Fonte: www.diariodonordeste.globo.com

Exposição de Produtos da Economia Solidária de Base Familiar (Expofam), realizada no último fim de semana na cidade de Grato, estado do Ceará, mostrou o resultado de 17 anos de trabalho do Assentamento 10 de Abril, uma comunidade rural que ocupou inicialmente o Sítio Caldeirão, fundado pelo beato José Lourenço. As famílias assentadas querem repetir a mesma experiência da comunidade que foi destruída em 1936.

A Expofam mostrou que o Assentamento 10 de Abril, sob a administração de uma mulher, tornou-se auto-suficiente a exemplo do Caldeirão. A história desses assentados foi apresentada durante o evento como exemplo de organização dos trabalhadores rurais.

Nas pegadas do beato, cerca de 220 famílias ocuparam o Sítio Caldeirão, no dia 10 de abril de 1991. Eram trabalhadores sem terra que, a exemplo dos seguidores do beato, sonhavam com um pedaço de chão para trabalhar. No entanto, eles foram obrigados a desocupar a área, pois pertencia a um particular, enquanto o Governo do Estado do Ceará negociava um outro terreno.

Diante da pressão, muitas famílias desistiram, conforme lembra a líder do movimento, Valderez Correia dos Santos, conhecida por Teresa, hoje coordenadora da Associação do Assentamento 10 de Abril.

Quando o Governo do Estado liberou o terreno, restaram menos de 100 famílias. Ficaram somente 56 famílias, cerca de 200 pessoas que, a exemplo da comunidade do Caldeirão, transformaram o Sítio Gerais numa área produtiva. Além de produção de arroz, feijão, fava e milho, que abastece a comunidade e ainda sobra para comercialização, os assentados conseguiram energia elétrica, escola, seis pequenos açudes, um poço profundo e financiamentos para projetos. Todos os assentados moram em casa de alvenaria com uma cisterna ao lado, comemora a presidente da Associação.

Este ano, foram produzidos 900 quilos de mel de abelha, um projeto de apicultura que tem contribuído para a independência econômica da comunidade. Outro setor importante que tem crescido é a pecuária. O assentamento conta com um rebanho de 150 reses que garantem o leite das crianças. “É muita coisa para quem começou do nada”, diz o assentado Francisco Antônio da Silva.

Em 17 anos, as 101 famílias que fazem parte do assentamento conseguiram estruturar um sistema coletivo de produção de alimentos. O resultado: sustentabilidade. Os trabalhadores rurais cultivam feijão de corda, legumes, verduras e hortas medicinais. Há criação de caprinos, ovinos, suínos, aves e também apicultura. Elas conseguem aproveitar os recursos hídricos locais.

“Nossa vida melhorou. Quando você se alimenta bem, tudo melhora”, diz o assentado Cícero Cirino da Silva, explicando que as tarefas são divididas e todos no assentamento são comprometidos com áreas individuais e coletivas.

A vida do assentado é disciplinada por um regimento. “O regimento determina que um dia da semana é destinado ao trabalho comunitário. Na quarta-feira, ninguém falta”, diz Teresa. As decisões são discutidas por um grupo de 12 conselheiros que fazem parte da diretoria da Associação. Não é permitido, por exemplo, a venda e consumo de bebida alcoólica na comunidade. A diretoria da Associação proibiu também o jogo de sinuca. O principal lazer é o futebol. Foram formados dois times, primeiro e segundo quadros, que jogam durante o fim de semana. A religião predominante é a católica. Os assentados construíram uma capela que tem como padroeiro São Vicente. Uma vez por mês, monsenhor João Bosco Esmerado celebra missa na área do assentamento.

Saiba mais…

Histórico

A comunidade do Sítio Caldeirão, criada pelo beato José Lourenço, tornou-se auto-suficiente, até mesmo nas ferramentas de trabalho, que eram fabricadas no local. Algumas foram desenvolvidas apropriadamente para o trabalho em condições peculiares.

Ecologia

Sobre a agricultura, remanescentes daquela experiência relatam que tudo era tratado de forma ecologicamente correta, atentando-se para a preservação do solo, dos mananciais hídricos, da fauna e flora, cujas explorações atendiam às normas específicas da comunidade.

Pecuária

Criações de bovinos e caprinos garantiam o fornecimento de carne e leite, que por sua vez geravam a produção de charque, queijo e manteiga, enquanto as peles se transformavam em calçados, cintos, bolsas e artesanatos. A produção atendia ao consumo interno e o excedente era vendido para fora.

Por Antônio Vicelmo,Repórter.

Informações:

Assentamento 10 de Abril, Fazenda Gerais, distrito de Monte Alverno Zona

rural do Crato região do Cariri

(88) 3523.l065