Fonte: www.opovo.com.br

Experiências de cooperativismo espalham-se pelo Ceará. São iniciativas que buscam universidade e outras entidades que possam auxiliar na organização e orientação desses grupos. Aos poucos, vão se construindo espaços onde o Comércio Justo e Solidário começa a prevalecer.

É na união e organização dos pequenos produtores que está a base do Comércio Justo e Solidário. No empreendedorismo cooperativo, como chama o professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), Osmar de Sá Ponte Júnior. Na universidade, o estímulo a esse associativismo é feito com a Incubadora de Cooperativas Populares, do qual Ponte é coordenador e defende o cooperativismo “popular e autogestionário como inserção no mercado de trabalho”.

O projeto começou há 11 anos. Até hoje, mais de 40 trabalhos foram formados, significando mais de duas mil pessoas organizadas. Alguns desses trabalhos resultaram na loja Mercado Solidário, que – na avenida Monsenhor Tabosa, um dos principais corredores comerciais de Fortaleza – reúne artesanato e confecção de seis cooperativas. Segundo Ponte, um trabalho está sendo elaborado com minifábricas de castanha no município de Pacajus, na região metropolitana, e entorno. Essa incubação é um projeto que se aproxima de completar três anos, com financiamento da Fundação Banco do Brasil e do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Cada minifábrica é formada por uma cooperativa com cerca de 40 pessoas. A produção por unidade é de cerca de 150 toneladas.

Enquanto isso, o Maciço do Baturité formaliza sua primeira cooperativa. São 13 municípios reunidos na Cooperativa dos Produtores Agropecuários do Maciço de Baturité (Coopamab). Inicialmente, a Coopamab conta com 50 pessoas, cada uma representando uma família. A produção deve ser escoada ali mesmo no Maciço em parcerias com prefeituras, por exemplo. Esse processo deve reunir outros grupos associados e movimentar cerca de mil pessoas diretamente. Para o professor, as cooperativas autogestionárias rompem a tradição da subordinação e traz os produtores como “sujeitos pró-ativos, capazes de construírem um conhecimento adequado às suas novas necessidades”.

Na luta por emprego e renda, os produtores iniciam processos mais igualitários, às vezes sem saber que o estão praticando. O Comércio Justo e Solidário mostra-se nesses exemplos e em outros espalhados pelo interior cearense. No Centro de Estudos do Trabalho e Assistência ao Trabalhador (Cetra), o incentivo ao associativismo tem gerado bons resultados, principalmente nos municípios de Itapipoca, Quixeramobim e arredores. O coordenador executivo do Cetra, Felipe Pinheiro, conta que Itapipoca tem sua Rede de Agricultores Agroecológicos. Mensalmente, os produtores – todos familiares, oriundos de assentamentos da reforma agrária – reúnem-se para discutir a produção sem agrotóxicos e o manejo adequado do solo.

Em Itapipoca estão reunidas 800 famílias de 20 comunidades distintas que semanalmente promovem a Feira Agroecológica e Solidária. “As feiras reúnem conceitos tanto da agroecologia quanto da economia solidária”, destaca o coordenador. No município, Pinheiro explica que há uma experiência de banco comunitário e cooperativa de crédito que está sendo reproduzida em Quixeramobim. No Sertão Central, são 500 famílias envolvidas, “donas dos próprios negócios”. Assim como o professor da UFC, Pinheiro defende o cooperativismo como alternativa de organização dos trabalhadores em processo de inclusão na economia. “O cooperativismo é uma alternativa dos empreendimentos se auto-organizarem e é uma forma de inclusão da agricultura no processo de economia familiar”.

Reportagem de Camille Soares