Fonte: www.valoronline.com.br

O Ministério da Integração Nacional repassou R$ 104 milhões ao Exército, dos quais R$ 30 milhões já foram gastos na compra de equipamentos. De acordo com o engenheiro Rômulo de Macedo Vieira, coordenador-geral do Projeto São Francisco, serão mobilizadas 260 pessoas (boa parte soldados) e 42 profissionais (engenheiros e técnicos).

Os militares ficarão responsáveis pela construção dos canais de aproximação, que vão ligar o São Francisco às estações de bombeamento das águas nos dois futuros eixos da transposição: Norte e Leste. Em Cabrobó, será um canal de três quilômetros; em Floresta, seis quilômetros. As obras sob comando do Exército, que incluem a abertura de estradas conectando rodovias maiores às estações de bombeamento, devem durar três anos.

A construção das estações será feita pela iniciativa privada. Os resultados da licitação de R$ 3,2 bilhões para as obras civis, divididas em 14 lotes, só serão conhecidos no fim de 2007. Dois lotes – um em cada eixo – são específicos para as estações. “É uma forma de trazer empresas especializadas nisso e reduzir custo”, afirmou Macedo. Ao todo, foram apresentadas 76 propostas, incluindo ofertas das principais empreiteiras do país – Odebrecht, Andrade Gutierrez, Queiroz Galvão, Mendes Junior, Camargo Corrêa, Schahin e OAS.

Ontem, o Ministério da Integração Nacional fez consulta à Advocacia-Geral da União para tentar excluir da licitação a Gautama, empreiteira envolvida nas investigações da Operação Navalha, da Polícia Federal. A Gautama integra um consórcio de empresas que apresentou proposta para o lote 8.

A fabricação de 18 moto-bombas, para aduzir as águas do rio, já foi contratada junto a multinacionais com plantas no Brasil. Foi resultado de outra licitação, no valor total de R$ 147 milhões, e os equipamentos serão instalados daqui a cerca de dois anos.

Macedo está convencido de que o início das obras é, finalmente, irreversível. “Já derrubamos mais de 20 liminares. Agora se criou uma certa jurisprudência em torno da obra e não há fatos novos”, observou o coordenador do projeto, confiante na ausência de novas medidas judiciais que atrasem o cronograma.

Segundo ele, não será possível concluir todo o empreendimento até o fim do governo Lula. Mas ficará tudo bem encaminhado: o eixo Leste (que beneficiará Pernambuco e Paraíba) estará 100% pronto em 2010 e o eixo Norte (que contemplará Pernambuco, Ceará, uma pequena parte da Paraíba e do Rio Grande do Norte) terá 60% das obras concluídas.

Ironicamente, a pedra fundamental do empreendimento será lançada por um ministro – Geddel Vieira Lima – que vem de um Estado, a Bahia, contrário à transposição. Na primeira quinzena de junho, o próprio Geddel fará uma expedição de cinco dias ao longo do São Francisco. A viagem começará na nascente do rio, em Minas Gerais, e acabará em Penedo (AL), na foz do Velho Chico. O ministro pretende encontrar-se com líderes comunitários, religiosos e políticos para rebater pessoalmente as críticas às obras de transposição.

Ao mesmo tempo em que Geddel fará o corpo-a-corpo da discussão, a Secretaria de Comunicação Social (Secom) da Presidência da República planeja campanha publicitária para tentar convencer os nordestinos sobre os benefícios do projeto. Segundo um assessor direto do ministro, a idéia é fazer inserções em rádio, televisão e grandes jornais. Não será uma peça de propaganda, mas uma campanha institucional de esclarecimento da população, diz o assessor.

O projeto que começará ser executado no próximo mês é aquele desenhado pelos ex-ministros Ciro Gomes e Pedro Brito à frente do ministério, mas não exatamente o de mais agrado de Geddel. Quando assumiu a Integração Nacional, em março, o novo ministro muniu-se de informações técnicos do projeto e levou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, algumas semanas mais tarde, uma sugestão: fazer apenas o eixo Leste, deixando o ramal Norte para uma segunda etapa do empreendimento.

Geddel achava que essa era uma forma de driblar as resistências dos opositores da transposição, que atacam principalmente o eixo Norte, baseando-se na premissa de que sua maior função será levar águas para o desenvolvimento de agricultura irrigada no Ceará. Lula recebeu a proposta, mas determinou a manutenção do projeto original – caso contrário, o potencial de uma briga com Ciro era alto.

O ministro peemedebista conseguiu emplacar a idéia de um programa para levar água às comunidades ribeirinhas, que hoje, embora próximas ao rio, vivem sem abastecimento contínuo. Em um esforço para acabar com esse problema – que dá munição aos críticos da transposição -, Geddel negociou com o Planalto a criação do Água para Todos e sua inclusão no PAC. O programa terá cerca de R$ 300 milhões, dentro do orçamento da Codevasf, para a instalação de canais, poços e cisternas que possibilitem o abastecimento de 1,8 mil comunidades ribeirinhas – umas 700 mil pessoas.

As obras de transposição devem custar cerca de R$ 4,9 bilhões – excluindo os gastos com a revitalização do rio e programas sociais vinculados ao projeto.