Fonte: http://facesdobrasil.colivre.coop.br

O atual contexto brasileiro demonstra a importância de desenvolvermos ações para a consolidação do comércio justo e solidário como política de desenvolvimento social e alternativa de trabalho e renda, tanto em nível político como econômico.

A afirmação do bom contexto político se justifica pelo envolvimento das entidades públicas e privadas na construção do SNCJS e também pela quantidade de atores da produção, comercialização e consumo solidários, articulados em redes locais e nacionais, que hoje conhecem, participam e opinam no processo de construção do marco jurídico e político desta proposta. O lançamento de editais de apoio direto à comercialização por mais de uma secretaria de estado, entre outros órgãos públicos, também é prova desta afirmação.

Desde o ponto de vista econômico, o contexto também se coloca favorável pelos dados de produção e do consumo solidários: na ponta da produção temos 21.854 empreendimentos econômicos solidários (reconhecidos pela pesquisa nacional feita pela SENAES/MTE), que operam R$ 191.451.037,00 por ano, entre produção agrícola, artesanal, alimentício e têxtil.

Na ponta do consumo, os dados apontam que o potencial de demanda por produtos alternativos cresce em taxas de 20% ao ano (conforme estudos do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), muitas vezes não concretizado por falta de canais de venda e distribuição destes produtos. Ou seja, a consolidação do comércio justo já encontra justificativa, tanto em nível de oferta quanto de demanda, os que faltam são canais de aproximação entre produtores e consumidores.

E isto também se justifica pelo fato de que quase 70% desses 21.859 empreendimentos reconhecidos como da Economia Solidária no Brasil, apontaram a comercialização como o grande obstáculo na consolidação de seus empreendimentos. Empreender tarefas que facilitem o acesso ao mercado e à construção de novos canais solidários de comercialização, são a ordem mais prioritária para a força desta nova economia.

Ainda dentro deste estudo, percebemos a limitação do alcance das vendas destes EES. Do total, 80% comercializam no seu município através de venda direta (para intermediários locais), e apenas 2,8% conseguem alcançar o mercado nacional. Por outro lado, a concentração do consumo, em nosso país é enorme, onde apenas um Estado (São Paulo) concentra 60% de poder de compra do país.

Todos estes dados (pobreza, precarização das relações de trabalho formal, insustentabilidade dos atuais padrões de produção e consumo) põem lado a lado, o contexto brasileiro, desafios e potencialidades, na medida que requerem uma planificação integrada de ações enfocadas na busca de fomento, reconhecimento, difusão e consolidação do comércio justo em suas três dimensões: a) a econômica: através da efetiva criação de canais justos e solidários de comercialização em escala nacional, b) a educativa: através de ações de promoção do conceito, sensibilização e conscientização de produtores, comerciantes, técnicos e consumidores para o conceito e para a prática destas novas mudanças, e a c) política: que garanta, efetivamente, que todo este movimento seja aproveitado em pró do objetivo final de promoção de Justiça e Equidade Social.

Por fim, uma conjuntura dinâmica, que a justifica. Este é o contexto a partir da qual o comércio justo no Brasil se insere.