Fonte: Informações enviadas por Lucio Uberdan (luciouberdan@gmail.com)
Parceria entre os ministérios da Justiça e do Trabalho e Emprego vai criar alternativas para reintegrar jovens presos ao mercado de trabalho por meio da economia solidária. “Serão implantadas incubadoras tecnológicas dentro dos presídios com a finalidade de capacitar profissionalmente e fortalecer a organização coletiva dos jovens”, explica o diretor de Fomento da Secretaria nacional de Economia Solidária (Senaes), Dione Manetti.
A iniciativa integra o Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci), sancionado nesta quinta-feira (19) pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e terá investimento de R$ 60 milhões até 2011, sendo R$ 12 milhões este ano.
O termo de cooperação entre os dois ministérios também estabelece ações preventivas à violência, como apoio aos grupos produtivos de jovens em comunidades submetidas a situações de criminalidade. Para o secretário nacional de Economia Solidária, Paul Singer, a ação do Pronasci representa uma nova etapa no enfrentamento ao problema da segurança pública pelo governo. “Estamos reconhecendo que há causas políticas, econômicas e sociais na violência”, observou Singer, durante a solenidade de assinatura do termo ao lado do ministro da Justiça Tarso Genro.
Outra linha de atuação prevista pelo Pronasci é a implantação de bancos comunitários que, diferente dos bancos tradicionais, não visam o lucro. Em vez disso, são voltados para o desenvolvimento local integrado por meio do financiamento a pequenos grupos produtivos combinado com contrapartidas sociais. “Entendemos que a competitividade acirrada pelo capitalismo desperta o que há de pior nas pessoas. Na economia solidária, recuperamos princípios como a cooperação e a valorização do ser humano”, ressalta Manetti.
Segundo ele, os jovens dos regimes semi-aberto, aberto e condicional também serão beneficiados pela ação. “Nosso trabalho será direcionado à ressocialização de indivíduos que cumprem pena, mas também aos egressos, seus familiares e aos bairros onde foram criados” explica Manetti. Ele acrescenta que a ação da economia solidária vai abranger as 11 regiões metropolitanas prioritárias do Pronasci. (Belém, Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Maceió, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo e Vitória).
*Iniciativa piloto -* Em Porto Alegre, a economia solidária já aponta novas perspectivas para presidiárias. No segundo andar da Penitenciária Feminina Madre Pelletier, na capital gaúcha, funciona uma sala diferente. Lá, rodeadas por tecidos, agulhas e maquinário, seis mulheres trabalham orientadas por princípios da colaboração. Elas formam o Grupo de Costura Liberdade (foto), um dos núcleos de produção da Rede Industrial de Confecção Solidária (Rics), que atende o Grupo Hospitalar Conceição, o maior do Estado.
Juntas, elas chegam a confeccionar 800 peças por dia. “Pra gente não tem tempo ruim. Nós somos boas e podemos tocar qualquer produção”, orgulha-se Noeli S., uma das apenadas. Segundo Clair Borges da Silva, colaboradora da Rics que orienta as trabalhadoras, a maioria delas chega ao grupo com noções mínimas da função. “Elas passam por um estágio, quando elas ensinam umas as outras o que sabem e geralmente saem daqui ótimas costureiras”, afirma.
“As apenadas passam, ainda, por capacitação em economia solidária”, complementa Evelize Gonçalves, agente de Desenvolvimento do Brasil Local (Projeto da Senaes) que acompanha o Grupo. “A gente parece mais uma família. A gente se ajuda, se ensina, conversa sobre tudo. Às vezes nos sentimos até livres aqui dentro”, afirma Noeli S., que revela a intenção de continuar costurando quando sair da prisão. “Estou economizando para comprar as máquinas”.
A idéia, segundo ela, é continuar na economia solidária. “Eu prefiro uma cooperativa, um ambiente mais solidário. O serviço rende mais e as pessoas se sentem bem”, argumenta Noeli S.. “Erramos, é verdade. Mas estamos pagando por isso. É muito triste uma prisão. Se tu é presa, não vale mais nada. Nós queremos voltar à sociedade regeneradas e não cheias de ódio”, diz Fabiana C., outra costureira do grupo.