Fonte: Adital (www.adital.com.br)

Incentivada pelo debate sobre a questão da geração de renda, uma rede de trabalhadoras rurais da Bahia tem buscado transformar as relações de gênero e a situação econômica da população rural. “O tema está presente nas ações das mulheres [da região] desde o final da década de 1980”, contextualiza a administradora de empresas, Célia Santos Firmo, coordenadora pedagógica do Movimento de Organização Comunitária (MOC). A entidade é sediada no município de Feira de Santana, Bahia.

Segundo Célia Firmo, o fortalecimento do protagonismo feminino na economia solidária ganhou ênfase a partir de 2002, quando surgiu a Rede de Produtoras da Bahia. Para transformar as discussões em ações efetivas, a formação de um Fundo Rotativo Solidário (FRS) foi o caminho adotado pelas produtoras dos territórios do Sisal, Bacia do Jacuípe e Portal do Sertão, na região do Agreste baiano, onde o MOC atua. Além do crédito, as participantes têm momentos de formação e de troca de experiências.

Em 2008, foi aprovado o projeto “Fundo Rotativo Solidário: uma alternativa de construção de autonomia e empoderamento das mulheres rurais”. A proposta tem o apoio do Programa de Apoio a Projetos Produtivos Solidários, um convênio entre o Banco do Nordeste do Brasil (BNB) e a Secretaria Nacional de Economia Solidária (Senaes/MTE). O programa disponibiliza crédito para viabilizar Fundos Rotativos a ações produtivas associativas e sustentáveis que assumam o perfil da economia solidária.

O projeto objetiva sensibilizar e consolidar 37 empreendimentos para a economia e finanças solidárias. São grupos produtivos que atuam nas áreas de culinária regional, agricultura familiar, artesanato de fibras, palhas e tecido e customização. Apesar da maior parte dos empreendimentos já existir há mais de três anos, ainda subsistem problemas para o surgimento e a sustentabilidade das iniciativas. “Com destaque para busca e acesso a créditos oficiais ou de instituições de crédito”, salienta a coordenadora do MOC.

Exemplos disso foram as tentativas de construir o Fundo Solidário da Rede de Produtoras da Bahia. Na primeira alternativa, foram doados produtos dos próprios grupos – elas vendiam os itens, e o valor era direcionado para o fundo. A outra solução pensada foi a busca por doações externas, por meio de iniciativas apresentadas a instituições. A primeira proposta que teve êxito foi o projeto “Mãos que Trabalham”, idealizado pelo MOC selecionado em edital público pela Petrobras, que repassou recursos para o fundo solidário das mulheres rurais. Depois, foi aprovado o projeto junto ao BNB.

De acordo com Célia Firmo, essa dificuldade de disponibilidade de recursos financeiros pode impossibilitar a instalação e a ampliação dos empreendimentos, além de bloquear a comercialização dos produtos. “Por outro lado, aquelas que não utilizam algum mecanismo de crédito logo acabam não atendendo a demanda da clientela”, adiciona. Por isso, ela vê o projeto de FRS, aliado a uma “intensificação de práticas solidárias”, como uma possível saída para mudar essa realidade.

Os grupos já se reuniram para apresentação do projeto e articulação das entidades parceiras. As trabalhadoras também têm realizado intercâmbios para conhecer experiências de fundos rotativos solidários e encontros territoriais sobre economia e finanças solidárias. Depois de uma oficina, foi construído o regimento interno e definido o comitê gestor do fundo.

Para Célia Firmo, o aspecto autogestionário do fundo promove a liberdade, a autodeterminação e a capacidade de relacionamento “de igual para igual” das mulheres com seus companheiros. “Sinteticamente, afirmamos que o Fundo Solidário é um instrumento de desenvolvimento, de potencializar relações de gênero justas, de empoderar pessoas e de contribuir no acesso a oportunidades”, sintetiza a administradora.

As matérias do projeto “Boas Ideias em Comunicação” da Adital são produzidas com o apoio do Banco do Nordeste do Brasil (BNB).