Fonte: www.fase.org.br

Por Fausto Oliveira

A proximidade dos jogos Pan-americanos está trazendo para o Rio de Janeiro um contexto de violação de direitos e violência policial extremado. A operação no Complexo do Alemão é apresentada ao Brasil inteiro pela mídia comercial como se não tivesse relação com a realização dos jogos. Não é o que pensam as comunidades do Alemão e de outras favelas cariocas que, conforme anúncio do governo do Rio de Janeiro, também sofrerão ações de sufocação com violência. Para elas, mais uma vez as autoridades querem manter uma imagem de ordem urbana a custa do sofrimento dos mais pobres, tudo porque a cidade estará focada pela mídia comercial internacional. Em resposta a esta política de segurança que ignora os direitos de quem vive nas comunidades, diversas organizações planejam protestar durante o Pan-americano.

Um ato público diante da sede da Prefeitura do Rio de Janeiro está marcado para o dia de abertura do Pan-americano, 13 de julho. Entre as várias entidades que vão participar, estão o Fórum Estadual de Luta por Reforma Urbana, do qual a FASE faz parte, Central dos Movimentos Populares, Confederação Nacional das Associações de Moradores, Central Única dos Trabalhadores, Ibase, sindicato dos profissionais de ensino, Conlutas e outras organizações. “Nossa avaliação é de que toda essa repressão nas favelas do Rio de Janeiro é em função do Pan-americano”, diz a educadora da FASE Rio de Janeiro Mônica Ponte.

“O Complexo do Alemão está há 53 dias sob repressão, o morro do Chapéu Mangueira teve um dia de tiroteio por várias horas seguidas, e além disso houve uma série de remoções de pequenas favelas que ficavam em lugares onde se instalaram equipamentos do Pan-americano, sem indenizações justas e assessoria aos moradores. É algo que se iniciou bem próximo da chegada do Pan, por isso fazemos esse vínculo”, afirma ela. No dia seguinte à entrevista de Mônica Ponte ao Fase Notícias, o governo estadual anunciou que fará operações de sufocação também nas grandes comunidades de Mangueira, Jacarezinho, Cidade de Deus, Rocinha e Maré.

“Isso deixa claro qual é a política de segurança do governo estadual para os próximos quatro anos, uma política que criminaliza a pobreza. Não se sabe se os mortos são mesmo traficantes ou moradores de favelas. Quando morre, ele vira bandido. Quando fica ferido, a bala partiu do bandido. Como se sabe disso? A política de combate ao tráfico poderia ser feita de outra forma, preservando os moradores e principalmente os jovens”, diz a educadora da FASE. “Sabemos que o tráfico de drogas não está somente nas favelas, também estão no asfalto. Apesar disso, as ações têm sido especificamente nas favelas”.

No dia 5 de julho, as organizações que farão o ato público diante da Prefeitura estarão reunidas para uma entrevista coletiva. A intenção é avisar à sociedade que ninguém é contra o Pan-americano, simplesmente. O que se reclama é o respeito aos direitos de todos os moradores de favela. Não se pode aceitar que o combate ao crime organizado seja feito como espetáculo de mídia, em que os resultados apresentados são fotografias de soldados matadores fumando charuto e blindados do tipo “caveirão” destruindo acessos às moradias das pessoas. Depois que o Pan-americano passar, o que será feito? A polícia vai manter este ritmo insustentável de repressão intensiva? Ou vai voltar ao ritmo normal, deixando claro que a repressão tinha o único objetivo de compor uma imagem falsa e fascista de ordem e limpeza urbana?

Os movimentos também questionam o volume de investimento feito para os jogos Pan-americanos em face dos investimentos sociais. Se compararmos os orçamentos do evento com o que se podia fazer com o mesmo dinheiro em termos sociais, chegamos ao paroxismo. Urbanizar favelas, reforçar a presença dos serviços públicos essenciais nas comunidades, melhorar os serviços de saúde, ampliar redes de água e esgoto, limpar e drenar canais que enchem quando chove, dar acesso à cultura, ao lazer: há toda uma série de investimentos a fazer no Rio de Janeiro que aguardam recursos do volume que o Pan-americano consumiu. Fazer a opção pelo investimento social seguramente se traduziria em menos tensão nas favelas. Esta mesma tensão agora espanta e escandaliza a sociedade, que, desnorteada, pede e aprova situações que sacrificam as condições de vida dos mais pobres.