Fonte: Diario de Pernambuco

Você sabe o que quer dizer economia solidária? Não? Pois fique ligado, porque este assunto será muito comentado nos próximos anos. De maneira resumida, a economia solidária é movimento que contrapõe os princípios de produção, comercialização e distribuição de riquezas inerentes ao sistema capitalista, buscando relações sócioambientais contrárias às desigualdades sociais e aos desequilíbrios ecológicos.

“Nossa rede tem assessoria técnica que capacita as integrantes para a autogestão”, informa Cristina Souza.

Em Pernambuco, o número de pessoas trabalhando com este modelo é crescente e já existe até um conselho estadual específico para o assunto. E, dentre os grupos locais que trabalham baseados no conceito, pode-se destacar as Redes de Mulheres Produtoras do Recife e Região Metropolitana e a do Pajeú. Juntas, as duas redes reúnem um total de quase 600 mulheres que produzem todo tipo de artesanato, roupas e alimentos agroecológicos. O dinheiro movimentado por estas atividades chega a R$ 80 mil anuais.

“É um trabalho de formiguinha. Nossa rede tem assessoria técnica da Casa de Mulheres do Nordeste (CMN) que capacita as integrantes para a autogestão, a cooperação e a sustentabilidade. Não é fácil, porque nadamos contra a corrente do capitalismo. Reunimos mulheres que conseguem, por exemplo, reutilizar restos de tecido, reciclar material e encontrar novos usos para o lixo cotidiano”, explicou Cristina Souza, coordenadora das Redes de Mulheres Produtoras do Nordeste e do Recife . Ela e outras 69 mulheres de áreas rurais e urbanas de todo o país, estão reunidas desde a última terça-feira no Seminário Nacional Feminismo, Economia Popular Solidária e Agroecologia, que termina hoje, no Hotel Sete Colinas, em Olinda.

A Rede do Sertão do Pajeú, foi representada por Francineide de Melo Menezes, uma das coordenadoras do grupo. Com cerca de 470 integrantes, a rede vem obtendo sucesso com o fundo rotativo e a prática da agroecologia. “Nós começamos o fundo, que é semelhante a um crédito bancário, com uma verba do Banco do Nordeste. Depois, fomos captando fundos de outros projetos e ensinando as mulheres do Sertão a retirar os empréstimos. O povo do Interior tem muito receio em pegar dinheiro no banco. Com o fundo, nós mesmas aprovamos os negócios e verificamos se a agricultora conseguirá quitar os valores das parcelas. É um contato direto entre quem precisa e quem quer incentivar a produção”, revelou. Já no quesito agroecologia, as mulheres recebem, também através da CMN, assessoria técnica para um tipo de plantio que restaure a fertilidade do solo sem o uso de fertilizantes minerais e cultivo sem agrotóxicos.

Participam das mesas de diálogo Maria Emília Pacheco, da ONG Fase e da Articulação Nacional de Agroecologia /ANA, com o tema Agroecologia e Feminismo e Ana Dubeux – coordenadora do Centro de Formação em Economia Solidária Nordeste, organizado pela UFRPE. Segundo Ana Dubeux, Pernambuco tem processos avançados no campo da economia solidária, mas falta ao estado políticas públicas para incentivar as produtoras. “As redes locais não avançam porque falta incentivo. Se faz economia sem dinheiro, mas não se trabalha a economia solidária sem capacitação, logística e divulgação”.