Fonte: Por Fábio Zanini, Folha de S. Paulo

“É nosso banco, para que possamos emprestar entre nós”, afirmou Chávez

Com promessas de se tornarem independentes financeiramente dos países ricos, sete presidente sul-americanos, incluindo o brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, assinaram no dia 26/10, na Venezuela, o documento de fundação do Banco do Sul, uma instituição multilateral e continental para projetos de infraestrutura.

A instituição reúne também Argentina, Bolívia, Equador, Paraguai, Uruguai e Venezuela e terá recursos para o financiamento a projetos de agricultura, energia e saúde.

Durante os quatro anos de negociações para constituição do banco, o capital inicial foi elevado de US$ 7 bilhões para US$ 20 bilhões, a ser formado a partir da contribuição de seus membros. Todos terão os mesmos direitos de votos, não importa o tamanho da população ou da economia.

O evento de lançamento ocorreu durante a segunda cúpula entre países africanos e sul-americanos, em Isla Margarita (Venezuela).

Anteontem, durante um debate, o presidente anfitrião, Hugo Chávez, brincou com Lula sobre o financiamento da instituição. “Tem de colocar dinheiro, Lula. Tem de colocar o dinheirinho.”

Lula apenas sorriu, mas a brincadeira de Chávez tem um tom de cobrança. Embora o Brasil não tenha sido um dos grandes incentivadores da instituição – muito mais uma obra de Chávez, do ex-presidente argentino Nestor Kirchner, do boliviano Evo Morales e do equatoriano Rafael Correa -, é sobre o Brasil, como maior economia do continente, que recaem as principais responsabilidades para que o empreendimento funcione.

Trazer reservas do Norte

“É nosso banco, para trazer de volta nossas reservas que estão no Norte, para que possamos emprestar entre nós”, afirmou Chávez. O escritório central ficará em Caracas (Venezuela), com sedes regionais na Bolívia e na Argentina.

“Este é um momento histórico para a verdadeira independência da América Latina. Chega de depender dos ricos, de ajoelhar para pedir alguns dólares”, afirmou Correa.

Lula não deu entrevistas ontem sobre o banco. Mas, na única vez em que falou com a imprensa, também deu um tom triunfal à capacidade de os países sul-americanos reagirem à crise econômica sem depender dos países mais ricos.

“Em função da crise econômica, os países ricos já não estão com a petulância que habitualmente eles tinham nas relações e nas discussões com os países pobres nas questões econômicas. A situação do Brasil do ponto de vista da macroeconomia está melhor do que a dos países ricos”, afirmou.

Lula disse que “brincou” com Barack Obama, em encontro na semana passada, comparando a situação econômica dos dois países. “Eu brincava com o Obama dizendo para ele que a diferença entre nós agora é que no mês de agosto o Brasil gerou 242 mil empregos formais, e no mês de julho os EUA tiveram 700 mil desempregados.”

Segundo Lula, a economia brasileira está “consolidando crescimento de 5% para 2010”.