Fonte: Reuters, por Saul Hudson. Enviado por Eliane Soares (esoares@unb.br)
Hugo Chávez tomou posse na quarta-feira para um novo mandato de seis anos como presidente da Venezuela, prometendo radicalizar a sua “revolução” e fazer estatizações, o que já teve reflexo nos mercados financeiros.
Incentivado pela enorme votação que recebeu, Chávez propôs uma reforma constitucional para devolver ao Estado o controle do gás natural. Antes da posse, ele já havia decidido não renovar a concessão de uma rede de TV oposicionista e tomar o controle de grandes empresas de telecomunicações e eletricidade, algumas delas de propriedade de estrangeiros.
“Juro por minha pátria que não darei descanso a meu braço, nem repouso a minha alma, que entregarei meus dias e minhas noites e minha vida inteira à construção do socialismo venezuelano, à construção de um novo sistema político, um novo sistema social, novo sistema econômico”, disse Chávez, no modesto ato celebrado na Assembléia Nacional. “Pátria, socialismo ou morte, juro.”
“As pessoas votaram pelo rumo do socialismo, as pessoas querem e exigem o socialismo, e a pátria precisa de socialismo”, disse Chávez. Alterando a tradição, ele preferiu passar a faixa presidencial sobre o ombro esquerdo, ao invés do direito, no que seria um símbolo das suas credenciais socialistas.
Com as decisões desta semana, muito criticadas pelos EUA, a Bolsa de Caracas perdeu quase um quinto do seu valor na terça-feira, os títulos da dívida despencaram para seu menor valor em seis semanas e o dólar no câmbio negro chegou a quase o dobro do valor oficial.
Chávez disse que a queda da Bolsa foi resultado de alarmismo provocado por especuladores entre os investidores.
Na posse, ele citou passagens bíblicas sobre a distribuição de riquezas, mas não deu detalhes sobre seu plano de nacionalização das empresas de serviços públicos. Os investidores estão ansiosos por saber se ele quer que o Estado tenha a maioria das ações ou 100 por cento do controle.
Seu novo ministro da Economia disse à Reuters que o governo descartou o uso do confisco para nacionalizar a CANTV, maior empresa venezuelana de telecomunicações, e que estuda mecanismos para possivelmente compensar os acionistas.
Chávez, que recebeu 63 por cento dos votos em dezembro, já admitiu sua intenção de mudar as regras para permitir reeleições indefinidas. Na posse, ele reiterou sua intenção de buscar poderes que lhe permitam governar por decreto em algumas questões.
A oposição acusa o presidente, no cargo desde 1999, de tentar transformar o país, quarto maior exportador de petróleo para os Estados Unidos, em uma economia centralizada, no estilo cubano.
As pesquisas mostram que os venezuelanos em geral vêem com receio as expropriações de patrimônios privados, mas apóiam a nacionalização de empresas se isso for do interesse nacional.
A proposta de Chávez para o gás amplia sua política de gradualmente passar o controle do setor energético ao Estado. Ao abrir novas frentes contra a mídia e as concessionárias de serviços públicos, Chávez pode estar buscando dois setores que iriam completar seu controle estatal –já que ele também domina o Congresso, o Judiciário e a estatal de petróleo PDVSA.
“Chávez interpreta o resultado eleitoral como um cheque em branco para desenvolver um programa que vai contra os interesses da Venezuela e só serve para beneficiar a si próprio”, disse o dirigente oposicionista Omar Barboza à Reuters.
(Reportagem adicional de Patricia Rondon, Brian Ellsworth e Ana Isabel Martinez)