Fonte: Impresa do MST

O jornal O Globo divulgou reportagem de Soraya Aggege, no domingo (15/06), com o resultado de pesquisa de opinião sobre os movimentos sociais do campo – MST, Via Campesina, MAB (Movimentos dos Atingidos por Barragens), movimentos de quilombolas e CPT (Comissão Pastoral da Terra).

A pesquisa realizada pelo Ibope foi encomendada pela empresa mineradora Vale, que é alvo de protestos dos movimentos sociais, em função dos impactos sociais negativos causados causados por sua atuação nos estados de Minas Gerais, Pará, Maranhão e Rio de Janeiro.

A pesquisa aponta que 46% são favoráveis ao MST, enquanto 50% são desfavoráveis. Entre as palavras que descrevem o MST, 27% é ?coragem?, 24%, Reforma Agrária; 21%, organização da sociedade; e 21%, justiça e 21%, igualdade social. 65% dos entrevistados manifestaram afinidade com o MST, embora 31% tenham declarado não concordar com o Movimento. Ao mesmo tempo, 45% dos pesquisados associam MST à violência, 61% a prejuízos à economia e 28% não concordam com seus objetivos.

Mas além disso, a pesquisa mostra que 40% acreditam que os fazendeiros não aceitam negociação com os Sem Terra e reajem às ocupações utilizando métodos próprios (com a ação de jagunços, pistoleiros e outros), sem amparo judicial.

Dos entrevistados pela pesquisa, 90% afirmam receber informações sobre os movimentos sociais por meio da televisão, outros 34% pelos jornais; 24% por rádio; 18% pela internet; 8% por revista.

“A pesquisa demonstra apoio da sociedade e do povo brasileiro ao MST, com 46% de aprovação à nossa luta. No entanto, a pesquisa apresenta resultados contraditórios, que atestam o bombardeio de notícias e caracterizações distorcidas dos movimentos sociais pela mídia. Logo, a pesquisa serve muito mais para condenar a mídia pela cobertura limitada e parcial do que a atuação dos movimentos sociais do nosso país”, afirma nota do MST. As entrevistas com 2.100 pessoas maiores de 16 anos, em metrópoles, cidades e regiões do interior de vários estados, foram feitas entre 26 de abril e 6 de maio deste ano.

“A pesquisa acaba por revelar um nível elevado de afinidade e favorabilidade da população para com os movimentos sociais ainda mais relevantes quando se consideram as circunstâncias desfavoráveis que têm para se fazerem conhecidos”, analisa o professor Carlos Walter Porto-Gonçalves, doutor em geografia pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) é professor da pós-graduação da UFF (Universidade Federal Fluminense).

“A pesquisa Ibope para a empresa Vale do Rio Doce deve ser entendida no contexto político em que foi feita. A própria pesquisa faz parte das lutas sociais em que está inserida e tem o objetivo de fornecer informações para que o setor empresarial, no caso representado pela Vale, estabeleça estratégias políticas em face do crescimento dos movimentos sociais no país.

Nesse sentido, a pesquisa parece se justificar posto que “81% dos entrevistados acham que os movimentos sociais estão se espalhando no país” e “69% acham que estão ganhando força” (Pesquisa Ibope/Vale). Por se tratar de uma pesquisa não sobre os movimentos sociais, mas sim sobre o conhecimento que a população tem sobre os movimentos sociais, a análise dos seus resultados carece de uma investigação mais criteriosa sobre qual a fonte de informação que os entrevistados têm sobre os movimentos sociais.

À exceção do MST, que “22% da população conhece bem e 75% conhece pouco”, a opinião sobre os demais movimentos sociais pesquisados diz que “79% nunca ouviram falar da Via Campesina” e “83% nunca ouviram falar da CPT – Comissão Pastoral da Terra”.

Tudo indica que a fonte de informação dos entrevistados não são os próprios movimentos sociais, mas sim os grandes meios de comunicação. Esses meios aparecem com grande destaque entre as instituições de mais confiança entre os entrevistados: nas metrópoles, é a 2ª instituição de maior confiança (67%), perdendo para as Forças Armadas (68%) e, no interior, só é a 1ª no interior de Minas Gerais (82%); em Imperatriz (MA) os meios de comunicação perdem para a Igreja Católica (80%), para as Forças Armadas (78%) e para as Igrejas Evangélicas (77%) e, em Cricaré (CE) perde para a Igreja Católica (84%).

Sendo os meios de comunicação a maior fonte de informação dos entrevistados sobre os movimentos sociais, é interessante saber que 65% dos entrevistados tenham manifestado Afinidade com o MST e 53% com os Quilombolas, ainda que 31% tenham declarado não concordar com o MST e 34% com os Quilombolas.

Dentre os entrevistados 46% se declararam favoráveis ao MST e 60% ao Movimento de Atingidos por Barragens – MAB. Esses dados são interessantes na medida em que o conhecimento que os entrevistados têm sobre os movimentos não tem como fonte os próprios movimentos sociais.

Aliás, a pesquisa acaba por revelar dados preocupantes sobre a cobertura de nossa imprensa com relação aos movimentos sociais, haja vista que mesmo sobre o MST, de longe o movimento mais conhecido, 75% dos entrevistados declararam “conhecer pouco”. Considerando-se que os movimentos sociais cumprem um papel importante de canalização de demandas sociais não institucionalizadas, esses dados nos dizem muito do caráter extremamente oficial da cobertura da imprensa onde, quase sempre, os movimentos sociais ou são olvidados ou são apresentados de modo desqualificado e como ameaça à ordem social, muitas vezes desrespeitando a boa norma jornalística de ouvir o outro lado.

O MST tem sido o mais visado e a pesquisa capta esse imaginário quando os entrevistados associam esse movimento à palavra Violência, a mais destacada com 45%, à palavra Manipulação, com 24%, a Radicalismo com 20% e com Ilegalidade, também com 19%. Todavia, registre-se que os entrevistados associam o MST a palavras positivas como: Coragem 27%; Reforma Agrária 24%; Organização 21%; Justiça 21%; Igualdade Social 21% e Liderança com 21%. Sendo assim, a pesquisa acaba por revelar um nível elevado de afinidade e favorabilidade da população para com os movimentos sociais ainda mais relevantes quando se consideram as circunstâncias desfavoráveis que têm para se fazerem conhecidos”.

Informações enviada por Igor Felippe Santos

Assessoria de Imprensa do MST

Secretaria Nacional – SP

Tel/fax: (11) 3361-3866

Correio – imprensa@mst.org.br

Página – www.mst.org.br

Movimentos Sociais: a causa e o método

Fonte: Análise de Roberto Malvezzi

Um breve comentário do sobre a pesquisa encomendada pela Vale do Rio Doce para auferir a visão da população brasileira sobre os Movimentos Sociais.

Há erros primários nos quesitos da pesquisa, demonstrando que os próprios pesquisadores desconhecem o que pesquisam. Por exemplo, a Pastoral da Terra nunca foi movimento social. É apenas uma pastoral que presta serviços ao povo do campo. A pastoral não tem base popular própria. Portanto, não faz nenhum sentido estatístico colocá-la ao lado dos reais movimentos.

Mas a pesquisa é muito interessante. Regra geral a população concorda com a causa dos movimentos do campo, particularmente a reforma agrária. Discordam do método. Daí duas conclusões simples: apesar da mídia bater todos os dias que a causa é anacrônica, não conseguiu modificar a opinião pública. Portanto, a causa dos movimentos, aos olhos do povo brasileiro, é justa e atual.

Segundo, a pesquisa mostra que a grande mídia conseguiu transferir a imagem de violentos exatamente para aqueles que são as vítimas da violência. A Pastoral da Terra, em seu Caderno de Conflitos, já registrou o assassinato de mais de 1500 lideranças rurais por conflitos de terra desde 1985. Que alguém aponte alguma lista de fazendeiros mortos. Portanto, se a grande mídia quiser ir às raízes da violência no campo, ela sabe muito bem onde elas estão.

Seria interessantíssima uma pesquisa sobre o agronegócio. O que será que pensa o povo brasileiro a respeito da concentração da terra, do trabalho escravo, do trabalho degradante nos canaviais, do desmatamento da Amazônia, da violência sobre as comunidades tradicionais, sobre os indígenas, dos assassinatos dos trabalhadores rurais?

Para nós que defendemos a causa dos movimentos, não deixa de ser uma ótima notícia. Vamos continuar as lutas por nossas justas causas. Duvido que outros métodos sejam aceitos. Na verdade, quando a grande mídia ataca o método, na verdade está atacando a causa. Qualquer método será válido, desde que não interfira realmente na iníqua estrutura agrária brasileira.

Conclusão, os movimentos, agora respaldados por pesquisas encomendadas por seus adversários, têm até a obrigação de continuar com sua luta justa e apoiada pelo povo brasileiro. Talvez seja hora de serem mais inteligentes nas manifestações, não perante a mídia, mas perante o povo que os apóia.

Por fim, não há o que temer da grande mídia. Essa pesquisa é a prova dos nove que, falem o que quiserem, o que é justo tem sua força própria.