Informação divulgada por Leide Santos

Em dezembro próximo os presidentes do Mercosul e demais países da América Latina, Caribe e México se reunirão em Salvador, Bahia, em duas iniciativas: a Cúpula de Presidentes do Mercosul e a Conferência da América Latina, Caribe e México. É a primeira vez que os chefes de Estado da região se reúnem sem a presença dos EUA.

Nestas duas instâncias de alto nível, os presidentes debaterão uma agenda crucial para o destino dos povos de nossa região. Ali serão tomadas decisões sobre comércio, integração regional, políticas sociais e econômicas comuns, segurança e militarização, integração produtiva, políticas sobre migrações, e muitos outros temas fundamentais para o nosso futuro. Ali, eles de certa forma se prepararão para a próxima reunião da Cúpula das Américas, que ocorrerá em abril de 2009. Na última dessas reuniões, ocorrida em Mar del Plata, Argentina, a proposta da ALCA foi derrotada, pelo menos temporariamente .

É importante lembrar que o cenário político tem registrado profundas alterações neste início de século, e hoje existem governos da região que buscam levar adiante propostas de integração e estratégias diferenciadas de desenvolvimento, tentando superar os anos de hegemonia liberal. Especialmente com o fracasso da tentativa de fazer avançar a ALCA, vários novos governos estão tentando aprofundar propostas alternativas de integração regional, investindo em propostas como a Unasul, o Mercosul, e a ALBA (Alternativa Bolivariana para as Américas), entre outras. Essas várias propostas envolvem muitas possibilidades, com as quais devemos nos solidarizar, mas ao mesmo tempo estão longe de contemplar um conjunto importante de demandas e expectativas dos povos e movimentos sociais da região.

Devemos intervir, participar e incidir sobre a agenda oficial, buscando fazer as decisões dos presidentes se aproximarem o máximo possível das reivindicações dos movimentos e organizações sociais de nossa região.

Ao mesmo tempo, necessitamos garantir uma dinâmica autônoma dos movimentos e organizações sociais através da realização da Cúpula dos Povos do Sul, onde a agenda será organizada a partir das nossas lutas e das pautas prioritárias para a integração dos povos.

Em Salvador, as organizações e movimentos sociais estão construindo uma convocatória ampla, que inclua não somente o Cone Sul, mas também toda a América Latina e Caribe. Desta maneira, nossa Cúpula dos Povos colherá os acúmulos construídos na região ao longo de anos de resistência contra o neoliberalismo, os TLCs, o imperialismo e a militarização, e avançará na construção de uma integração da região baseada nas reivindicações, interesses e direitos dos povos da América Latina e Caribe

Para isso, estamos convocando os movimentos sociais de todos os países da região, para as atividades de mobilização e discussão da Cúpula dos Povos, que serão realizadas em Salvador, entre os dias 12 e 15 de dezembro, onde buscaremos aprofundar o debate sobre o desenvolvimento e a integração que queremos, de forma a pressionar e dialogar com as reuniões oficiais que estarão acontecendo entre os chefes de Estado na Bahia a partir do dia 15. Se uma outra integração é possível, é necessário tratar de construí-la a partir de agora.

Síntese da reunião preparatória nos dias 08 e 09/11 em Salvador (BA).

O seminário debateu os efeitos da crise econômica internacional, que tem por epicentro os EUA, e os desafios decorrentes para o processo de integração dos povos, concluindo que os movimentos sociais devem mobilizar unitariamente suas bases com o objetivo de lutar para que os prejuízos decorrentes das turbulências e desequilíbrios do capitalismo americano não sejam transferidos aos povos (1).

Ainda se definiu que a Cúpula dos Povos vai exigir que os ricos paguem a conta da crise e que os governos adotem políticas econômicas opostas ao neoliberalismo, reforçando o papel do Estado, ampliando os investimentos sociais e protegendo a classe trabalhadora.

O encontro dos movimentos sociais em Salvador deve mobilizar milhares de militantes e vai focalizar seis temas, que também estão na pauta da cúpula do Mercosul: crise energética; crise financeira; crise ambiental; crise alimentar; migração; militarização e soberania nacional.

Durante o seminário predominou a opinião de que a crise, apesar dos notáveis transtornos que provoca para a classe trabalhadora e os povos, também deve ser vista como numa oportunidade para os movimentos sociais, uma vez que reforça a necessidade de lutar por uma alternativa ao neoliberalismo.

Em resposta às crises do capitalismo, o seminário apontou a defesa de novos modelos de desenvolvimento nacional, fundados na valorização do trabalho, no respeito ao meio ambiente, no combate a todo tipo de discriminação e na integração solidária dos povos latino-americanos. Os movimentos sociais devem se mobilizar para garantir um maior protagonismo no processo de integração e nas propostas e iniciativas a ele associadas.

Apesar da diversidade política e de divergências pontuais em relação aos temas abordados, o seminário foi caracterizado por uma unidade dos movimentos sociais. Em relação às medidas de política econômica que deveriam ser adotadas para enfrentar a crise foram sugeridas, entre outras coisas, o controle do câmbio e da conta de capitais, estabilidade no emprego, taxação das remessas de lucros e auditoria das dívidas externas que ainda hoje atormentam a vida dos países mais pobres.

Nota: (1) O debate sobre o tema “Desafios da integração dos povos na conjuntura global e latino-americano atual”, realizado na manhã do sábado (8 de novembro), foi precedido de palestras proferidas por representantes do Jubileu Sul Américas (Beverly Keene), Coordenadora de Centrais Sindicais do Cone Sul (Messias Melo), Reprip (Adhemar Mineiro) e Cebrapaz (Umberto Martins).