê Sol fornecerá aos moradores do Edson Queiroz crédito para o consumo em moeda social, crédito produtivo para grupos solidário, crédito simplificado para inclusão produtiva e correspondente bancário para pagamento e recebimentos diversos, através da Caixa.
A parceria com essas instituições públicas, aliás, facilita a rotina da população, já que não têm de se dirigir a bancos localizados em outras áreas da cidade. Contribui inclusive para trazer conforto a moradores de outras localidades. Em Missi, distrito de Irauçuba, onde circula o TA, o cidadão que quisesse pagar uma conta de cartão ou um boleto de luz tinha que percorrer um caminho de 15 quilômetros até o banco mais próximo.
Não mais, com o advento das instituições comunitárias e o diálogo com as financeiras tradicionais. “A gente acredita que uma nova economia é possível. Que para ter qualidade de vida, não é preciso ser só empregado. Você também pode ser o empresário e fazer seu horário de trabalho. O banco, que foi uma luta muito grande para ser estabelecido, possibilita isso”, orgulha-se a presidente da associação de mulheres do bairro.
A economia solidária, estimulada por esses bancos, vai de encontro às difíceis realidades comuns a quem está de fora. Como explica o professor Jeová Torres, da UFC, a própria ideia de inadimplência é revista a partir do advento das instituições sociais. “É muito comum ocorrer situações em que as pessoas deixam de pagar um empréstimo porque foram acometidas por uma tragédia, e o banco perdoa a dívida. Aquele débito é congelado para que a pessoa possa pedir novamente e tenha recurso para começar de novo, produzir e pagar”, exemplifica.
O compromisso da população com as melhorias trazidas às comunidades pelos bancos comunitários, que no País já totalizam 55 instituições, é responsável por manter a inadimplência em níveis impressionantemente baixos, de no máximo 2%. “A inadimplência ocorre, muitas vezes, por conta dos juros que são exorbitantes. A pessoa pega o empréstimo e fica sem condições de pagar”, alerta Jeová Torres.
Mesmo com argumentos tão positivos e o otimismo dos moradores do Edson Queiroz, Cilene Sousa e todos que ajudaram a construir o Banco Dendê Sol estão conscientes de que devem dar um passo de cada vez. “A gente está entrando com o pé no freio, para não soltar e perder o controle”, diz.(DB)
Empréstimo
25 membros da Associação de Mulheres Dendê Sol farão hoje a primeira operação de crédito da instituição. Elas vão contrair um empréstimo de R$ 15 mil para ser aplicado na entidade
Produto
Microsseguro chega à baixa renda
Com o pagamento de pequenas quantias anuais, população de baixa renda consegue acessar seguros
Já se foi o tempo em que seguro de vida era coisa de gente mais abastada, preocupada com a segurança financeira da família em caso de sinistro. A população mais carente, através dos bancos comunitários, está aderindo ao microsseguro, modalidade em que o beneficiado paga apenas R$ 35 anuais e tem direito a funeral em caso de morte de algum parente em primeiro grau, como mãe, pai ou filhos; indenização de R$ 3 mil na morte do titular; e ainda a participar de sorteio pela loteria no valor de R$ 5 mil.
No Banco Palmas, a ideia começou em outubro do ano passado e já vendeu cerca de 320 apólices, até o momento. “Se a família tiver dificuldade de pagar, a gente ainda pode parcelar e ela vai pagar apenas R$ 3,50 por mês”, tranquiliza o coordenador geral do Banco Palmas, Joaquim Melo.
No Banco Paju, o microsseguro foi lançado depois, em dezembro último, mas já realizou 100 contratos. “Tem sido bem aceito. Queremos quebrar o paradigma de que seguro é só para a classe média e alta, mas ainda estamos experimentando”, informou o coordenador da instituição, Francisco Eudásio Alves.
O Banco Palmas recebeu a visita do consultor espanhol Ignasi Camí, ex-presidente de uma seguradora espanholas e com larga experiência nesse segmento. Ele foi conhecer o projeto de microsseguro realizado no Conjunto Palmeiras, parceria entre o Instituto Banco Palmas e a Zurich, multinacional de origem suíça e um dos maiores grupos seguradores do mundo.
Até o momento, seis bancos comunitários do Ceará têm o microsseguro como um dos produtos de suas carteiras.(DB)