Fonte: www.adital.com.br

Em entrevista à Adital, Salete Valesan, do Comitê Executivo do Fórum Social Mundial, faz uma avaliação sobre os resultados dos eventos ocorridos até hoje. Ela afirma que o FSM 2009 mantém seu espírito transformador e que problemas de estrutura não podem ser obstáculos para isso.

O Comitê Executivo se reúne hoje (2) para discutir o próximo lugar onde será realizado o evento. De acordo com Salete, tudo caminha para que seja novamente na África.

O FSM 2009 aconteceu de 27 de janeiro a 1º de fevereiro em Belém, no estado amazônico do Pará.

Adital – Você acredita que o Fórum se mantém como contraponto a Davos, que ele mantém o espírito transformador do início?

Salete Valesan – O nosso objetivo se mantém o mesmo porque ninguém pode se iludir nesse momento de crise que a gente está vivendo e que está todo mundo com esperança de que conseguiu dar um salto do sistema do capital, pela queda de parte do imperialismo. Por ser apenas parte que caiu é que a gente tem que estar alerta. Então o enfraquecimento hoje do G-8 não significa que amanhã a gente não possa ter uma outra força inclusive muito mais prepotente e perigosa do que nós tivemos até agora. O nosso objetivo continua. Estamos sempre em alerta, vamos continuar nos organizando e organizando esse espaço para que ele seja um espaço de resistência, de proposta e de alternativas. As alternativas que a gente tem ainda não são alternativas que possam ser aplicadas globalmente, mas nós estamos caminhando para buscar essas questões.

Adital – De 2001 a 2009, o que podemos dizer sobre essas alternativas? Elas existem, foram aplicadas?

Salete Valesan – Sim, acho que até na questão do Fórum, de como ele vem se revendo a cada ano, renovando sua metodologia e seus espaços. Em todo lugar onde ele vai, deixa um tipo de ação e alternativa diferenciada porque a cultura, a geografia, a população são diversas. Nós temos aí vários avanços. E um significativamente aqui na América Latina é a questão da economia solidária que é toda uma concepção que hoje é real. Temos também a luta pela questão das águas. A gente conseguiu ter uma campanha, fóruns de água. É muito forte também a questão da comunicação, com a comunicação compartilhada, fortalecimento das mídias livres, toda essa luta pela legalização e espaços para essas mídias. E as políticas públicas, especialmente na América Latina, por conta do contexto político dos governos que são eleitos, que a gente consegue transformar um pouco essas políticas numa força maior para as demandas sociais e humanas.

Adital – Essa edição conseguiu reunir cinco presidentes da América Latina. Que dimensão tem isso para o Fórum?

Salete Valesan – Primeiro mostra que o Fórum, juntamente com suas entidades, seus movimentos, suas campanhas, e a América Latina, todos e todas, estão dando um recado para o mundo de que nós estamos criando aqui uma potência política. Uma potência de alternativa, mostrando que a América Latina tem condições de decidir o que ela quer e o que é melhor para ela. E a gente está definitivamente se organizando para resistir a um sistema impositivo. Nós não queremos mais que o imperialismo venha nos dizer como a América Latina precisa resolver suas questões ou gerar suas alternativas. O protagonismo tem que ser nosso.

Adital – Do ponto de vista de estrutura dos Fóruns. O que a gente pode dizer deste de Belém? Há muitas queixas em relação a isso.

Salete Valesan – Nós tivemos na questão estrutural, no que diz respeito ao território do Fórum, duas grandes universidades. Foram praticamente dois eventos. Ninguém consegue circular pelos dois locais no mesmo dia. Então essa questão da estrutura foi bastante importante, foi bem. A gente teve uma dificuldade que já era prevista que foi a questão de alojamento, de hospedagem, mais dos hotéis, mais da hospedagem tradicional do que as outras. Então fomos superando essa dificuldade. Infelizmente a negociação com as empresas aéreas não é muito tranquila. Eles querem garantia de quantos virão de avião, de onde, a que horas, em qual data…O Fórum não está para controlar as pessoas. Então tivemos essa dificuldade de conseguir vagas em voos. Isso atrapalhou um pouco. Mas não vai ser isso que vai fazer a gente desistir de lugares como o Quênia, Índia ou como a Amazônia, como estamos fazendo agora. Muito pelo contrário. A gente tem que estar nestes lugares para que as pessoas possam ter direitos e acessos às informações que não são possibilitadas ainda a essa população.

Adital – O conselho executivo se reúne para decidir onde será o próximo Fórum. Já há alguma indicação? Quais os encaminhamentos finais?

Salete Valesan – Teremos 18 assembléias temáticas trazendo o que foi debatido naquele tema durante estes dias todos e criando propostas, seja de execução ou de articulação política, a partir do que cada grupo decidir. No período da tarde acontece a Assembléia das assembléias para dizer o que foi tirado e para que os participantes conheçam esses resultados. No dia 2, nós estaremos reunindo o conselho internacional do Fórum, que é na verdade o primeiro encontro do conselho que vai discutir e potencializar a decisão de, em 2011, fazer na África, que é o que mais ou menos está encaminhado. Mas ainda temos que ouvir os companheiros africanos para saber se eles se mantêm na proposta de fazer em 2011 lá. Em 2010 teremos a metodologia das jornadas de mobilização.

As matérias do projeto “Ações pela Vida” da Adital são produzidas com o apoio do Fundo Nacional de Solidariedade da CF2008.

Ana Rogéria, editora de Adital, de Belém (PA)