Fonte: http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=429568, por Cristiane Bonfim e Suelem Caminha

A totalização é de 1.255 negócios solidários no Estado. A receita bruta gerada no País é superior a R$ 96,7 milhões/ ano

O Ceará é o segundo Estado brasileiro com maior volume de empreendimentos solidários do Brasil. São 1.249 células mapeadas no Atlas da Economia Solidária no Brasil. Com outras seis incorporadas depois de esse estudo ter sido realizado em 2005, a totalização é de 1.255 negócios solidários no Estado.

´Este setor movimenta R$ 6 bilhões por ano em todo o País´, afirmou o diretor da Secretaria Nacional de Economia Solidária (Senaes), Dione Manetti, que defende a regulamentação da economia solidária no Brasil. A Senaes é vinculada ao Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).

Ele veio ao Estado para o seminário ´Construindo uma proposta de política pública de apoio à socieconomia solidária no Ceará´. O evento, realizado na sede do Banco do Nordeste (BNB), prossegue hoje com o painel ´Construindo a política de economia solidária para o Ceará´, às 8 horas.

No encerramento, previsto para hoje às 17 horas, será entregue um documento com as propostas elaboradas nos grupos de trabalho ao governador Cid Gomes (PSB).

Segundo o Atlas, 64% dos empreendedores solidários entrevistados em 2005 declararam que juntos geram uma receita bruta superior a R$ 96,7 milhões por ano, sem descontar os gastos com a produção. Outros 36% não apontaram o valor da produção. O documento disponível no site do Ministério não traz as informações detalhadas por Estado.

Mapeamento

Outros 500 empreendimentos solidários estão em fase de mapeamento pela Delegacia Regional do Trabalho (DRT), o que elevará o número do Ceará para 1.755 negócios desse setor. Hoje, a liderança é do Rio Grande do Sul, com 1.634 empreendimentos. Em todo o País, existem cerca de 15 mil iniciativas desse tipo, beneficiando 1,250 milhão de brasileiros. No Ceará, esses empreendimentos mobilizam 82.101 pessoas, sendo 36.124 mulheres e 45.977 homens.

Novo setor

Na visão de Manetti, o Brasil precisa reconhecer os empreendimentos solidários como um novo segmento econômico do País que se caracterizam pela organização coletiva e a distribuição dos resultados. Ele disse acreditar que , com a regulamentação, a elaboração de políticas públicas para o setor será facilitada.

O diretor da Senaes elogiou a iniciativa do governo Cid Gomes em promover o seminário que vai colher subsídios para compor a política de economia solidária estadual.

Foram identificados em 2005 no Atlas da Economia Solidária 14.954 Empreendimentos Econômicos Solidários em 2.274 municípios do Brasil. Isso significa que cerca de quatro em cada dez municípios do País contam com iniciativas de economia solidária.

O levantamento mostra uma maior concentração dos Empreendimentos Econômicos Solidários (EES) no Nordeste, com 44%. Os 56% restantes estão distribuídos assim: 13% no Norte, 14% no Sudeste, 12% no Centro-Oeste e 17% no Sul.

Atrair grande empresa não é o suficiente

O secretário de Trabalho e Desenvolvimento Social, Artur Bruno, disse que, a economia solidária é uma das prioridades do governo Cid Gomes. ´Atrair grandes empreendimentos é importante, mas só eles não serão responsáveis pela mudança para que a economia do Ceará dê um salto e ocorra a desconcentração da renda da população´, frisou o secretário que pretende incluir a economia solidária no Plano Plurianual do Estado.

O diretor da Senaes, Dione Manetti, justificou que a regularização da economia solidária no país é necessária. Segundo ele, apenas 35% dos trabalhadores brasileiros têm carteira assinada, enquanto o restante vive sob outras formas de trabalho, seja na economia informal, cooperativas, associações, redes de produção solidária e microcrédito.

´Por mais que o Brasil cresça não vai gerar emprego para todo o mundo, portanto, temos de mudar esta estratégia de desenvolvimento agregadora de valor para atingir muitos e não poucos, como acontece hoje´, argumentou. Para Manetti, a economia solidária promove o desenvolvimento de forma inclusiva, participativa e enfrenta e combate à pobreza. A Senaes tem atuado na articulação de políticas com os estados, municípios e a sociedade civil.

O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e o Banco do Nordeste Brasileiro (BNB), por intermédio do Instituto Banco Palmas, devem aplicar este ano cerca de R$ 600 mil no Programa de Apoio a Projetos Produtivos Solidários.

A expectativa é de que esses recursos possibilitarão a criação 22 bancos comunitários no Nordeste e no norte de Minas Gerais e do Espírito Santo.

A iniciativa pretende dar visibilidade e fortalecer a capacidade operacional dos projetos produtivos em comunidades carentes. Em 2006, o programa recebeu R$ 1 milhão, o que possibilitou a criação de 17 fundos rotativos solidários que financiam vários projetos produtivos. (CB)

Atividades que integram o segmento no Brasil

Economia Solidária é compreendida como o conjunto de atividades econômicas de produção, distribuição, consumo, poupança e crédito organizadas e realizadas solidariamente por trabalhadores sob a forma coletiva e autogestionária.

Nesse conjunto de atividades e formas de organização destacam-se quatro características principais: a cooperação, a autogestão, a viabilidade econômica e a solidariedade.

Entre outros, o segmento compreende organizações como associações, cooperativas, empresas autogestionárias, grupos de produção, clubes de trocas, redes e centrais. No trabalho de campo realizado no segundo semestre de 2005, foram visitados 14.954 Empreendimentos Econômicos Solidários com a realização de entrevistas em todos os estados abrangendo 2.274 municípios. O levantamento integra o Sistema Nacional de Informações em Economia Solidária (Sies). O SIES é um sistema de identificação e registro de informações dos empreendimentos econômicos solidários e das entidades de apoio, assessoria e fomento a esse setor no Brasil. (CB)