Texto de Edgard Patrício

Para se estabelecer as aproximações entre economia solidária e meio ambiente, e como militante há bem mais tempo do movimento ambientalista, meu primeiro passo foi identificar os princípios que regem as práticas da economia solidária. O Fórum Brasileiro de Economia Solidária enumera os princípios gerais que devem nortear as iniciativas desse sistema de produção.

São eles: 1) a valorização social do trabalho humano; 2) a satisfação plena das necessidades de todos como eixo da criatividade tecnológica e da atividade econômica; 3) o reconhecimento do lugar fundamental da mulher e do feminino numa economia fundada na solidariedade; e 4) a busca de uma relação de intercâmbio respeitoso com a natureza.

O Fórum também identifica os valores que perpassam as práticas da economia solidária. Afirma que 1) o valor central da economia solidária é o trabalho, o saber e a criatividade humanos e não o capital-dinheiro e sua propriedade sob quaisquer de suas formas; 2) a economia solidária representa práticas fundadas em relações de colaboração solidária, inspiradas por valores culturais que colocam o ser humano como sujeito e finalidade da atividade econômica, em vez da acumulação privada de riqueza em geral e de capital em particular; 3) a economia solidária busca a unidade entre produção e reprodução, evitando a contradição fundamental do sistema capitalista, que desenvolve a produtividade mas exclui crescentes setores de trabalhadores do acesso aos seus benefícios; 4) a economia solidária busca outra qualidade de vida e de consumo, e isto requer a solidariedade entre os cidadãos do centro e os da periferia do sistema mundial; que 5) para a economia solidária, a eficiência não pode limitar-se aos benefícios materiais de um empreendimento, mas se define também como eficiência social, em função da qualidade de vida e da felicidade de seus membros e, ao mesmo tempo, de todo o ecossistema; e que 6) a economia solidária é um poderoso instrumento de combate à exclusão social, pois apresenta alternativa viável para a geração de trabalho e renda e para a satisfação direta das necessidades de todos, provando que é possível organizar a produção e a reprodução da sociedade de modo a eliminar as desigualdades materiais e difundir os valores da solidariedade humana.

Em suma, a economia solidária constituiria o “fundamento de uma globalização humanizadora, de um desenvolvimento sustentável, socialmente justo e voltado para a satisfação racional das necessidades de cada um e de todos os cidadãos da Terra seguindo um caminho intergeracional de desenvolvimento sustentável na qualidade de sua vida”.

Através de um exercício simples, podemos identificar as interfaces entre economia solidária e meio-ambiente. Para isso, basta cruzar os termos comuns empregados tanto pelos participantes dos movimentos ambientalistas quanto pelos militantes da economia solidária, seja na defesa de seus princípios, seja na crítica ao sistema de produção ainda predominante. Partindo-se dos princípios e valores da economia solidária, vamos encontrar coincidências entre os dois discursos no ‘intercâmbio respeitoso com a natureza’, no ‘capital-dinheiro e sua propriedade’, na ‘acumulação privada de riqueza’, na ‘qualidade de vida e de consumo’, na ‘felicidade de todo o ecossistema’, no ‘desenvolvimento sustentável’, na ‘justiça social’, nas ‘necessidades racionais’, na ‘necessidade de todos’, na ‘qualidade de vida’.

É a partir desses protótipos de conceitos, e das relações possíveis entre eles, que detalharemos, em um próximo texto, a aproximação entre economia solidária e meio-ambiente.

Texto publicado no site da Adital (www.adital.com.br) em 30.11.07

Edgard Patrício é jornalista que escreve aos domingos, há dez anos, a coluna Ecologia, no jornal O Povo, e participa, através da ONG Catavento Comunicação e Educação, da Rede Cearense de Socioeconomia Solidária. Colaborador de Adital