Fonte: Andréa Mendes (amazoniasannyah@yahoo.com.br)
O resultado das eleições municipais de 2008 passará a ter um significado especial para os povos indígenas do Amazonas. É que, pela primeira vez na história das eleições brasileiras, uma cidade escolheu prefeito e vice-prefeito indígenas: São Gabriel da Cachoeira, no extremo norte do estado. Outro município, Barreirinha, no Baixo Amazonas, também vai ser administrado a partir de janeiro de 2009 por prefeito indígena.
São Gabriel da Cachoeira, que fica a 858 quilômetros da capital, Manaus, elegeu para prefeito Pedro Garcia, da etnia tariana, e para vice-prefeito, André Baniwa, da etnia Baniwa. Foram 12.319 votos válidos, e eles tiveram 51,68% da preferência do eleitorado. No município, nove de cada dez habitantes são comprovadamente indígenas. É o município com maior número de índios no país.
O vice-prefeito eleito André Baniwa disse que a vitória eleitoral é resultado do amadurecimento político do povo indígena. Segundo ele, saúde e educação serão prioridade na próxima administração.
“Há necessidade de reconhecimento e legalização das escolas indígenas, formação de professores e qualificação dessa categoria. Terão prioridade no município saúde, infra-estrutura e segurança, além de ações que busquem alternativas de renda para a população”, informou Baniwa.
Em Barreirinha, a 331 quilômetros de Manaus, Mecias Satere Mawe, foi eleito prefeito com 33,1% dos votos válidos (3.666).
Para o diretor do Centro Amazônico de Formação Indígena e presidente do Conselho Estadual de Educação Escolar Indígena do Amazonas, Domingo Sávio Camico, o resultado das eleições nos dois municípios é uma conquista histórica para os povos indígenas. Ele disse que a participação das populações indígenas na política é coisa recente no Amazonas, onde, tradicionalmente, esse envolvimento se dava por meio das organizações que os representam e de movimentos sociais.
“Em São Gabriel da Cachoeira, por exemplo, apesar de 95% da população ser indígena, existem pouco mais de 10 anos de vida política entre esses povos”, destacou.
Camico ressaltou que o resultado também é uma conquista porque as vagas no executivo municipal representam um novo espaço de poder para a sociedade indígena Segundo ele, hoje há necessidade de políticas diferenciadas voltadas para o fortalecimento cultural, a saúde e a educação indígenas, além da sustentabilidade econômica. “Essa foi a maior bandeira de luta dos candidatos indígenas: fazer com que o poder público municipal possa atender às demandas dessas populações, respeitando suas culturas e diferenças.”
O principal desafio das prefeituras indígenas é garantir a realização de administrações para todos, sem distinção de povos, raças, cor ou religião, afirmou Camico. “Respeitar as diferenças é o principal desafio, servindo de modelo para outros municípios onde haja minorias que lutam por igualdade para todos, não apenas para os indígenas. É colocar em prática o que eles defenderam em suas campanhas.”
De acordo com o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), seis indígenas já dirigiram prefeituras em cidades brasileiras. (Fonte: Amanda Mota / Agência Brasil)