Fonte: www.coordinationsud.org

Na França, entende-se, por finanças solidárias, um sistema financeiro concebido para fornecer, por meio de estruturas e instrumentos específicos, financiamentos a projetos geradores de desenvolvimento econômico durável e de integração social.

Na França, as finanças solidárias surgiram no início dos anos 1980 para gerar :

– recursos financeiros para a criação de pequenas atividades econômicas vistas como um meio de lutar contra o aumento crescente do desemprego ;

– uma possibilidade aos cidadãos de se engajar concretamente na construção de uma sociedade economicamente mais justa e mais transparente, ao oferecer-lhe alternativas de aplicação de seu dinheiro por meio da economia solidária.

Ao contrário das instituições financeiras solidárias do sul, as da França geram, por suas intervenções, um vínculo entre poupadores (aqueles que têm os recursos financeiros) e devedores (aqueles que não têm os recursos financeiros), conferindo um caráter ético à sua economia. O vínculo social se estabelece entre as camadas que possuem condições para financiamento (mais abastadas) e aquelas que são excluídas dos circuitos tradicionais (mais pobres).

As instituições financeiras solidárias intervêm em uma lógica de troca e em bases econômicas ; movimenta-se por meio de financiamentos concedidos a atividades econômicas que deverão ser restituídas, e não à ação social com caráter de doação. As pioneiras surgiram sob formas bastante variadas :

– grupos de pessoas (no estatuto de indiviso) preocupadas em autogerir suas economias para aplicá-las na criação de uma empresa (os grupos Cigarras) ;

– associações que se especializam no financiamento de micro-empresas ou de empresas de inserção, por meio de parcerias bancárias (Adie, France Active) ;

– sociedades de capital de risco, que utilizam uma maneira original de financiamento : a contribuição com capital a fim de tornarem-se associadas das empresas financiadas ;

– sociedades financeiras, tipos de mini-bancos alternativos.

Contabiliza-se uma quinzena de sociedades agrupadas na rede Finansol.

As instituições financeiras solidárias possuem uma aproximação específica de seu público ao mesmo tempo em que no tipo de financiamento fornecido (financiamentos de valor baixo, de acordo com modalidades adaptadas às necessidades) e na recepção, no acompanhamento e no todo dos projetos financiados (escuta, formação, apadrinhamento). Elas exercem uma função que não é assumida pelas pioneiras financeiras clássicas mal equipadas ou criadas para servir esse tipo de público. Possuem um papel muito importante, não apenas pelos financiamentos que fornecem, mas também pelo efeito de alavanca que permitem ; sua intervenção é sempre o elemento desencadeador de um processo de inserção na economia clássica, o corredor de entrada para o sistema financeiro.

Seus recursos são híbridos. Atingem recursos de atividades, pois se movimentam muito da atividade econômica (juros cobrados sobre os empréstimos, dividendos e mais-valias dos investimentos realizados), mas também, necessariamente, recursos reembolsáveis (subvenções públicas ou doações privadas) e recursos baratos (parceria com bancos, refinanciamento bancário e economia solidária). Esta última é recolhida por meio de produtos financeiros (contas à prazo, contratos de seguro de vida, FCP – Fundo Comum de Aplicação, SICAV – Sociedade de Investimento de Capital Variável, participação nos lucros de sociedades de gestão, de garantia ou de capital de risco, participação nos indivisos…) que permitem drenar fundos para o financiamento de atividades econômicas solidárias por meio da aplicação direta feita dos fomentos e/ou das doações geradas pela divisão das rendas que liberam e que é dessa forma, portanto, uma poupança por natureza sub-remunerada em relação ao mercado. Apesar de só representar uma fração relativamente fraca dos recursos de algumas instituições financeiras solidárias, esse tipo de economia é, simbolicamente, muito importante. Com efeito, criou uma verdadeira cadeia entre os poupadores, as instituições e os projetos financiados. Além disso, permite aos cidadãos uma alternativa na escolha de suas aplicações e a possibilidade de levar em conta critérios diferentes e de se certificar de que sua economia apresentará um impacto positivo sobre a sociedade.

Hoje em dia, na França, as finanças solidárias são ainda relativamente confidenciais. Sua notoriedade é bastante fraca, mas se movimenta por um setor novo. Os pioneiros surgiram há menos de 20 anos.

Entretanto, os 27 produtos da economia solidária existentes acumulam, apesar disso, 260 milhões de euros. As quinze instituições agrupadas no Finansol financiaram 7000 projetos. Essas cifras avançam rapidamente, visto que cresceram acima do dobro em cinco anos. Atualmente, o crescimento está na ordem de 25% ao ano.