Fonte: www.terramadre.slowfoodbrasil.com

A situação atual dos ecossistemas aquáticos ao redor do mundo, a perda de biodiversidade e biomassa, os níveis de poluição química e mudanças climáticas se combinam para formar um quadro que parece sem possibilidade de recuperação. Entretanto, as ações dos homens, que iniciaram esta dramática cadeia de eventos em primeiro lugar, também são o caminho para mudanças na situação: apenas os humanos e seu comportamento virtuoso podem alardear um processo de recuperação e resolução.

De acordo com a FAO, metade dos estoques pesqueiros do mundo já foram totalmente explorados e existe um risco alto de aumento na quantidade de recursos excessivamente explorados ou praticamente exauridos, que já somam um quarto do total. O conhecimento destes problemas não é uma prerrogativa exclusiva de uma elite de ambientalistas educados – o público consumidor em geral precisa fazer escolhas que favoreçam a conservação do meio ambiente e das fontes de alimento. Para saber mais, assista ao vídeo sobre a pesca artesanal da Fundação Slow Food para Biodiversidade.

As comunidades da pesca artesanal da rede Terra Madre são guardiãs dos mares, rios, lagoas, estuários e manguezais. Sua vida depende do uso sustentável dos recursos pesqueiros. Dentre as comunidades do alimento da rede Terra Madre Brasil, destacam-se 05 comunidades da pesca artesanal:

FORTALEZA DO ARATU

Leia mais sobre a Fortaleza do Aratu em www.slowfoodbrasil.com/content/view/232/70/

PESCADORES DE PIRARUCU DO AMAZONAS

A produção do peixe Pirarucu acontece nos Lagos do Purema, Preto e Poção, áreas que estão nas várzeas dos municípios de Silves e Itapiranga, no Estado do Amazonas. O trabalho da comunidade é desenvolvido por aproximadamente 62 pescadores, que viveram em épocas de fartura do Pirarucu. São senhores de até 70 anos de idade e jovens que os acompanham como voluntários para aprender as técnicas sobre a pesca. Os pescadores estão sendo capacitados para a pesca e também para trabalharem dentro da legalidade, pois o peixe só pode ser abatido se medir 1,5 metros ou mais, fora do tempo da desova e criação dos alevinos, bem como as regras de comercialização. A pesca do Pirarucu é sempre motivo de festa no município, dependendo da quantidade pescada, é estipulada uma quantia de quilos de peixe que cada família pode adquirir. Os alunos da escola estadual de Silves, que tem parceria com a Associação de Silves para Preservação Ambiental e Cultural – ASPAC participam nas atividades de educação ambiental. Dentre os voluntários participam jovens da comunidade, mulheres da ASPAC, professores, enfermeiros, agentes de saúde, agricultores, e também pescadores das associações locais. Os voluntários da pesca recebem uma cota em peixe acertada em reunião local. Também será realizada a pesca de mais uma espécie nobre da região Amazônica – o Tambaqui – que dará suporte à pressão da espera pelo Pirarucu e ajudará na contribuição para a sustentabilidade dos trabalhos da Associação. O pirarucu é um dos produtos brasileiros na Arca do Gosto.

Área de produção: Silves e Itapiranga, Amazonas, Região Norte

Coordenador da comunidade: Vicente Neves

COLETORES DE OSTRAS DE CANANÉIA

A comunidade Quilombola do Mandira é composta por 23 famílias. A principal fonte de renda é a extração e manejo da ostra de Cananéia (Crassostrea brasiliana), e atividades de pesca e coleta de caranguejos, mariscos, almejas e outros do mangue, em menor escala. Há um grupo de mulheres da comunidade que desenvolve trabalhos de costura profissional, e outro grupo formado por mulheres, homens e jovens que realizam o artesanato. A Cooperativa dos Produtores de Ostras de Cananéia – COOPEROSTRA reúne coletores de ostra do Mandira, de várias comunidades do estuário e também faz a comercialização dos produtos. As ostras são coletadas, criadas em “viveiros” especiais e quando atingem o tamanho ideal, são limpas por membros da cooperativa, e depois vendidas a restaurantes do litoral do Estado de São Paulo. As mulheres da comunidade usam as ostras para preparar deliciosas especialidades para turistas, inclusive torta de ostra, ou pão de ostra, e farofa de ostra. Os produtores seguem as regras ambientalmente sustentáveis nos processos de extração, manejo e depuração, além de respeitarem a legislação sanitária, com a certificação do Serviço de Inspeção Federal do Ministério da Agricultura.

Área de produção: Cananéia, São Paulo, Região Sudeste

Coordenador da comunidade: Carlos Coutinho

PESCA ARTESANAL DO SERTÃO DE MINAS

A Colônia de Pescadores Z-5 é formada por 1.700 pescadores que vivem somente da pesca em sete cidades da Bacia do Rio São Francisco, Rio Prata, Rio Paracatu e represa de Três Marias. A pescaria se baseia no método da tarrafa (no rio) e rede (na represa). A origem dos produtos é natural, pois sempre existiu peixe nas margens da represa e dos rios. Por esse motivo, os pescadores se organizaram para facilitar os trabalhos da comunidade. Dentre as várias espécies de peixes estão o Surubim, Cascudo, Curimatã, Pacu, Piau, Traíra. A comercialização é feita localmente e existe a Feira do Peixe Contínua que fica às margens da ponte do Rio São Francisco, para a venda do artesanato, dos peixes e para o aproveitamento do couro.

Área de produção: Três Marias, Minas Gerais, Região Sudeste Coordenador da comunidade: Marco Aurelio Lima

COLETORES DE BERBIGÃO

A comunidade é formada por um grupo de pessoas que iniciaram o trabalho de recuperação do berbigão (Anomalocardia brasiliana), que vem desaparecendo da área há dez anos. O grupo conta com a ajuda da Associação dos Moradores de Santo Antônio de Lisboa, formada por coletores de moluscos, pescadores e cultivadores de mariscos e ostras. O sustento da comunidade é tirado das praias da baía de Santo Antônio de Lisboa e o berbigão já foi fonte única de alimentação e muito importante para os moradores. O berbigão é produzido apenas para o consumo da comunidade apesar de haver uma pequena empresa de comercialização de ostras e mariscos que mantém duas famílias. A baía é um ponto turístico e a comercialização é voltada para o turismo, através da venda do artesanato das mulheres rendeiras de bilro que apresentam seus produtos na feira realizada aos sábados e domingos.

Área de produção: Florianópolis, Santa Catarina, Região Sul

Coordenador da comunidade: Maria de Lourdes Padilha