Fonte: Associação Nacional de Trabalhadores e Empresas de Autogestão (Anteag)

A ANTEAG estará realizando nos dias 04,05 e 06 de julho, o “Encontro de Mulheres Trabalhadoras de Empresas e Empreendimentos de Autogestão da Região Sul” na cidade de Brusque, SC. O encontro será o primeiro de uma série a serem realizados em todas as regiões do Brasil ao longo do ano de 2008, e darão continuidade aos encaminhamentos tirados no “I encontro Nacional de Mulheres da ANTEAG”, realizado em novembro de 2007 em São Paulo.

Os objetivos desses encontros são debater e identificar o lugar da mulher nas empresas de autogestão e economia solidária e entender como as mulheres estão inseridas no trabalho – as principais dificuldades, avanços, conquistas e quais as propostas de melhoria para que tenhamos ambientes de trabalho onde as diferenças entre homens e mulheres não sejam sinônimo de desigualdade e sim de complementaridade.

Dados de pesquisas sobre mulheres no trabalho e emprego apontam que mesmo com maior escolaridade, as diferenças salariais entre homens e mulheres persistem: as carreiras femininas são mais irregulares do que a dos homens, as mulheres têm mais horas de trabalho e renda inferior. A divisão sexual do trabalho faz com que a designação do trabalho doméstico seja tarefa quase exclusiva das mulheres.

A promoção da igualdade de participação nos empreendimentos de autogestão tem sido foco de atenção da ANTEAG. A entidade hoje realiza encontros de mulheres para a discussão do tema em todo o país e garante a presença de trabalhadoras em sua direção e demais atividades. Porém, a igualdade na participação entre homens e mulheres nesses empreendimentos ainda é um desafio a ser superado. Na prática cotidiana, observamos as amarras da divisão sexual do trabalho – a mulher ainda é minoria nas direções dos empreendimentos, assim como em outros espaços de decisão e, freqüentemente, desempenham funções associadas às tarefas mais repetitivas.

Além do mais, devido à divisão desigual das tarefas do cuidado, mulheres têm mais horas de trabalho que os homens e, portanto, menos tempo livre. Uma cooperada tem mais dificuldade de participar de uma assembléia da cooperativa à noite se ela não tiver onde, ou com quem, deixar filhos e filhas.

Mas essa história vem mudando. As mulheres, através da organização coletiva, têm avançado para transformar esse quadro de desigualdades e adquiriram maior consciência de que, para superar as barreiras das desigualdades de gênero, devem ter maior participação nos espaços políticos e sociais.

Nesse sentido, a prática da autogestão e da Economia Solidária tem muito a contribuir, uma vez se propõe a criar novas relações sociais e de trabalho, nas quais o ser humano é o centro das atenções e a diversidade humana deve ser respeitada e estimulada. O cuidado com o outro é visto como uma responsabilidade coletiva, de homens e mulheres, reaproximando o trabalho produtivo da vida.

A ANTEAG, sendo uma associação de empresas de autogestão, de representação de seus interesses e estímulo ao seu desenvolvimento, assumiu o desafio do processo formativo nas questões de gênero em nível local e nacional e a capacidade de dar suporte para que as mulheres continuem se fortalecendo e, desta forma, construindo a Economia Solidária.

A importância de se trabalhar o tema de gênero surgiu na ANTEAG por demanda das próprias trabalhadoras que apontaram, em estudo realizado com as empresas de autogestão em 2003, dentro do Programa Especial de Qualificação – ProEsQ (Ministério do Trabalho e Emprego) -, a falta de ações direcionadas às melhorias nas relações de gênero dentro das empresas.

Em 2007, em parceria com a entidade holandesa Oxfam Novib e Secretaria Nacional de Economia Solidária – SENAES, a ANTEAG realizou o “I encontro Nacional de Mulheres da ANTEAG”, o qual contou com a participação de mulheres de empresas de autogestão de diversas regiões do Brasil. O encontro teve tamanho êxito que as trabalhadoras sugeriram a realização de encontros regionais que pudessem tratar os temas levantados no encontro nacional de forma mais aprofundada e a partir das realidades locais.

A cidade de Brusque foi escolhida para ser o local do encontro da região sul por sediar a empresa de autogestão Bruscor, que produz cordas e elásticos e possui 6 mulheres, dentre os 17 associados. Renildes, associada da Bruscor e membro da direção da ANTEAG, avalia que o encontro nacional foi uma conquista das mulheres: ”a possibilidade de termos participado de um evento nacional nos fez pensar e redescobrir o valor que temos dentro de cada empreendimento, cooperativas e em nossas casas. Mais ainda, que todas nós temos a capacidade de exercermos qualquer função em nossas empresas”.

Para os encontros regionais, a expectativa é que tenham um caráter diferente do nacional: “por se concentrar na região, creio que seja mais fácil a participação em maior número das mulheres” avalia Renildes e acrescenta: “ cada região é culturalmente diferente, e essas diferenças são importantes, temos é que aprender a lidar com elas da melhor forma possível e a tirar delas as lições, podendo assim crescermos ainda mais no nosso cotidiano, no nosso trabalho, na nossa família…” Por fim, Renildes antecipa as boas vindas a todas (e a todos) para o encontro de mulheres da região sul: “Com essa motivação, aguardamos todas e todos com muita alegria para que conheçam também nossa cidade, Brusque, a nossa empresa de autogestão, Bruscor, e demais projetos da Região”.