Fonte: Secretaria Executiva do FBES

Organizada pelo Fórum Brasileiro de Economia – FBES, com apoio da Secretaria de Desenvolvimento Territorial – SDT/MDA e do Ibase, aconteceu na cidade do Rio de Janeiro, a Oficina de levantamento de especificações da dimensão econômica do sistema FBES de articulação de atores da Economia Solidária. A oficina ocorreu entre os dias 07 e 09 e teve como principal objetivo fornecer as bases de orientação para o desenvolvimento do sistema FBES de articulação dos atores de Economia Solidária. Contou com a presença de pessoas com experiência avançada no campo da comercialização, logística, sistemas de informação, moedas sociais e redes/cadeias solidárias.

Além disso, a oficina buscou oferecer a possibilidade de estruturar processos coletivos de desenvolvimento de sistemas de informação que sirvam de instrumentos para potencializar e fortalecer a economia solidária na sua dimensão de atividade econômica, seja integrando ferramentas, seja buscando bases comuns de comunicação entre as mesmas, seja partilhando de funcionalidades comuns que permitam o aproveitamento entre as iniciativas.

Há várias propostas em curso no país com este objetivo, e uma delas é o sistema FBES de articulação dos atores da economia solidária (ainda sem nome), que integra três dimensões:

Rede de relacionamentos:

Cada usuário/a tem uma página própria, em que pode colocar artigos, fotos, agenda, mostrar de quais empreendimentos solidários participa, documentos, gerenciar amigos, etc. Poderá também participar de comunidades virtuais, que podem ser de pessoas de um mesmo bairro, território ou região, ou então comunidades temáticas (por exemplo, comunidade para debater logística solidária, ou a comunidade da formação em ES), ou então comunidades de redes e cadeias (por exemplo, a comunidade do artesanato, ou a comunidade da cadeia do mel, ou a comunidade de trocas de experiência em lojas solidárias, etc….). O acesso é inteiramente gratuito: qualquer pessoa pode se cadastrar imediatamente como usuária, sem necessidade de autorização ou pagamentos.

Dimensão econômica:

Um sistema vivo de divulgação e comercialização de produtos e serviços da Economia Solidária e de apoio aos atores do movimento com fornecimento de informações de vários tipos: cada empreendimento cadastrado terá uma página para o seu empreendimento, em que pode divulgar os seus produtos/serviços, fotos, preços e formas de comprar. Além disso, o empreendimento terá acesso a funcionalidades para potencializar os seus trabalhos. O sistema integrará também o “farejador da Economia Solidária” ( www.fbes.org.br/farejador ), em que qualquer um(a) pode fazer buscas de produtos e serviços da Economia Solidária.

Organização por recortes (tags):

Todo o sistema é desenvolvido de modo a permitir a categorização de qualquer informação colocada pelos usuários, empreendimentos, comunidades e organizações, desde fotos e eventos a documentos e produtos. Isto permite que haja várias maneiras de navegar no próprio sistema, de acordo com recortes territoriais, econômicos ou temáticos. Assim, se por exemplo entramos no recorte temático “Marco Legal”, estaremos navegando pelo sistema vendo comunidades, eventos, documentos, artigos, reflexões, etc. que estejam relacionadas a este tema. O mesmo vale para os recortes territoriais e econômicos (de redes e cadeias solidárias).

As dimensões de rede de relacionamentos e de organização por recortes estão no estágio final de desenvolvimento e implantação (para saber mais, visite www.colivre.coop.br/Noosfero/SistemaFBES e para ver a versão de testes, visite http://ecosol.noosfero.com.br). A próxima etapa é desenvolver as funcionalidades econômicas do sistema, que serão de grande importância para que ele seja realmente de utilidade para empreendimentos solidários, entidades de apoio e bases de serviço.

Além do sistema do FBES, há várias outras propostas, e portanto será fundamental conhecermos melhor cada uma delas nesta oficina e aprendermos com elas, com vistas à integração e ao desenvolvimento conjunto. No campo de políticas públicas, vale citar os SECAFESs (Sistemas Estaduais de Comercialização da Agricultura Familiar e Economia Solidária) e o SNCJS (Sistema Nacional de Comércio Justo e Solidário), que buscam fomentar e regulamentar as relações comerciais solidárias e potencializar articulação em redes e cadeias solidárias e a construção de sistemas de garantia do Comércio Justo e Solidário.

Já no campo do movimento de economia solidária existem inúmeras experiências e iniciativas, tais como os bancos comunitários (e gestão das moedas sociais), o solidarius, a loja virtual do Mundo Paralelo, o sistema de elaboração de preços da Capina, a plataforma FACES de Comércio Ético e Solidário, o sistema Abelo de administração de empreendimentos solidários, a organização da APAT, a Central de Comercialização Solidária de Campo Grande, a Cadeia da Semente, apenas para citar alguns que serão partilhados nesta oficina, mas há muitos outros por este país. Esperamos que a oficina seja um momento de construção coletiva (nossa, que chavão, mas não deixa de ser bonito), que vá além de questões institucionais e permita um olhar estratégico para o desenvolvimento de ferramentas que ofereçam subsídios práticos para o avanço da economia solidária no país.

Sabemos que sistemas de informação (principalmente os virtuais) são algo descolado da realidade de dificuldade de acesso da população e dos empreendimentos solidários ao mundo digital, mas, por outro lado, a demanda por comercialização no campo da economia solidária só pode ser resolvida se um dos nós da questão for atacado, a informação: afinal de contas, uma das chaves fundamentais da comercialização é a gestão da informação, que permite a otimização e o conhecimento de oportunidades de compra e venda, e que é normalmente um trunfo inacessível das grandes corporações, distribuidoras de grande superfície e atravessadores, causando uma situação de dependência e fragilidade aos empreendimentos solidários.

Programação da Oficina

Quarta-feira, 7 de maio

Manhã

1. Apresentação e esclarecimentos quanto aos objetivos da oficina

2. Rodada de apresentação das/dos participantes: o que cada um/a está desenvolvendo no campo de fortalecimento de comercialização, logística, uso de moedas sociais ou organização em redes/cadeias? A apresentação já será no sentido de subsidiar os debates seguintes, portanto vai além de uma simples introdução.

3. Apresentação do sistema FBES de articulação dos atores da Economia Solidária seguida de questões e esclarecimentos, tanto da trajetória quanto da situação atual e perspectivas.

Tarde

A tarde será dedicada a apresentações e debates a partir de experiências já existentes de desenvolvimento de sistemas de informação na área da Economia Solidária, com o objetivo de provocar um debate sobre as possibilidades e limites de sistemas virtuais de informação e articulação econômica, política e temática. Estão previstas as seguintes exposições, de aproximadamente 15 a 20 minutos cada uma, seguidas de debates:

Solidarius: Euclides Mance

Loja virtual Mundo Paralelo: Miguel Stefen

Gestão de moedas sociais por bancos comunitários: Sandra Magalhães

Sistema Abelo de administração comercial de empreendimentos: Vicente e Terceiro

Sistema de informações sobre produção e comercialização no SECAFES/PB: Flávio Luna

Plataforma virtual dos Sistemas Estaduais de Informação em Economia Solidária e do Sistema Nacional de Comércio Justo e Solidário: Haroldo Mendonça, Rosemary e Fabíola

Quinta-feira, 8 de maio

A proposta deste segundo dia é nos debruçarmos sobre 6 áreas de funcionalidades econômicas a serem desenvolvidas do sistema. Em cada uma dessas, será feito um “toró de palpites” com as seguintes questões de referência:

Que funções devem estar disponíveis nesta área?

Como elas devem funcionar? (trata-se de imaginar realmente o uso de cada funcionalidade).

Quais as limitações e desafios de cada função? (trata-se de partir da realidade da economia solidária no âmbito local).

As 6 áreas de funcionalidades são as seguintes (detalhes ao final do documento):

Diagnóstico de redes e logística solidária

E-comércio

Moedas sociais

“Vizinhos” (o sistema aprende com o/a usuário/a e facilita encontros)

Sistemas Participativos de Garantia

Apoio à gestão de empreendimentos solidários (plano de viabilidade, ponto de equilíbrio e definição de preço, estoque, etc.)

O debate será a referência para a construção das especificações técnicas que orientarão o futuro do desenvolvimento do sistema FBES na sua dimensão de funcionalidades econômicas.

Sexta-feira, 9 de maio

O início da manhã será reservado para terminarmos o levantamento de funcionalidades das 6 áreas apontadas acima.

Estratégias e perspectivas de integração e parcerias

O resto da manhã e o período da tarde estarão reservados para o debate das estratégias de desenvolvimento do sistema e de sua integração/articulação com outras iniciativas, além das possibilidades de parcerias e comunicação inter-sistemas.

Quanto às estratégias de desenvolvimento do sistema, trata-se de definir quais devem ser as funcionalidades a serem desenvolvidas imediatamente, quais as que devem ficar a médio prazo e quais ficam para o longo prazo: em suma, organizar uma ordenação do desenvolvimento do sistema.

Quanto às perspectivas de integração/articulação/comunicação/parcerias, trata-se de pensarmos como evitar a duplicidade de esforços, dentro da filosofia do “conhecimento livre”: quanto mais conseguirmos desenvolver soluções de forma partilhada, mais otimizaremos trabalho e recursos e maior será a base de usuários utilizando e sugerindo alterações e melhorias, o que acarreta em aceleração no aperfeiçoamento do sistema.

Este será, portanto, o momento de pensarmos o que é possível avançar para trabalhos partilhados e integrados, com benefícios para todas as partes e satisfação das diversas necessidades específicas, levando à perspectiva de realmente construirmos coletivamente soluções para o campo de sistemas de informação, comercialização e articulação dos atores da economia solidária no país.

Participantes

Antonio Soares de Azevedo Terceiro – desenvolvedor da COLIVRE /BA

Celso Alexandre Avelar – SOLTEC/RJ

Daniel Tygel – Secretaria Executiva do FBES

Diogo Tsukumo – Kairós e projeto de logística em SP

Euclides Mance – Solidarius e RBSES

Eugênia – Ibase

Fabíola Zerbini – FACES/SNCJS

Flávio Melo de Luna – Consultor Estadual em Comercialização /PB

Haroldo Mendonça – SENAES/MTE

João Roberto – Ibase

Juliano Martins – Autor do livro “logística solidária”

Karlone Cabral Barroca – CECAF/PE

Maria Dalvani de Souza – Central de beneficiamento e Cadeia da Semente da Amazônia

Mayk Honnie Gomes de Arruda – ASSEMA /MA

Miguel Stefen – Consol e Mundo Paralelo

Paulo Aguinaga – Bio-Hortas e Rede Ecológica (a confirmar)

Regilane Fernandes – SECAFES – SDT/MDA

Rosemary Gomes – FACES/SNCJS e Onda Azul

Sandra Magalhães – Instituto Banco Palmas /CE e Rede de bancos comunitários

Sebastiana Almire – Central de Comercialização de Campo Grande/MS

Vanderli Pereira Pinheiro – APAT/MG e Rede Ecológica

Vicente Macedo de Aguiar – desenvolvedor da COLIVRE /BA

Xico Lara ou Ricardo – Capina /RJ

As 6 áreas de funcionalidades (alguns “pitacos” iniciais)

Diagnóstico de redes

A partir de informações sobre a produção e insumos que cada empreendimento vai fornecendo ao sistema, é possível fazer diagnósticos de redes. Em outras palavras, esta área consiste no conjunto de funcionalidades que permitem a visualização fluxos e áreas de concentração de produtos e serviços, o que estimulará e dará informações para a criação de iniciativas de logística solidária e centrais de comercialização e mesmo para a criação de novos empreendimentos (por exemplo, criar um empreendimento de galinhas caipiras numa zona com forte demanda deste produto).

Trata-se de encontrar oportunidades de casamentos e de criação de novos empreendimentos solidários e de logística solidária. Neste ponto há uma miríade de possibilidades, no sentido da criação de cadeias solidárias e fluxos solidários entre empreendimentos solidários.

Este conjunto de funcionalidades representará a disponibilização de um serviço aberto que permite a empreendimentos solidários um planejamento de alto nível, a partir da visualização de campos de oferta e de demanda e de possibilidade de negócios e parcerias entre empreendimentos solidários, o que normalmente são informações que ficam restritas a grandes empresas de distribuição e comercialização.

Esta área envolve também a necessidade de se pensar formas intuitivas e visuais de apresentar estes fluxos e concentrações em mapas e outros mecanismos (visual datamining).

E-comércio

A parte de e-comércio envolve as funcionalidades de vendas online, incluindo o sistema de avaliação por usuários sobre a qualidade e idoneidade do empreendimento e do comprador (como no mercado livre: avaliação de vendedores e de compradores) . A idéia é que o empreendimento tenha a opção de habilitar o recurso de vendas online, que estará desativado inicialmente. Antes de habilitar esta opção, é importante que os empreendimentos sejam suficientemente esclarecidos das dificuldades e exigências de entrar nesta “seara”, pois entrar despreparado pode causar um impacto extremamente negativo à imagem do empreendimento.

Moedas sociais

As comunidades terão, em seu painel de controle, a opção de habilitar uso de moedas sociais: os usuários desta comunidade terão contas financeiras daquela moeda social. Assim, é possível a transferência de valores em moeda social entre usuários desta comunidade. Além disso, os empreendimentos que façam parte desta comunidade poderão vender produtos com uso de moeda social para usuários que desta comunidade virtual.

Temos que pensar como fazer isso e como colar com a realidade do grupo que use a moeda social no mundo real, para evitar que as moedas sociais fiquem apenas na comunidade virtual, sem lastro na realidade.

Vizinhos

O sistema, a partir de registro e análise de como um usuário o está utilizando, irá pouco a pouco mostrando um quadro de “potenciais vizinhos”, ou seja, outros usuários que partilhem de interesses parecidos ou comunidades que tenham a ver com os seus gostos ou produtos e serviços que possam interessar a este usuário. Este conjunto de ferramentas seria muito útil para aproximar pessoas, empreendimentos e estimular a dinamização de comunidades.

Sistemas participativos de garantia (SPGs)

Esta área significa que uma determinada comunidade possa habilitar um módulo “sistemas participativos de garantia (SPGs)”, o que permitiria disponibilizar para esta comunidade funções para a gestão e acompanhamento de um SPG, como por exemplo a agenda de visitas, avaliações cruzadas, monitoramento, acompanhamento das visitas e reuniões, entre outras funções necessárias para manter vivo um sistema deste tipo.

Além disso, teria as funções normais de comunidades, que permitiriam a comunicação interna, debates entre usuários (e entre consumidores e empreendimentos), biblioteca de documentos, galerias de fotos, etc., como qualquer outra comunidade.

Apoio à gestão de empreendimentos solidários

Nesta área, as possibilidades são muitas: trata-se de funcionalidades que sejam de utilidade à gestão do próprio empreendimento, como por exemplo encontrar seu ponto de equilíbrio, fazer seu preço, verificar o andamento do negócio. Esta ferramenta será também um estímulo para que o empreendimento forneça informações sobre sua atividade produtiva e com isso possa fazer melhores planejamentos de sua produção e contribuir para a área de diagnósticos de redes.