Por ASCOM do FBES
“Levanta povo, olha o povo que começa a despertar. É a força e a beleza do projeto popular”. Canção embala centenas de militantes no encerramento do II Encontro Nacional da Assembléia Popular.
Dos dias 25 a 28 de maio, membros de várias organizações que compõem a AP se debruçaram no documento “O Brasil que queremos”, anteriormente trabalhado nas Assembléias Populares dos Estados, e finalmente sistematizado e referendado no Encontro Nacional. Ao final dos três dias, o documento final refletiu os consensos e dissensos tirados entre os membros da Assembléia Popular – AP sobre os desafios da implementação de um projeto popular no Brasil.
“O projeto popular precisa ser constantemente recriado”, lembrou Vanderlei Martini, do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra – MST de Minas Gerais.
O encontro foi marcado pelo relato dos grupos que trabalharam a partir das especificidades de cada região do país. Segundo a relatoria, o fortalecimento das APs Estaduais foi colocado como um fator importante para o acompanhamento daquilo que o grupo enxergou como as pautas mais urgentes dos estados. Entre os encaminhamentos finais está a realização de um curso nacional de formação dos militantes, a fim de aprofundar nos processos conjunturais brasileiros. “A organização popular não tem nenhum sentido se não tem formação política [dos militantes] e luta concreta, que deve ser realizada a partir dos processos locais. A luta é mais global quando é local”, explica Luiz Bassegio, da Coordenação Nacional da AP, em sua fala de encerramento realizada embaixo da sombra de uma grande mangueira.
De acordo ao documento final, é urgente que esta formação da militância esteja pensada a partir da questão ambiental e do projeto de desenvolvimento que se deseja para o país. Outro ponto importante é o estudo sobre o processo de formação do povo brasileiro. Segundo afirmou Bassegio, a formação deve considerar as experiências de cada local e que não deve focar só na teoria, deve ter diálogo entre prática e teoria. A formação da AP deve considerar que a formação popular é uma prática e não um conteúdo, e que os temas geradores devem nascer da base.
“Aqui estamos discutindo a formação dentro da AP e com o claro objetivo de construir o nosso projeto político, que é o que deve nortear os conteúdos dessa formação. Não é a formação do movimento, da pastoral ou do partido, é a formação da AP para a construção do nosso projeto. É esse o sentido desta formação, levando claro em consideração o método popular,” explicou Bassegio.
Um questão bastante discutida nos três dias do Encontro foi a luta pela democratização da comunicação, e durante a plenária final o tema foi tirado como bandeira de luta da AP nos Estados. Segundo a plenária, as APs Estaduais devem potencializar as experiências de comunicação já existente nos estados e municípios. De acordo com as discussões sobre o direito à comunicação realizada no eixo de direitos civis, a arte foi apontada como uma forma importante de resistência dos trabalhadores/trabalhadoras e parte fundamental do projeto popular. Neste sentido ficou como tarefa para AP Nacional, divulgar as diferentes experiências culturais que acontece no bojo das APs Estaduais. O objetivo desta divulgação é socializar as experiências e incentivar a comercialização alternativa e solidária das produções culturais, permitindo o enfrentamento às formas de produção capitalista da cultura de massa. Também foi levantado a possibilidade de se construir um grupo de trabalho específico para pensar na comunicação entre a AP e a sociedade.
A organicidade da AP também foi tocada como questão importante pelos membros da plenária final. Como forma de viabilizar o diálogo entre as APs estaduais, os membros levantaram a necessidade em haver reuniões periódicas destes atores estaduais. Para viabilizar esta organicidade, estabeleceu-se como necessidade a reformulação da composição dos membros da Coordenação Nacional. A proposta seria de uma nova formação que contemplasse a representação de um por Estado e um por região, além das representações dos movimentos e redes sociais.
O conteúdo documento final da AP será reformulado de maneira sintética pela AP Nacional e será divulgado à sociedade. As informações deverão ser disponibilizadas no site da Assembléia Popular. Acompanhe em www.assembleiapopular.org
Calendário
A mesa de encerramento lembrou aos militantes e representantes dos movimentos sociais presentes que é importante estar atento ao calendário de lutas, em âmbito nacional e internacional. Segue a agenda de lutas:
Agosto
10 a 15 – IV Forum Social das Américas em Asunción, Paraguay; 15 – Plenária da AP;
Setembro
7 de setembro – Grito dos Excluídos; 1 a 7 – Plebiscito do Limite da Propriedade da Terra;
Outubro
8 a 12 – Fórum Social das Migrações e Marcha dos Movimentos Sociais em Quito; 12 – Mobilizações Continentais do Grito dos Excluídos; 12 a 15 – Congresso da CLOC, em Quito;
Novembro
Fim do mês – Fórum Pan-amazônico;
Março 2011
Assembléia dos Movimentos Sociais da ALBA, em Foz do Iguaçu;
Histórico
Em outubro de 2005, cerca de oito mil pessoas de várias partes do país levaram para a I Assembleia Popular, realizada em Brasília, experiências de lutas e propostas de um novo Brasil. O resultado desse encontro foi a publicação do “O Brasil que queremos”, documento de orientação estratégica e de indicação dos caminhos que deveriam ser seguidos dali em diante para conquistar um novo país. Na época, os participantes que elaboraram o documento já sabiam que ele não era “um ponto final, algo que está pronto ou que não pode ser complementado”.