Artigo de Paulo Marques

Com o título “Utopia nas igrejas” a colunista política Rosane Oliveira (pág. 10) do jornal Zero Hora (ZH), do grupo RBS TV da família Sirotski, procurou no dia de hoje (ontem, 17) fazer uma avaliação crítica do tema da Campanha da Fraternidade deste ano.

O resultado foi um líbelo em defesa do sistema capitalista hegemônico. Baseada na ideologia liberal-conservadora dos seus patrões, a colunista destaca a impossibilidade de que o modelo econômico atual, gerador de fome e miséria, seja substituído, o que para ela não passa de uma “utopia romântica”, conquanto a “utopia do capital” essa sim seria a única possível.

Como porta-voz da ideologia dos seus patrões, os donos do monopólio privado dos meios de comunicação no Estado do Rio Grande do Sul, a jornalista ao invés de entrar no mérito da campanha e dizer os motivos do modelo capitalista ser insubstituível, e quais os motivos de ser uma utopia qualquer proposta alternativa, prefere utilizar os métodos da cartilha liberal-conservadora de desconstituir a priori os argumentos de que critica.

Diz a colunista “Com o tema Economia e Vida e ideias que parecem ter saído de documentos do Fórum Social Mundial, do programa de um partido socialista, de um congresso de estudantes ou mesmo de uma reunião do MST, a Campanha da Fraternidade 2010, que será lançada hoje, tem potencial para acender polêmicas em todos os cantos do país. Para a colunista as propostas têm um problema, o “vicio de origem”, ou seja, são similares aos defendidas pelos principais adversários da família Sirotski, os movimentos sociais, a esquerda, o MST.

E logo denuncia o perigo, alertando que o slogan “Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro”, extraído do Evangelho de São Mateus, dá uma ideia do que se ouvirá nas igrejas e templos durante a Quaresma. Ou seja, um perigo que ameaça o ideário liberal conservador. Isto porque, conforme a colunista, nesta campanha da fraternidade “o alvo é o modelo econômico atual, tratado como incompatível com a ética cristã”. Modelo, diga-se de passagem, que é defendido e pregado diariamente como mantra pela religião neoliberal dos grandes meios de comunicação.

Continua a colunista, “Sobrarão críticas ao sistema financeiro internacional, à globalização, ao lucro, ao agronegócio e à injustiça tributária, esse último um ponto de consenso em qualquer religião. Ou seja, um conjunto de posições que contrariam o ideário liberal-conservador da Família Sirotski, para quem o sistema financeiro internacional, a globalização capitalista, o lucro a injustiça tributária constituem o modelo que defendem como único possível.

Para confirmar suas inequívocas afirmações em defesa do atual sistema econômico, a colunista decreta a sentença de que a economia voltada para o bem estar das pessoas seria uma utopia: A ideia de substituir o modelo econômico baseado no lucro por outro “voltado para o bem-estar das pessoas” não passa de uma utopia, como reconhece o secretário-geral do Conselho Nacional das Igrejas Cristãs, reverendo Luiz Alberto Barbosa.

Para o pensamento conservador, os bancos, a globalização capitalista e o agronegócio são insubstituíveis, por isso o aviso da colunista amestrada, de que qualquer alternativa nunca poderá tirar o lugar privilegiado dos instrumentos do capital: Tudo o que os organizadores da campanha propõem para ocupar o lugar dos bancos, da globalização e do agronegócio – cooperativas, redes solidárias, agricultura familiar e redes de microcrédito – tem espaço na sociedade, mas como uma opção a mais, não como substituto.

O pensamento liberal-conservador fica explícito nesta passagem no qual a colunista, como um Fukuiama redivivo determina a inevitabilidade do sistema econômico liberal: Lutar contra a globalização é remar contra a maré: ela está na vida dos fiéis de qualquer credo. Não se imagina como os pregadores conseguirão convencer seu público de que não deve desejar o progresso material nem sonhar com bens de consumo que a globalização tornou mais acessíveis.

Ou seja, o jornal da RBS se insurge contra qualquer ameaça a sua ideologia, pois não admite uma campanha que ouse questionar o modelo de vida consumista e destruidor da natureza, que através da publicidade garante a existência de meios de comunicação privados como a própria RBS.

Por fim a colunista decreta que o agronegócio é intocável ao afirmar que “por mais que se valorize a agricultura familiar, que gera milhões de postos de trabalho, o país não pode prescindir do agronegócio.

Além da incapacidade de argumentos mínimos que avancem além do “senso comum” mais primário a colunista demonstra um total desconhecimento de como funciona o sistema capitalista, chegando ao absurdo de apontar a possibilidade de convivência entre os dois modelos, pois, segundo ela “seria mais salutar que a eliminação de um ou de outro. A pergunta a ser feita é: Salutar para quem? e para quê?

Por fim cabe destacar pela posição do ZH, frente ao que representa o jornal, que já temos um bom sinal de que a Campanha da Fraternidade 2010 está no caminho certo, pois já esta incomodando a quem serve a um dos senhores, o dinheiro.

Por Paulo Marques, do Brasil Autogestionário – www.brasilautogestionário.org.br.