Fonte: rede_agenda21_paulista@yahoogrupos.com.br
A divulgação do relatório final do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), órgão da ONU, não deve contemplar a Amazônia, conforme anteciparam participantes das discussões fechadas entre 130 delegações estrangeiras, em Valência, Espanha. Assim, na compilação de outros três documentos divulgados pelo IPCC ao longo do ano – uma síntese para formuladores de políticas públicas – não vai constar a maior floresta tropical do Planeta.
Caso se confirme a exclusão da Amazônia desse relatório, será um grave equívoco. Estudos apontam a vulnerabilidade desse bioma à ameaça do aquecimento global. A floresta, agredida para extração ilegal de madeira, por queimadas para expansão de áreas de plantio e por projetos que priorizam retorno financeiro a curto prazo, sem considerar formas mais inteligentes e sustentáveis, já é apontada como vítima do efeito estufa. Um dos sintomas são as secas severas, como a de 2005.
Outro risco da elevação de temperatura na região amazônica seria a transformação da floresta fechada em área de vegetação aberta, o que levou a pensar na Amazônia se tornando Cerrado. Como se isso fosse possível e como se o Cerrado, bioma riquíssimo mas pouco considerado para políticas públicas de proteção, tivesse menor importância. Nem uma coisa, nem outra.
Como alertou o professor Altair Sales Barbosa, professor do Instituto do Trópico Subúmido da UCG, em artigo publicado em março no POPULAR, no lugar da Amazônia destruída há risco de restar deserto. E, nas palavras dele: “Uma área de Cerrado degradada jamais tornará a vir a ser Cerrado com toda sua biodiversidade. Alterando as condições de solo para melhor, através de correções, até uma floresta pode-se criar no local; Cerrado, nunca mais”. Um irreversível prejuízo ecológico.
O desprezo pelos biomas brasileiros no relatório político da ONU é motivo de preocupação, já que esse documento pauta ações de governos. E chama atenção da opinião pública para a necessidade de repensar comportamentos, de cobrar uma atuação política coerente com a urgência dos problemas ambientais e a aplicação efetiva de programas e pesquisas que possam contribuir para a preservação e o desenvolvimento sustentável.
Tanto a Amazônia quanto o Cerrado não podem ser ignorados quando o assunto é aquecimento global, pois alimentam o fenômeno enquanto são também por ele devorados.