Fonte: Agência Brasil

Integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e da Via Campesina pregaram no gramado central da Esplanada dos Ministérios, 159 crucifixos para simbolizar o sofrimento e, em alguns casos, a morte em decorrência da exploração de trabalhadores em atividades semelhantes à escravidão.

A manifestação encerrou o 1º Encontro Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo. Os manifestantes escreveram nas cruzes os nomes de fazendeiros e empresários, que, segundo eles, utilizam-se do trabalho escravo em suas propriedades.

O encontro reuniu especialistas para discutir as alternativas de combate ao trabalho escravo no Brasil. O evento foi promovido pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, pela Comissão Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo (Conatrae) e pela Organização Internacional do Trabalho (OIT).

Segundo João Pedro Stédile, representante da Via Campesina, é preciso divulgar para o mundo que a produção dos canaviais brasileiros é fruto do uso de trabalho escravo. “O açúcar que os estrangeiros compram tem gosto de suor, de lágrimas e de sangue.”

O coordenador nacional do MST, José Batista de Oliveira, disse que os manifestantes foram ao Congresso Nacional para identificar os parlamentares que são omissos em relação ao trabalho escravo. “Passamos de gabinete em gabinete com um cartaz que dizia: ‘Quem não é a favor de acabar com o trabalho escravo se identifique’.”

No primeiro dia do evento, o senador José Nery (PSOL-PA) entregou ao presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer, um abaixo-assinado com 284 mil assinaturas pedindo a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição 438, que prevê a expropriação da terra onde for encontrado o uso de trabalho escravo e a destinação da propriedade para a reforma agrária.

O coordenador da organização não governamental (ONG) Repórter Brasil Leonardo Sakamoto acredita que a PEC será aprovada ainda este ano. “Vamos fazer pressão este ano para que a PEC seja logo aprovada”, disse. Segundo ele, os militantes que lutam contra o trabalho escravo vão elaborar uma carta, para ser divulgada antes das eleições, pedindo a cada um dos candidatos à Presidência que assumam o compromisso de lutar contra o trabalho escravo no país.

O senador José Nery e a presidente do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais do Trabalho (Sinait), Rosângela Rassy, entregaram à relatora especial das Nações Unidas (ONU) sobre Formas Contemporâneas de Escravidão, Gulnara Shahinian, a cópia de uma moção que foi encaminhada ao Superior Tribunal de Justiça (STJ). O documento pede rapidez no julgamento da Chacina de Unaí, ocorrida em 28 de janeiro de 2004, em que fiscais do trabalho foram assassinatos, no município mineiro, durante vistoria em uma propriedade rural suspeita do uso de trabalho escravo.