Fonte: Portal EcoDebate (www.ecodebate.com.br)

Uma planta está modificando a realidade de dezenas de agricultores das comunidades do Vale do Jari, região amazônica localizada entre os estados do Pará e Amapá. Por meio do cultivo do curauá (Ananas erectifolius), os produtores encontraram uma fonte alternativa de renda que, além de trazer novas pers-pectivas para o desenvolvimento econômico com a utilização de áreas degradadas, consolidou a identidade territorial dos moradores locais, evitando o êxodo rural. Do Diário do Amapá, 09/08/2008.

Espécie típica da Amazônia, o curauá é famoso por suas folhas, que fornecem fibras resistentes, leves, flexíveis e biodegradáveis. A fibra do curauá é quatro vezes mais resistente que a fibra do sisal e dez vezes mais resistente que a fibra de vidro. Além disso, o cultivo da planta não provoca a degradação da mata nativa, contribui com a revitalização de terras desmatadas, não é exigente a fertilizantes químicos e pode ser consorciada com culturas alimentares, o que representa uma fonte alternativa de renda e garante também a segurança alimentar ao pequeno agricultor da região amazônica.

O curauá (Ananas erectifolius) só se desenvolve em clima quente e úmido. Suas folhas longas são da família botânica do abacaxi.

Por todas estas propriedades, a fibra do curauá, originalmente utilizada por comunidades tradicionais em forma de cordas e cabos para amarrar redes e para o manejo de animais, demonstrou ser também uma alternativa altamente econômica e sustentável para aplicações industriais. A descoberta fomentou as atividades agro-ecológicas no Vale do Jari e deu origem ao Projeto Curauá.

Em julho de 2006, por meio de uma parceria entre a Fundação Orsa, Prefeitura Municipal de Almeirim (PA) e a empresa Pematec-Triangel, o Projeto Curauá começou a dar seus primeiros passos. Na ocasião, um grupo de 15 agricultores do Vale do Jari iniciou o processo de cultivo da planta. Orientados por técnicos da Fundação, os agricultores realizaram o plantio de 187.500 mudas, em uma área de 7,5 hectares. Em agosto de 2007, pouco mais de um ano após o início das atividades, os produtores realizaram o beneficiamento de aproximadamente 11 toneladas da fibra do curauá.

O curauá também está sendo utilizado na indústria automobilística para substituir a fibra de vidro.

A produção da fibra foi comercializada para a Pematec-Triangel, companhia sediada em Santarém (PA) e que destina cerca de 90% de sua demanda para a fa-bricação de componentes para o setor automotivo. A fibra de curauá passou a ser utilizada pela empresa como recurso para a produção de peças distintas, como painéis dianteiros, porta-pacotes, laterais de portas e porta-malas de veículos que integram o portfólio de gigantes do setor, como Volkswagen, Honda e General Motors.

O sucesso do plantio dessa espécie amazônica na agricultura familiar foi tamanho que levou à expansão do Projeto Curauá. A Fundação Orsa, comprometida em promover a ampliação sustentável do Projeto e garantir a viabilidade de produção e comercialização da fibra, fomentou,mais 400 mil novas mudas de curauá aos agricultores do Jari, além de disponibilizar também a máquina desfibradora para o beneficiamento das folhas colhidas.

Como resultado do processo de incentivo, que segue a filosofia do Grupo Orsa em contribuir para o desenvolvimento de negócios economicamente viáveis, socialmente justos e ambientalmente corretos, 32 novos agricultores do Vale do Jari passaram a integrar o Projeto Curauá, ampliando em mais 17 hectares a área plantada. A expectativa, agora, é a de que a produção gerenciada pelas 47 famílias integrantes do programa alcance o montante de 98 toneladas de fibras de curauá ao ano, movimentando assim uma renda bruta anual de R$ 392.000. A previsão é que o número de participantes do projeto aumente até o fim deste ano.