Fonte: Fundação Banco do Brasil (fundacaobancodobrasil@fbb.org.br), por Dalva de Oliveira

O espaço da mulher tem crescido no mundo da economia solidária.

De acordo com a doutora em Educação pela Universidade de São Paulo (USP) Maria Nezilda Culti, há uma grande participação das mulheres e expressiva presença delas na liderança de empreendimentos coletivos. Ela lembra que esse tipo de atividade é confundido com trabalho comunitário, território geralmente atribuído as mulheres. “São atividades de trabalhos coletivo e solidário, mas não assistencialistas. Ao contrário, são atividades produtivas geradoras de renda”, lembra.

Maria Nezilda acredita que a expressividade das mulheres nesse campo, assim como sua representatividade em setores tidos como masculinos (des)constrói a idéia assimilada socialmente da superioridade do homem nas atividades laborais geradoras de renda.

A agricultora Livânia Frison, 45 anos, presidente da Cooperativa dos Produtores de Canudos (Copec), de Ceará Mirim (RN), é uma delas. Trabalhar em sistema de cooperativa é criar um novo jeito de organizar e, assim, ao lado da categoria, gerar oportunidade de emprego e renda. “Organizados, conseguimos captar melhor os recursos, aplicar e vender mais”, afirma.

Responsabilidade

No seminário, ela integrou a mesa que discutiu os desafios dos projetos coletivos de geração de trabalho e renda e chamou a atenção dos demais ao relatar formas inovadoras de gestão na cooperativa que preside. Exemplo disso é que as tarefas são divididas de acordo com a aptidão de cada um e, semanalmente, um cooperado diferente fica responsável pela gerência dos trabalhos.

Sem perder a feminilidade, Livânia mantém um estilo decidido e firme, que tem levado a Coopec a excelentes resultados, como a oferta de cursos de alfabetização para 150 mulheres da comunidade. Ser mulher nesses espaços, para ela, no entanto, não é fácil. “Se você é pobre e mulher tem dois desafios a enfrentar, a discriminação e o machismo. Quando se é uma líder mulher, o desafio a ser superado é ainda maior”.

O machismo também é lembrado pela trabalhadora Márcia Abadia Martins, 43 anos, como uma barreira a ultrapassar dentro da economia solidária. Mas seria preciso muito mais empecilhos para impedi-la de protagonizar sua história.

Opção

A hoje presidente da Coooperativa Granja Julieta da Zona Sul de São Paulo e tesoureira da Central de Cooperativas de Materiais Recicláveis de São Paulo (Centcoop-SP) diz que entrou no cooperativismo por parecer a única opção para uma mulher negra, pobre e sem curso superior. O que ela não sabia era o que viria a reboque de sua decisão.

“Durante esse período, consegui resgatar minha história de vida. Minha mãe contou que meu avô também tinha sido catador e, daí, entendi o motivo de estar ali. A liderança feminina é determinante e faz a diferença, pois nesse mundo machista uma coisa é ter o poder e outra é ser liderança”, diz.

De acordo com a economista Maria Nezilda, as mulheres humanizam mais as relações trabalhistas pelo seu modo de ser ou por entender que, no geral, a mulher trabalhadora também tem uma jornada doméstica e outras responsabilidades com a família, invariavelmente sob sua responsabilidade.

Outro exemplo de liderança feminina é o da freira Porcina Amônica de Barros, 69 anos, que há 25 se dedica às causas sociais. Ela é presidente da Cáritas e ainda atua na Articulação do Semi-Árido (ASA) e na Associação Casa de Ervas Barranco da Esperança e Vida, em Minas Gerais. “Trabalhar nesses projetos é minha contribuição como ser humano e como mulher para termos um mundo mais justo”, afirma.

Elo

A economia solidária deve fortalecer, cada vez mais, o papel da mulher trabalhadora, lembra Maria Nezilda, assim como acontece em Bangladesh, onde o Nobel da Paz Muhammad Yunus criou o Banco Gramenn, que prioriza o microcrédito para as mulheres. “Acreditando na força das mulheres, esse modelo se expandiu para muitos países e o Brasil precisa fazer algo similar. Sem desprezar o papel do homem, as mulheres são o elo forte da economia solidária”, finaliza.