Por Robson Braga *
Os haitianos exigem a saída das tropas militares estrangeiras de seu país. No Paraguai, as ocupações urbanas exigem respeito a um direito básico. No Panamá, o direito às águas é uma das demandas básicas dos movimentos sociais. Quando juntos, os vários povos conseguem articular lutas amplas, para além das fronteiras nacionais. Essa é a proposta do Grito dos Excluídos/as Continental, que alcançou cerca de 22 países de diversas regiões no dia 12 de outubro.
Com o lema “Por Trabalho, Justiça e Vida”, a 11ª edição do ato trouxe consigo avanços importantes para os movimentos sociais das Américas. Os grupos populares estão cada vez mais articulados e as manifestações se ampliaram, das capitais para as demais cidades dos países. A análise é do coordenador da atividade, o teólogo brasileiro Luiz Bassegio.
“A exemplo do Brasil”, país onde o ato foi criado, “as pessoas vão perdendo o medo de se expressar. Elas se tornam mais criativas e adquirem mais ousadia de mostrar sua voz, seu descontentamento”, avaliou Bassegio.
Para o teólogo, o Grito tem propiciado a organização dos movimentos sociais do continente e dado visibilidade às suas demandas. Ele reconhece, no entanto, que parte dos governos da região “está na contramão”, ao criminalizar os grupos populares e tentar impedir a integração dos povos.
“A gente percebe uma mercantilização da vida, uma crise de paradigma capitalista e um crescimento das agressões à mãe terra”, citou Bassegio. O articulador político ponderou, no entanto, que, em alguns países, os governos estão mais sensíveis às reivindicações sociais, como na Bolívia e na Venezuela.
Ele ressaltou o caso cubano. “Os jovens do país assumiram o Grito, junto com outros estudantes estrangeiros que moram na ilha. As pessoas esperavam que a saída do [ex-presidente] Fidel [Castro] ia arrefecer as mobilizações”. Os cubanos lutam contra a militarização da América Latina, intensificada com a instalação de sete bases militares estadunidenses na Colômbia, prevista ainda para este ano.
A questão ambiental ganhou ainda mais força no ato deste ano. O tema “está crescendo muito, porque não é só mais um assunto da esquerda. A direita percebeu que tem culpa e que é algo que precisa ser freado. As gerações futuras estão em jogo”, reforçou Bassegio.
No Panamá, as mobilizações ocorrem nas cidades de David, Chiriquí e na província de Bocas del Toro. Uma caminhada indígena chega à Cidade do Panamá, onde se realizará a Tribuna Aberta Indígena.
No Paraguai, os grupos populares vão às ruas contra o déficit habitacional, que chega a 800 mil casas. O governo só prevê a construção de 1.600 habitações populares.
Um dia antes do Grito, os movimentos da Costa Rica já se instalarão, em um ato intercultural, em frente à embaixada de Honduras ou dos Estados Unidos, em protesto contra o golpe de Estado que depôs o presidente hondurenho Manuel Zelaya, em 28 de junho. No dia seguinte, em El Salvador, um ato solidário tomará a Ponte da Integração.
A proposta do Grito dos Excluídos/as Continental surgiu no Brasil como campanha nacional. Em 1996, a Conferência Nacional dos Bispos dos Brasil (CNBB) abordou a exclusão sócio-econômica em sua Campanha da Fraternidade.
A Secretaria Continental do Grito dos Excluídos é composta por quatro secretarias regionais: Caribe (sediada na república Dominicana), Meso-América (na Costa Rica), Cone Sul (Argentina) e Países Andinos (Bolívia). A secretaria continental se situa no estado brasileiro de São Paulo.
*Jornalista da Adital