Fonte: www.caritas.org.br

A Declaração de Montevidéu “pela construção da economia solidária na região”, foi resultado do seminário convocado pelo departamento de Justiça e Solidariedade do Conselho Episcopal Latino-americano (Celam), do qual participaram representantes de todas as Cáritas da América Latina. O encontro teve como objetivo principal oferecer aos participantes a oportunidade de conhecer os enfoques e experiências que existem no continente sobre microfinanças, autofinanciamento, economia solidária e autogestão para que, sob o marco da Doutrina Social da Igreja, participem, promovam ou acompanhem estas experiências a partir da Igreja local.

Durante os dias do seminário foram compartilhados os princípios básicos da Doutrina Social da Igreja que podem ser aplicados à economia em geral, à economia solidária e às microfinanças. Também foram analisadas as experiências existentes nos distintos países e tentou-se identificar as modalidades de promoção, participação ou acompanhamento da Igreja às experiências e a forma de fortalecê-las.

Traduzido por José Maria G. Caselles

“Nós, representantes de 17 países da América (Estados Unidos, México, República Dominicana, Haiti, Honduras, Colômbia, Panamá, Costa Rica, Guatemala, Equador, Peru, Bolívia, Brasil, Paraguai, Chile, Uruguai e Argentina), convidados/as pelo Departamento de Justiça e Solidariedade do Conselho Episcopal Latino-americano a participar do «Seminário para promover economias mais solidárias para a região», nos encontramos na cidade de Montevidéu, Uruguai, de 24 a 28 de junho de 2007.

O evento acolheu representantes de diferentes entidades relacionadas com as Microfinanças, Cooperativas, Desenvolvimento Local, Comércio Justo, Turismo Solidário, Empresas de Comunhão, representantes de movimentos sociais, responsáveis de Cáritas e Pastorais Sociais dos distintos países.

Neste contexto constatamos que a variedade e riqueza de experiências e expressões da economia solidária na América Latina e Caribe confirmam a Economia Solidária como um caminho de desenvolvimento humano integral.

Inspirados na “Opção Preferencial pelos Pobres”, refletimos acerca da situação atual e futura da Economia Solidária e sua relevância no desempenho de suas atividades e experiências, destacando, em todas elas, que é necessária uma transformação cultural nas relações econômicas, considerando as categorias de: cooperação, comunhão, confiança, produção autogestionária, comércio justo, microfinanças solidárias e consumo ético de todos os atores envolvidos no processo e a urgente necessidade da incidência no âmbito das políticas públicas para conseguir um desenvolvimento humano integral no local, regional, nacional e internacional.

A partir das experiências compartilhadas resgatamos as seguintes fortalezas:

1. O trabalho articulado em redes locais, nacionais e regionais que transcendem o âmbito eclesial;

2. A contribuição da Doutrina Social da Igreja como enfoque alternativo na direção de uma economia a serviço da pessoa e centrada nela;

3. O processo formativo que desencadeia a economia solidária;

4. O envolvimento dos setores populares na definição de estratégias participativas;

5. A Economia Solidária como contribuição aos Fóruns Sociais Mundiais.

E as debilidades/riscos seguintes:

1. O difícil equilíbrio entre fins e meios: entre a opção pelos pobres e as ferramentas de eficiência e técnica;

2. A maior preocupação pela sustentabilidade das ferramentas que pela lógica do desenvolvimento humano;

3. A falta de previsão orçamentária adequada, de mecanismos de medição e avaliação junto com indicadores de impacto social;

4. A freqüente visão de curto prazo nos projetos. Tensões entre as condições dos cooperantes e os processos locais;

5. Criação de expectativas além das possibilidades reais de factibilidade.

Temos identificado os seguintes desafios:

1. Transcender de uma lógica assistencialista a una lógica de desenvolvimento integral e solidário, onde as pessoas recuperem seu protagonismo, o exercício de seus direitos e a prática de suas obrigações;

2. Trabalhar na elaboração de propostas que contribuam na construção de um contexto legal no qual a economia solidária integre as políticas públicas de desenvolvimento;

3. Considerar as problemáticas migratórias e sua vinculação com a Economia Solidária como uma alternativa;

4. Potencializar e consolidar as redes de Economia Solidária existentes nas Cáritas/Pastorais Sociais, com outras pastorais e grupos;

5. Sistematizar as experiências existentes como elementos de formação na Doutrina Social da Igreja, iluminadas por ela;

6. Continuar com a formação e capacitação, tanto na questão ética dos agentes pastorais que atuam na Economia Social e Solidária como na formação específica;

7. Consolidar e procurar novos mecanismos de articulação com outros atores: Estado, setor privado, organizações da sociedade civil e cidadania.

Frente ao anterior, identificamos as seguintes prioridades:

1. Desenvolver o contexto conceitual da economia solidária, assim como indicadores que possibilitem medir seu impacto na transformação da vida das pessoas;

2. Articular os esforços para a promoção da economia solidária. Por um lado, as pastorais sociais-Cáritas em cooperação com as comunidades eclesiais de base e, por outro lado, com outras redes da sociedade civil que vêm trabalhando a temática tais como RIPESS, Mesa latino-americana sobre Comércio Justo, REMISOL, Latindadd-Jubileu da dívida externa;

3. Fortalecer as iniciativas de economia solidária e gerar condições para sustentabilidade, o que requer adequadas políticas públicas que a promovam;

4. Impulsionar processos de capacitação e formação tanto em aspectos econômicos como em valores éticos.

Nos comprometemos a:

– Desenvolver programas e módulos de formação em economia solidária dirigidos a promotores, líderes e membros de base das experiências de Economia Solidária;

– Informar e comunicar os processos e avanços da economia solidária em seus diversos componentes e instrumentos, para o qual colocaremos em funcionamento um grupo de discussão eletrônica;

– Elaborar propostas de incidência política para abrir oportunidades para o fortalecimento e desenvolvimento das experiências de economia solidária;

– Facilitar o intercâmbio comercial e de experiências de economia solidária para extrair lições aprendidas;

– Impulsionar a realização de feiras integrais no sentido que contenham aspectos de intercâmbio comercial, assim como seminários, oficinas, etc, que permitam seguir trabalhando o conceito e estratégias da economia solidária;

– Nomear um representante em cada país das Pastorais Sociais/Cáritas para trabalhar em rede o tema da Economia Solidária.

Comprometidos a ser uma Igreja dos pobres capaz de se arriscar no dia-a-dia para construir uma economia solidária como esperança para América Latina e Caribe, tal como afirmou SS João Paulo II ante a CEPAL.

Colocamos nossos esforços compartilhados como sementes do Reino que estamos construindo”.