Fonte: Cáritas Brasileira

O Fórum das Pastorais Sociais realizou no período de 15 a 22 de março a Semana da Água 2010 no Piauí. O evento teve como objetivo a conscientização da população sobre a situação da água e importância dela para a Vida no planeta. E aproveitou para ampliar os debates sobre os efeitos do atual modelo econômico que tem desrespeitado a vida, no momento em que polui a terra, a água e o ar, mata animais, destrói floresta e descarta as pessoas.

Dentro da programação aconteceram eventos nos bairros que contou com a participação popular de comunidades afetadas com grandes problemas ambientais e sociais como inundações, secas e concentração de terras para o agronegócio. “Aconteceram reuniões de conscientização na Vila Cristalina, Comunidade São Joaquim, atos públicos e outros eventos no interior do Estado que chamaram a atenção para a questão da água”, afirma Hortência Mendes, secretária regional da Cáritas Piauí.

Segundo Hortência, foram discutidos os impactos sociais do Programa Lagoas do Norte em Teresina; a construção de 05 barragens ao longo do Rio Parnaíba; e a instalação do parque industrial da Suzano Celulose no município de Nazária.Todos esses pontos foram abordados durante o ato público na manhã desta segunda-feira, 22 de março – Dia Mundial da Água.

“Foi um momento de celebração e exaltação desse bem de todos que é a água, mas também um momento de denúncia, um ato de apelo à vida. Como diz o lema da semana: Salvar a Terra e a Água é salvar a Vida . Um protesto contra a inundação da biodiversidade das margens do Rio Parnaíba e desalojamento de 4 mil famílias. Um protesto contra a transformação de 160 mil hectares de terras agricultáveis em um imenso Deserto Verde com a plantação de eucalipto”, ressalta a secretária.

Sem participação

Durante a programação da Semana da Água 2010, os moradores do Bairro São Joaquim – zona Norte de Teresina – fizeram no dia 20 de março, um abraço da Lagoa da Gimborralia. A lagoa hoje serve de captação de esgotos das casas ao seu redor e se encontra sufocada por aguapés – resposta da natureza a tanta poluição.

Os moradores do bairro contam que assim que foi feita a ocupação na área a lagoa era muito limpinha e várias pessoas até tinham uma fonte de alimento e renda ao pescar os peixes da lagoa. “Mas hoje a lagoa só serve mesmo como escoamento de esgoto, pois a ocupação foi feita e nenhuma providência quanto ao esgotamento sanitário foi tomada pela prefeitura”, conta Maria Lúcia, moradora do bairro. Situação em que se encontra várias outras lagoas da região.

Como forma de revitalização dessas lagoas, a Prefeitura Municipal elaborou o projeto Lagoas do Norte que primeiramente teria o viés ambiental e seria elaborado e executado em parceria com a população local. Está previsto no projeto a limpeza e arborização do entorno das lagoas, construção de áreas de lazer com bares e restaurantes.

Mas, segundo Maria Lúcia, a população não está sendo envolvida. “Alguns direitos nossos estão sendo desrespeitados, como o direito de participar da comissão gestora do programa. O projeto foi todo pensado pela prefeitura em decisão unilateral, sem a participação da comunidade e sem saber do que as pessoas que residem lá realmente necessitam. E continua sendo gerido da mesma forma, sem que se possa opinar sobre o projeto em uma construção coletiva e democrática”, desabafa.

Outras preocupações da comunidade é a forma de desocupação, a qual tem levado famílias para casas pequenas e sem a infraestrutura de transporte e segurança necessária. Além do viés econômico da revitalização das lagoas que não se fala sobre como será explorado.

“O que se pode prever é que toda a atividade econômica do projeto irá para os grandes empresários ligados aos grupos dos governos e nada virá pra gente. Foi assim com a construção da infraestrutura do Parque do Encontro dos Rios. Lá tinha uma senhora que morava lá e tinha um restaurante de onde tirava o sustento dos filhos. Essa senhora foi retirada do local e o restaurante foi cedido a outra pessoa. E será o que vai acontecer aqui também se a gente não se organizar”, finalizou.