Fonte: http://www.ciranda.net/spip/article902.html, por Ana Facundes

O fórum também tem seus próprios conflitos. Nos últimos dias, aconteceram manifestações de repúdio de militantes de movimentos sociais quenianos, que afirmam terem sido excluídos do evento.

Entre as críticas feitas ao comitê local, está a escolha de restaurantes e de um grande hotel como fornecedores das tendas de alimentação, em detrimento do envolvimento de grupos de economia solidária.

Depois de sediar a edição africana do Fórum Social Mundial em 2006, Nairobi recebe novamente milhares de ativistas (que dessa vez chegaram de todas as partes do mundo) para uma jornada que pretende articular uma agenda comum para os movimentos e organizações sociais na luta contra o neoliberalismo.

A realização da sétima edição no Quênia volta a atenção dos movimentos sociais para os flagelos do continente africano, como as guerras, a migração e a epidemia de HIV, entre outros. Mas, o fórum também tem seus próprios conflitos.

Nos últimos dias, aconteceram manifestações de repúdio de militantes de movimentos sociais quenianos, que afirmam terem sido excluídos do evento pelos altos custos de credenciamento e alimentação nas instalações do complexo esportivo Kasarani, onde são realizadas as atividades do fórum.

Gacheke, ativista do movimento queniano People’s Parliament, esperava que, no fórum, “o povo africano oprimido pudessem ter voz e fazer suas reivindicações, mas sem dinheiro para a inscrição, nós só conseguimos acesso ao fórum depois de fazer um protesto em frente ao escritório do comitê organizador”. Como poucos do movimento têm condições de pagar o transporte público até o fórum, a alternativa foi organizar um fórum paralelo onde eles realizam suas atividades, em Jeevanjee Gardens, um parque público localizado no centro da cidade. Segundo Gacheke, o fórum em Nairobi foi organizado para a classe média – com alimentação, alojamento e transporte muito caros, apenas as organizações financiadas por ONGs européias teriam condições financeiras de participar.

Entre as críticas feitas ao comitê local, está a escolha de restaurantes e de um grande hotel como fornecedores das tendas de alimentação, em detrimento do envolvimento de grupos de economia solidária.

Outra limitação de acesso ao fórum estava nos portões que dão acesso às instalações do complexo – apenas participantes com crachá podiam passar. Esta proibição só foi suspensa no dia 23, terceiro dia de atividades, depois de nova manifestação de militantes quenianos logo antes do início da conferência de imprensa.

Ao justificar a escolha desse modelo de organização pelo comitê local, ao contrário de outras edições do fórum que privilegiaram parceiros dos movimentos sociais, a queniana Nojki Mumbi, afirmou que “as relações dos movimentos sociais aqui são diferentes dos outros países e que os serviços precisavam ser fornecidos por aqueles que poderiam fazê-lo”.

A reação desencadeada por essa situação talvez seja um alerta para que os próximos fóruns sejam organizados com base nos mesmos princípios de solidariedade e inclusão que derão origem ao Fórum Social Mundial.