De:Cimi – Assessoria de Imprensa

Esse foi o tema do segundo dia do III Seminário Nacional de Formação do Cimi. Evento acontece no Centro de Formação Vicente Cañas, em Luziânia, até dia 25

Nesta terça-feira (23), durante o III Seminário Nacional de Formação do Cimi, o economista e professor Pablo Dávalos, da Universidade Católica do Equador, falou sobre a ruptura radical que consiste o Bem Viver, frente a uma sociedade capitalista de processos de acumulação violentos. Pablo ressaltou a importância de se construir marcos conceituais para criar alternativas ao capitalismo e suas práticas. “O liberalismo não compreende o bem viver. O marxismo também é insuficiente para entender este conceito”, afirmou. Assim, de acordo com o professor, a luta deve ser prática e teórica, criando novos conceitos, referenciais.

E o conceito de bem viver não é sociológico, e sim político. “É uma ruptura radical ao capitalismo, porque diz não à mercantilização da natureza e do ser humano”, destacou. Trazendo para uma leitura cotidiana, Dávalos mostrou que os atuais governos chamados progressistas, na América Latina, são ameaças aos povos, porque o processo de acumulação violenta continua e despoja toda a população de sua cultura, seus territórios. E o professor foi enfático. “Tudo isso acontece com o nosso consentimento, pois há uma espécie de disciplina social! A esse novo sistema eu chamo de pós-neoliberalismo”. Dávalos comparou o neoliberalismo com o pós-neoliberalismo, afirmando que no primeiro, há privatização e acumulação monetária. No segundo, há uma sede em tomar os territórios, a soberania das populações e seu meio ambiente.

Na América Latina, o que acontece atualmente, de acordo com Dávalos, é a criminalização de quem defende sua terra, seu espaço. A situação se repete em vários países, como México, Equador, Bolívia, Guatemala e Brasil. Mas tal processo só é possível devido à segurança jurídica que os investidores capitalistas têm, o que significa criminalização de movimentos sociais.

Ética e capitalismo

Durante sua palestra, Pablo Dávalos também mostrou que há uma grande contradição entre ética e capitalismo, pois o primeiro implica retirar o máximo de vantagens e lucros de tudo que é possível. “Ao capitalismo só interessa os indivíduos egoístas, que só pensam em si mesmo. O conceito de liberdade é individual: somos livres enquanto o resto da sociedade é escrava. Não existe ética nisso”, afirmou. Dávalos destacou que o conceito de Bem Viver não acredita em liberdade individualista. “Ele rompe com esse egoísmo!”.

No pós-neoliberalismo citado por Pablo, a natureza está fora da sociedade. Ele destrói as condições de vida humana. O bem viver implica romper com esse pensamento e retornar à natureza e com esse desenvolvimento posto pelo capital. “Não podemos ser desenvolvidos se existe tanta pobreza e desigualdade, isso não é desenvolvimento!”, declarou.

Economia e sociedade

O professor também ressaltou que atualmente a economia está separada da sociedade. “Não há democracia na economia. O bem viver quer que a economia retorne à sociedade, pois é preciso superar esse mercantilismo”, disse. Para ele, o bem viver quer devolver à sociedade a sua própria reprodução social.

Pablo finalizou sua fala com um convite à resistência. “Temos que nos dar as mãos e resistir, estamos todos na mesma luta e o bem viver deve ser para todos!”.

No final da manhã, os participantes se dividiram em grupos para identificar as formas de colonização política, cultural, econômica, religiosa que nos atinge e para pensar em como divulgar uma proposta do bem viver para que surja uma mobilização popular.

No período da tarde, o seminário continua com a mesa “Mudanças Climáticas e Justiça Ambiental, com Luiz Zarref da Via Campesina. Logo após, tem início a mesa “Grandes Projetos: hidro e agronegócio”, com o cacique Neguinho Truká e Tatiane Bezerra, do Movimento dos Atingidos por Barragens.