Fonte: www.adital.com.br
Para as famílias que vivem em comunidades rurais, o uso do fogão à lenha ainda é uma realidade. Prática que remonta há milhares de anos, a descoberta de fontes de energia mais limpas (como o gás de cozinha ou a energia elétrica) não eliminou o uso da lenha. Pelo contrário. Segundo o Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Gás, ele superou o uso do GLP (Gás Liquefeito de Petróleo) a partir de 2001.
Do total de energia consumida nas residências em todo País, apenas 26% são à base do gás de cozinha e 38% ainda utilizam o velho fogão à lenha. Além do custo do botijão de gás – muito alto para a maior parte das famílias das comunidades rurais -, a dificuldade de acesso ao botijão em locais fora da zona urbana é um outro fator.
Nos fogões à lenha tradicionais, além de utilizar grande quantidade de biomassa, provocando impactos no meio ambiente, a fumaça produzida pela queima traz uma série de problemas de saúde para as famílias que utilizam o fogão à lenha, como doenças respiratórias e oftalmológicas. Para mudar essa realidade, o Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Energias Renováveis (IDER) está desenvolvendo um projeto de fogões à lenha ecoeficientes. Em 2006, com a parceria do Banco Mundial e da USAID Brasil, o IDER implantou 100 unidades nos municípios de Itapipoca, Trairi e Pentecoste.
Mas como um fogão que utiliza lenha pode ser considerado ecológico? Segundo o diretor do IDER, Jörgdieter Anhalt, o novo modelo de fogão garante eficiência energética. Ou seja: mais energia com menos lenha. “Os fogões ecológicos/ecoeficientes queimam até 60% a menos de lenha. Isto é uma grande economia e reduz drasticamente o impacto sobre o meio ambiente”, explica o diretor. O fogão ecológico é composto por uma estrutura de metal, tijolos e refratários, além de uma chaminé que concentram o calor nas bocas e na chapa. Toda a fumaça é exalada pela chaminé, sem contaminar o interior da casa. A estrutura é feita de tal modo que o calor da queima seja aproveitado de forma muito mais eficiente.
A idéia já vinha sendo praticada desde a década de 40 em países como a Índia, e vários outros modelos de fogões ecoeficientes foram empregados em diversos países da Ásia, África e América Latina. O trabalho de IDER foi adaptar esses fogões à realidade do Nordeste brasileiro. O modelo de fogão que o IDER trabalha é construído a partir de materiais que podem ser encontrados em municípios do interior e com técnicas facilmente aprendidas por trabalhadores locais. “O fogão também é adaptado para o tipo de madeira utilizada na região. Até a sua altura foi pensada na mulher nordestina, o que ajuda a acabar com as dores nas costas causadas pela necessidade de se agachar para cozinhar e de carregar grandes quantidades de lenha”, ressalta Anhalt.
Além de ganhar o fogão sem qualquer custo, as comunidades também foram envolvidas em um trabalho de educação e preservação ambiental, por meio da identificação coletiva das principais potencialidades e ameaças ao meio ambiente. A partir daí, definiram-se ações de proteção. “Foi decidido, por exemplo, não retirar mais lenha das encostas da serra, replantar áreas degradadas e proteger as fontes de água. Toda esta etapa contou com a participação das escolas, com destaque para apresentações de teatro e vídeos”.
Um dos novos parceiros a apoiar o projeto é o Governo do Estado do Ceará. Foi assinado um convênio para a implantação de mais 4 mil unidades dos fogões ecoeficientes para beneficiar famílias rurais. Atualmente, o IDER trabalha nos municípios de General Sampaio, Senador Pompeu, Tamboril, Reriutaba, Meruoca, Mauriti, Umari, Lavras da Mangabeira e Salitre. Há expectativas para a ampliação do número de beneficiados dentro e fora do Ceará.