Fonte: www.adital.com.br

Das mãos caridosas da missionária Catequista Franciscana, teve início na cidade de Dourados, no Mato Grosso do Sul, uma Rede de Economia Solidária que hoje envolve 250 empreendimentos solidários. De passagem por Dourados, a irmã viu a necessidade de centenas de mães de família que se encontravam sem emprego e sem perspectiva de vida e decidiu doar toda a sua herança em prol dessas pessoas.

Com a herança, em janeiro de 2004 foi fundada a organização não-governamental “Mulheres em Movimento”, a qual passou a financiar grupos que quisessem produzir a partir dos princípios da Economia Solidária. Participando de eventos, encontros e conferências a nível nacional e internacional, a entidade chegou à conclusão de que poderia fundar um banco comunitário e oferecer à população, além do crédito para produção, outros produtos e serviços. Foi daí que, em julho de 2006, a ONG criou o Banco Pirê.

Atualmente, o Banco é integrado à Rede Brasileira de Bancos Comunitários, da qual participam 13 bancos que trabalham com moeda social e outros serviços. Os financiamentos se estendem a 250 empreendimentos que utilizam o Pirapirê como moeda social para comercializar artesanato, alimentos, materiais de limpeza e serviços. Os financiamentos são realizados em duas linhas de crédito: uma para produção e outra para o consumo.

Para a produção é oferecido um crédito de até 4 mil reais para a compra de equipamento, matéria-prima e capital de giro. Já o financiamento para o consumo ajuda a comunidade a ter acesso ao consumo de produtos em lojas que aceitam o Pirapirê através do cartão de crédito PirêCred. A maior parte do crédito é utilizado nas três Lojas Solidárias de Dourados que já contam com 130 empreendimentos solidários. A idéia é crescer ainda mais. “Pretende-se ampliar o número de Lojas Solidárias em vista de oportunidade para a prática do consumo ético e solidário”, afirma Lenita Gripa, coordenadora do Banco.

Primando pelo comércio solidário e responsável, a Rede capacita grupos e famílias que desejam integrar-se aos empreendimentos através do curso “Formando Times”, onde, os participantes trabalham com os temas cooperativismo, relações interpessoais, planejamento do empreendimento, economia solidária e seus princípios e Rede de Economia solidária. “O Banco Pirê prima pela formação a partir dos princípios da Economia Solidária. Acredita que, mudando a maneira de pensar, é possível mudar a ação em vista da preservação dos ecossistemas e construção das relações de cooperação no lugar da competitividade”, explica Lenita.

Além da formação, o Banco acompanha a gestão dos empreendimentos solidários através de um grupo multiprofissional de voluntários que, semanalmente, se desloca até os empreendimentos para acompanhar o desenvolvimento. As relações de solidariedade, cooperação e autogestão são reforçadas nos encontros que os participantes da rede mantêm mensalmente, onde fazem também o planejamento da comercialização e discutem o aprimoramento dos empreendimentos.

De acordo com a coordenadora, hoje o Banco Pirê gera 750 postos de trabalho diretos e mais de 1.000 indiretos. “É um Trabalho realizado sem exploração, sem degradação do meio ambiente, valorizando, acima de tudo, a pessoa trabalhadora e respeitando as diferenças individuais no trabalho coletivo”, diz Lenita. Para ela, o crédito concedido pelo Banco Pirê é a porta de entrada para a inclusão produtiva, já que, estando produzindo, a família passa a ter trabalho, renda, cidadania e auto-estima. “Ela passa a sentir-se gente capaz, valorizada, incluída. Muitos voltam a estudar, recuperam o sentido da vida, uma razão para viver”, completa.

Por Naara Vale, jornalista da Adital