Fonte: Daniel Tygel

Durante os dias 22 a 25 de abril deste ano, ocorreu o IV Encontro de Mundialização da Solidariedade, em Luxemburgo, dando seqüência à série de eventos internacionais que iniciou-se em 1997 (Lima/Peru), 2001 (Quebec/Canadá), 2005 (Dakar/Senegal), e durante os quais foi criada a Rede Intercontinental de Promoção da Economia Social e Solidária (RIPESS), que congrega redes nacionais e supra nacionais de economia social e solidária dos 6 continentes, e que tem como força motriz (em termos de organização, quantidade de países envolvidos e proposição) a América Latina e Caribe.

Tanto o III quanto o IV encontros tiveram a característica de serem mistos, ou seja, conciliarem a dimensão de encontro e troca de experiências entre as várias iniciativas existentes que puderam participar com a dimensão política de assembléia da Ripess, em que, por exemplo, foi renovada a composição do Conselho de Administração da Ripess, entre outras deliberações.

Acesse a Declaração Final em http://www.fbes.org.br/index.php?option=com_docman&task=doc_download&gid=1038

Acesse a síntese dos ateliers em http://www.fbes.org.br/index.php?option=com_docman&task=doc_download&gid=1039

Para este encontro, o FBES conseguiu financiamento para a participação de Andrea Mendes (de empreendimentos na coordenação executiva do FBES) através da organização do encontro, que conseguiu bancar a vinda de representantes de 13 países de cada continente, e portanto 13 da América Latina, dentre os quais estava o FBES. Além disso, Rosemary Gomes conseguiu financiamento por fazer parte do Conselho de Administração da Ripess representando o FBES. Vários outros brasileiros que participam do FBES em vários níveis também estiveram presentes devido a financiamentos específicos por outras agendas. Aproveitamos este fato para articular estas pessoas e nos reunirmos periodicamente para uma afinação de nossas posições com base nas deliberações da coordenação nacional e da coordenação executiva do FBES. Dentre estes outros brasileiros, estavam Adriana Bezerra, Ana Dubeux, José Zarzuela, Daniel Tygel, Jonas Bertucci, Débora Nunes, Shirlei Almeida e Rizoneide Amorim. Da SENAES estiveram Paul Singer e Roberto Marinho, e da prefeitura do Rio o secretário Marcelo Costa.

Novamente, a força e avanços das construções que o FBES e a SENAES têm feito no Brasil foram um grande destaque no encontro, e portanto a participação do Brasil foi muito importante e incisiva nas várias temáticas. A postura do FBES de, nos encontros temáticos, pautar que deveria ser feita uma agenda concreta de ações entre eventos internacionais foi importante em vários eixos temáticos.

O encontro tinha as manhãs voltadas para debates temáticos em 13 temas (descritos a seguir), e as tardes para as assembléias continentais/mundial e para plenárias de debates de fundo.

Os 13 temas abordados pelas manhãs foram os seguintes:

Eixo 0: ES e formação

Eixo 1: ES e co-construção de políticas públicas

Eixo 2: ES, serviços sociais de interesse geral e bens comuns

Eixo 3: Empreendedorismo solidário

Eixo 4: ES e meio-ambiente

Eixo 5: ES e soberania alimentar

Eixo 6: Produção e consumo responsáveis

Eixo 7: Participação democrática e ancoragem territorial

Eixo 8: Pesquisa e conceitualização da ES

Eixo 9: Redes na ES

Eixo 10: Comunicação e sistemas de gestão da informação para a ES

Eixo 11: ES e ação sindical

Eixo 12: ES e as finanças solidárias

Como dito anteriormente, alguns destes debates temáticos conseguiram aportar propostas concretas de agenda, o que deu um saldo muito positivo para o encontro. Apenas para citar alguns exemplos: Na formação apresentou-se a proposta de fazer um mapeamento de metodologias para serem disponibilizadas entre as iniciativas e também para outras organizações que ainda estão incipientes; Na parte de comunicação e sistemas de informação saiu uma agenda concreta de ações de partilha de dados e metodologias de mapeamentos participativos, além do desenvolvimento de protocolos comuns de comunicação entre sistemas para permitir uma visualização global de empreendimentos solidários, redes animadoras e políticas, notícias, calendário de eventos e metodologias de formação; Na parte de produção e consumo responsáveis, apontou-se a perspectiva de se pensar mecanismos internacionais de certificação participativa e de articular mais as iniciativas de organização do consumo responsável e de organização da produção/comercialização solidárias. Estes são apenas alguns exemplos interessantes. Os resultados (bem resumidos!) das 13 oficinas de trabalho encontram-se no documento em anexo, infelizmente ainda em Francês (em breve sairá o documento em espanhol, que disponibilizaremos).

Na dimensão política, ocorreram Assembléias Continentais e Mundial, além de 2 reuniões do Conselho Administrativo de Ripess, que hoje é composto por 12 representantes dos 6 continentes (2 representantes por continente). Não é possível falar das assembléias continentais dos outros continentes, mas apenas do da América Latina, em que estivemos presentes: Realizamos 2 Assembléias, em que se pôde fazer um balanço do evento, fazer sugestões e incidir em sua condução (como por exemplo a construção da carta final), e também discutir a organização e animação da Ripess na região latinoamericana e do Caribe.

Nestas 2 reuniões continentais foi criado o Conselho Diretivo Regional da América Latina e Caribe (CDR-ALC) integrado por todas as 9 redes que hoje são membros da Ripess A.L. e Caribe, que vai servir de base de condução política da região, aprovando novos membros e respondendo às demandas que vêm, do Conselho de Administração da Ripess. As 9 redes são as seguintes: CLAC, Comércio Justo México, Espaço ECOSOL México, FBES, GRESP/Peru, Mesa de Coord. Latinoamericana de Comércio Justo, Movimento de Economia Solidaria e Comércio Justo de Bolívia, Rede de Economia Solidária de Santiago do chile e a Rel-UITA. Além destas 9 redes, participará também do CDR-ALC a Mesa Nacional de Trabalho Cooperativo e Solidário da Colômbia, que vai sediar o próximo encontro latinoamericano da Ripess em 2010. O Conselho Diretivo Regional já se reuniu uma primeira vez em Luxemburgo, e terá sua segunda reunião durante a Feira de Santa Maria, de 11 a 13 de julho no Brasil. Será uma reunião importante, em que serão definidas as 2 representações da América Latina e Caribe no Conselho de Administração da Ripess e também as perspectivas financeiras para a criação de um secretariado técnico da região, que hoje está sediado no GRESP/Peru. Além disso, o FBES propôs que seja feita uma apresentação mais aprofundada das ações de cada rede partícipe deste conselho para melhor conhecimento e melhor perspectiva de conhecer formas de ações conjuntas. A missão deste conselho é dar seguimento às decisões do encontro de montevidéo, que se dividem em áreas temáticas como a comercialização, a formação, gênero e a incidência política regional em espaços existentes.

Foi realizada também uma pequena reunião entre representantes da América Latina e da África, pensando maneiras de buscar articular a economia solidária numa relação Sul-Sul entre A.L. e África. Estes encontros continentais foram apresentados na assembléia internacional, no penúltimo dia do encontro.

Nas plenárias, o destaque foi realmente a excelente fala de Paul Singer, que conseguiu dar uma dimensão política mais aprofundada ao debate a respeito da Crise Internacional, que foi pauta de grande parte das atividades do evento (nas oficinas, plenárias e assembléias). Paul Singer apontou a importância das ações que ocorrem na América Latina, por seu caráter extremamente inovador e gerador de alternativas, citando como exemplo as novas constituições do Equador, da Bolívia e em breve da República Dominicana, além das ações da Venezuela e do Paraguai. Paul Singer reforçou a importância do Estado como espaço democrático e que deveria constar como estratégia central dos vários movimentos. Além disso, falou da necessidade de se pensar no Socialismo do Século XXI a partir destas experiências em curso na América Latina. Pontos polêmicos da fala dele foram o acento extremo ao papel do Estado, e a afirmação de que nem a União Européia nem a ONU são instâncias democráticas, e por isso o esforço deve ser mais nos Estados Nacionais, para preservar os direitos adquiridos de avanço da democracia. Outra fala de destaque foi a de Patrick Viveret, que afirmou que a crise é apenas um sintoma de uma crise civilizatória profunda (econômica, cultural e ambiental), que exige que sejam repensados os critérios de definição de desenvolvimento e de riqueza a partir de outros critérios que levem em conta estas dimensões humanas.

Foi possível ver, neste encontro, a diversidade extremamente grande de perspectivas e visões do que seja a economia solidária. Neste sentido, a experiência brasileira ganha importância por afirmar aspectos políticos quanto ao conceito mesmo e rumos do desenvolvimento no sistema atual e a afirmação da centralidade da autogestão e avanços na democracia econômica, enquanto em várias iniciativas de outros países há uma visão muito colada ao chamado empreendedorismo social ou inserção no mercado de trabalho (esta última é aliás, infelizmente, a visão de muitos programas públicos de economia solidária no Brasil). Por outro lado, temos muito o que aprender com as várias experiências indígenas e comunitárias que também apontam avanços importantes para a economia solidária. Além disso, há experiências fantásticas no campo de organização do consumo (como os GAS na Itália e o Seikatsu no Japão) e no campo das finanças solidárias (como a Fiducie no Quebec e a Banca Etica na Itália).

Como balanço geral, com todas as dificuldades e problemas (em especial na tradução), acreditamos que o evento representou um grande avanço em 3 frentes: na organização da economia solidária em nível internacional; na construção de agenda de ações para além dos grandes eventos internacionais; e na divulgação da economia solidária, em especial na Europa, o que fortaleceu as redes que lá existem.

Ficou definido que o próximo encontro internacional ocorrerá na Ásia (país ainda indefinido) em 2011 ou 2013, dependendo das condições conjunturais e financeiras até lá.

Já está disponível a declaração final do evento, em espanhol, que se completa com a síntese das 13 oficinas de trabalho temáticas, que em breve estarão em português.

Acesse a Declaração Final em http://www.fbes.org.br/index.php?option=com_docman&task=doc_download&gid=1038

Acesse a síntese dos ateliers em http://www.fbes.org.br/index.php?option=com_docman&task=doc_download&gid=1039