Fonte: Idalvo (itoscano2@uol.com.br)

Ultimamente a palavra solidariedade tem sido empregada abundantemente. Isso é bom, porquanto difunde a idéia de que não devemos ser indiferentes ao que ocorre à nossa volta.

Todavia, o sentido que se lhes atribuem é errôneo.

Consultando a origem da palavra encontramos para solidário, do latim solidu, sólido. Portanto, solidariedade seria “a qualidade do que é solidário; reciprocidade de interesses e obrigações”.

Visto desse ângulo, a solidariedade não tem o caráter caritativo, benemerente, piedoso e de compaixão que vulgarmente lhes estão conferidas. Assim, é a reciprocidade de interesses e obrigações que faz com que esta relação seja sólida e só há solidez se houver reciprocidade: eu existo em uma comunidade, sou responsável pelo destino da mesma e sei que todos se sentem responsáveis, também, pelo meu destino.

Portanto, apenas existe solidariedade quando ela se esparrama em direção a todos, pelo mundo e pela vida.

Não cremos que sejam solidário comportamentos que se restringem a um universo de iguais – agremiações, sindicatos, grupos e classes sociais; mas asseveramos como sendo solidárias práticas cujos efeitos buscam alcançar a totalidade da existência humana.

No campo das finanças, mencionamos anteriormente alguns tipos de atividades que fazem chegar aos empobrecidos recursos que lhes são vitais, mas, por mais importante que isso seja, não se tratam de práticas solidárias.

No nosso entendimento finanças solidárias são aquelas que reúnem em torno dessa prática a comunidade, que, não só se beneficia de créditos, mas que contribua com seus poucos recursos disponíveis para que outros possam também se beneficiar.

Do mesmo modo, não basta com que a comunidade participe das estratégias financeiras coletivas, mas que tenha um horizonte que compreenda a consolidação dessas práticas como o início de um novo processo de produção e reprodução da vida.

Nesse sentido, é importante que o respeito à natureza esteja presente. A solidariedade passa por não produzir bens que destruam recursos do meio-ambiente, a não consumir produtos nocivo à saúde, a denunciar a exploração do trabalho infantil, a exploração sexual de menores, não consumir produtos de fábricas que não respeitem os direitos trabalhistas etc.

Mas não apenas isso: não podemos considerar como práticas financeiras solidárias aquelas que incorporam a cobrança de juros extorsivos, que penalizam aqueles que não conseguem pagar seus compromissos, que constrangem os que necessitam de recursos e, principalmente, aquelas que se revestem de impessoalidade no trato com os produtores populares.

Para haver solidariedade, para haver economia solidária (campo no qual se inserem as finanças solidárias) é decisivo que os produtores populares se organizem de forma associativa, que não sejam patrões, mas parceiros, e que construam novas práticas sociais em torno de um projeto comum.

Não, ser solidário é um conceito amplo e compreende uma prática de vida, inclusive no campo das finanças. Mas isso não é algo que se alcance de imediato em um mundo extremamente competitivo e marcado pelo individualismo; é um processo histórico, mas que se não tiver início de imediato, não florescerá no futuro.

Caixa de texto: Solidariedade somente existe enquanto relação social, via de mãos múltiplas.