Fonte: Página 20, por Juracy Xangai

Mulheres e homens recebem orientação e apoio da prefeitura para garantir auto-suficiência com trabalhos alternativos

O fim do emprego é uma realidade cada vez mais presente nesse mundo tecnológico e globalizado. Por isso faz-se mais que necessário preparar as pessoas para que aprendam a identificar oportunidades e criem negócios capazes de garantir uma sobrevivência digna trabalhando só ou em grupo dentro da Economia Solidária. Segundo projeções da Organização das Nações Unidas (ONU), em 15 anos, 75 em de cada 100 habitantes do mundo estarão desempregados.

A boa notícia é que em Rio Branco a Secretaria da Agricultura e Floresta (Safra) em parceria com a Coordenadoria Municipal da Mulher, Coordenadoria Municipal da economia Solidária, órgãos do governo do Estado, Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e organizações não governamentais, vem preparando pessoas e comunidades inteiras para trabalhar e fazer negócios solidários. Uma prevenção social mais que necessária.

Mais do que apenas ensinar pessoas a fazer artesanatos, plantar flores e verduras, criar pequenos animais e costurar, o segredo do sucesso dessas atividades está em garantir mercado para seus produtos e serviços, já que sem dinheiro do bolso não existe atividade sustentável.

Nisso, o reordenamento dos nove mercados municipais da capital, ordenado pelo prefeito Raimundo Angelim e que se encontra em andamento, vem sendo fundamental para criar e garantir bons espaços para aqueles que praticam atividades solidárias.

No recém-reformado mercado Elias Mansour, onde havia 60 barracas beneficiando 180 produtores-feirantes por semana, agora são 152 barracas, usadas por 938 vendedores ocupando esses espaços, em rodízio, ao longo da semana.

Moradores da periferia e pólos agroflorestais estão sendo os primeiros beneficiados dessa operação que tem como principal objetivo garantir qualidade de vida e dignidade com igualdade de oportunidades para que a população rio-branquense possa continuar se desenvolvendo no futuro.

Flores no Belo Jardim

A proposta da prefeitura arborizar e ajardinas as ruas do bairro Belo Jardim estimulou a dona de casa Regiane Andrade do Nascimento, 33 , mãe de três filhos a participar do curso oferecido pela prefeitura e juntar-se às amigas para montar seu viveiro de plantas ornamentais e medicinais. “Começamos nosso plantio em abril do ano passado quando recebemos a doação de oito variedades de plantas para jardim, hoje temos uma média de 70 a 80 tipos. O projeto de urbanização do bairro teve de esperar a instalação dos esgotos e calçadas que já está aprovado, enquanto isso nós vamos vendendo plantas e vasos para outras pessoas”.

Ela e sua parceira Valdenícia Pereira que também trabalha no viveiro lembram que para topar a idéia deste trabalho, foi fundamental para elas os treinamentos recebidos não apenas com as plantas. “Participamos da Oficina Sebrae de Empreendedorismo e aprendemos muito com ela. Aqui já fiz sandálias decoradas, bolos e pudins para vender, o importante é não ficar parada”.

A dona de casa Maria José examina cada vaso enquanto dfaz perguntas a Ana Batista , mãe de uma filha, ex-funcionária pública que toca sua colônia no pólo Agroflorestal Benfica e é uma das vendedoras que se alterna na barraca que funciona na parte da feira coberta do mercado Elias Mansour vendendo plantas ornamentais e medicinais produzidos pelas mulheres da Associação dos Produtores do Benfica, a Coopfic e da Associação dos Pais e Amigos dos Dependentes Químicos (Apadeq).

“Somos quatro pessoas trabalhando nesta barraca onde as vendas são maiores durante os finais de semana, mas vende sempre e o importante é a gente ter um lugar seguro para colocar nossa produção. Em março vou para Ji-Paraná visitar uns viveiros de plantas tropicais de lá que estão exportando para o sul e para a Europa e o negócio está dando certo”, garante Ana.

Vendendo bananas e outras frutas no mercado Elias Mansour há mais de sete anos, o agricultor José Gurgel, 67 anos, pai de 16 filhos lamenta que depois de adoecer já não pôde mais tocar a colônia que agora está com um dos filhos. “Quando comecei a trabalhar neste mercado aqui tinha muita sujeira, depois da reforma nós ganhamos nova vida, ficou melhor de trabalhar, é asseado, isso aumentou a freguesia”.

Organizações produtoras

Dentre as novidades que se destacam na reestruturação do mercado estão o boxe concedido a associação dos piscicultores da Colônia Panorama e as artesãs da Cooperativa Paiol. Paulo Maia presidente da associação que reúne 17 produtores de pescado esclareceu que: “Este ponto tornou-se uma referência fundamental para garantir a comercialização dos peixes que produzimos. Isto porque tanto as donas de casa quanto os proprietários de pensões e restaurantes fazem compra direta ou nos encomendam as quantidades de peixe que necessitam”.

No boxe comercializam no varejo, o peixe tratado a R$ 6 e no atacado a R$ 4,50 o quilo. O sucesso que vem sendo alcançado pelos produtores do Panorama vem de um esforço conjunto da Fundação Banco do Brasil doando açudes, a seater e Sebrae investindo na orientação técnica para a produção e negócios, o Basa financiando custeio da alimentação, a Seap e Imac orientando e aprovando projetos ambientais, com a prefeitura, através da Safra, apoiando o projeto.

Olares, pulseiras e outras biojóias produzidas com sementes da floresta, além de camisetas temáticas e outros produtos como perfumes e doces regionais ganharam destaque no mercado a partir do momento que a Cooperativa Paiol ganhou um quiosque instalado dentro do mercado onde também há algumas bancas de artesãos independentes. Rosa Maia Lopes, 35 anos, mãe de um filho é uma das responsáveis pelo quiosque da Paiol. “Temos 30 associadas que trabalham em vários bairros de Rio Branco vendendo aqui, na Feira das Tribos e em outros locais. Os clientes acharam muito interessante a idéia da prefeitura abrindo espaço para vender artesanatos dentro do mercado. Com isso nós temos um ponto de venda permanente todos os dias da semana e domingo até o meio dia”.

Rosa Maria Santos, 29 anos, três filhos participa, há dois anos, da Cooperativa Renascer a Esperança, que ainda não foi formalizada pelas mulheres da comunidade Cristo Libertador. “Eu trabalhava na limpeza do pronto-socorro e quando fiquei um ano desempregada soube que a Pastoral Fé e Vida estava oferecendo cursos, fiz o de bijuteria e depois corte e costura. Hoje produzimos roupas, principalmente blusas de malha, vestidos para festa e calças sociais por encomenda. O maior problema ainda é onde expor nossos produtos pra vender”.

Mulheres em ação

Auto-suficiência é a palavra chave de tudo o que vem, sendo trabalhado na área produtiva pela Coordenadoria Municipal da Mulher, sob o comando de Rose Escalabrini. Ela lembra que tudo começou na parceria com a safra para estimular a formação de viveiros comunitários voltados à melhorar o ajardinamento das ruas, praças e avenidas da Capital. Novas propostas foram e continuam sendo acrescentadas ao longo dessa jornada.

“Aprender a trabalhar com o mercado é tão ou mais importante que aprender a produzir com qualidade. Este será um dos pontos principais a serem enfrentados em todos os projetos sociais daqui para frente. Essa é a chave do sucesso para as atividades da Economia Solidária”, destacou Rose Escalabrini. “A idéia é reservar um espaço para as atividades solidárias em cada um dos mercados e espaços públicos que estiverem sendo reestruturados”.

Através de parcerias com os mais diversos órgãos e entidades, as mulheres vem sendo capacitadas para trabalhar com floricultura, artesanato, hortas, corte e costura, qualidade na alimentação, em fim, um projeto que já agrega mais de 20 empreendimentos solidários produzindo renda e esperança de dias melhores com pequenos produtores abastecendo o mercado local.

Dentre eles vale destacar as 31 mulheres que participam da cooperativa de costureiras da comunidade Cristo Libertador na baixada da Sobral. Também os grupos de mulheres que vem se organizando na produção de artesanatos, salgadinhos e doces para a venda no varejo ou atendendo a festas e eventos na capital.

Ela lembra que para levar adiante a proposta algumas adaptações tem sido necessárias: “Uma das maiores dificuldades que temos é a tripla jornada de trabalho da mulher, a qual, além de trabalhar fora ainda precisa cuidar da casa, para facilitar essa situação criamos treinamentos que funcionam do meio dia às três da tarde ou em finais de semana, conforme fique melhor para da grupo”.

Mulheres do Mocinha Magalhães venderam plantas de seus viveiros para ajudar a decorar o Parque do Tucumã, enquanto as do Belo Jardim embelezaram a rua Antônio da Rocha Viana.

Reforma de prédios e conceitos

“A exemplo do que já fizemos no mercado Elias Mansour, mudanças semelhantes estarão acontecendo nos demais espaços públicos. Começando pelo mercado do Bosque para o qual já temos recursos prometido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para ser reestruturado com foco no turismo regional”, explicou o secretário Jorge Fadel, titular da Safra.

Há também, emendas parlamentares ao Orçamento Geral da União prevendo a liberação de dinheiro para obras de reestruturação dos mercados Luiz Galvez, na baixada da Sobral e no Mercado da Estação Experimental que também será transformado em referência para taxistas e freteiros que atuam ao longo da BR-364 no rumo de Sena Madureira e Manuel Urbano.

“O mercado da Experimental vai ser totalmente revitalizado e ainda ganhará barracas metálicas para atender aos produtores dos pólos Geraldo Mesquita e Hélio Pimenta”. Então Fadel esclarece que: “Além de produzir em quantidade e qualidade, nosso público prioritário está aprendendo técnicas de venda, a atender o cliente, como formar preço, controlar seu movimento financeiro para que tenham sucesso em suas atividades”. Essas orientações estão focadas especialmente às hortas comunitárias da periferia, pólos Dom Moacir, Wilson Pinheiro, Geraldo Mesquita, Geraldo Fleming e Benfica.

Ao longo de dois anos, todas as 250 famílias destes projetos foram beneficiadas com a mecanização de pelo menos um hectare para o plantio além de terem melhorado ou reconstruídos açudes com até oito horas de serviço de máquina. “Organizados em grupos, produtores do Hélio Pimenta fecharam contrato para a entrega de frutas e verduras para os Supermercados Araújo, além de venderem nas feiras dos mercados Elias Mansour, Estação Experimental, Bosque e fornecerem alimentos para os programas do Fome Zero”.