Artigo de Junior Miranda

A Campanha da Fraternidade promovida neste ano de 2010 pelo Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC) tem como tema Economia e Vida, e lema Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro, em referência a citação bíblica do Evangelista Mateus, no capítulo 6, versículo 24. Esta campanha se propõe a debater alternativas econômicas e ao mesmo tempo conscientizar a população sobre as conseqüências do consumo excessivo nos dias atuais.

Entre as alternativas propostas pela CF-2010 está à chamada Economia Solidária, que consiste em uma forma de produção centrada no consumo auto-sustentável das famílias através do associativismo ou cooperativismo, sem ter o foco principal à geração de lucro, principalmente em detrimento a exploração sem critérios dos recursos naturais e a qualidade de vida da população.

No entanto, com o sistema capitalista profundamente enraizado nas sociedades contemporâneas é possível desenvolver uma economia que esteja a serviço da manutenção da vida, seja ela humana, vegetal e animal, ou pelo menos sem agredi-las como no patamar atual? Como convencer os corações capitalistas a enveredarem para o caminho da Economia Solidária se o sistema que rege o mercado é taxativo com a máxima do lucrar e apenas lucrar?

Se desde a infância somos mergulhados no fantástico mundo capitalista do Tio Patinhas, com seu imenso cofre abarrotado de moedas acumuladas pelas transações financeiras e pela ganância do poder e do ter, mesmo que para isso tenha-se utilizado de expedientes como a exploração dos trabalhadores, como repercutir na população, digamos, novas práticas econômicas, e transformar a realidade atual de consumo cada vez mais intenso e necessário para o sistema capitalista, considerado por alguns historiadores como irreversível, para uma economia mais solidária dentro do próprio capitalismo?

E existe capitalismo solidário? Acredito que não. Só se for o “capitalismo solidário” para expandir crises econômicas e dividir os prejuízos com as economias de países que não promoveram tais eventos, como a crise que abateu a economia mundial em 2009, e que ainda está em via de recuperação em diversos países.

Porém, acredito sim, que existam práticas econômicas ou formas de produção mais toleráveis, que agridam menos o meio ambiente e o ser humano. E o exemplo é o próprio desenvolvimento da difundida Economia Solidária, proposta pela Campanha da Fraternidade 2010, a qual sobrevive no estágio atual do selvagem capitalismo global através das associações e cooperativas. Sistemas econômicos com filosofias diferentes, os quais preconizam a solidariedade econômica coletiva, mas que estão também inseridos no grande sistema capitalista de consumo.

Os questionamentos feitos anteriormente nos servem para refletir sobre o estágio econômico por que passa a humanidade, a qual necessita de uma Economia, termo que vem do grego oikos (casa) e nomos (lei ou costume), significando “administração da casa”, direcionada para o bem estar da população, e da manutenção da própria casa chamada Terra. É plausível uma economia voltada para os interesses coletivos dos moradores desta casa, que apesar de parecer utopia, podemos comprovar a concretização desse sonho através dos valorosos exemplos de cooperativas e associações espalhados em todo o país. Por isso acredito que uma Economia Solidária é possível, e precisa ser possível.

Artigo publicado no site: www.expressopb.com.br