Por Lenivaldo Marques da Silva Lima – Membro da delegação do FBES para participar da Cúpula da Economia Social do Quebec no Canadá

Viajamos dia 14 de novembro e voltamos dia 23 do mesmo mês.

Nossa percepção é que temos conceitos similares entre economia social e economia solidária. As diferenças estão na acentuação que damos a prática dos empreendimentos e das organizações. Contudo, temos a mesma concepção: propriedade coletiva, gestão participativa, solidariedade e inclusão social.

A chegada em Montreal

Chegamos no Aeroporto de Montreal fomos recebido por Daniel Tygel (FBES) e Charles do Canteiro e fomos direto para o Albergue–Hotel que fica na Rua Santa Catarina. À noite fomos recebidos pelas autoridades municipais de Montreal em coquetel de acolhimento e boas vindas. Claro reconhecimento da delegação estrangeira e do Canteiro da Economia Social – o Canteiro é uma espécie de ONG que dá suporte a Economia Social.

Aí conhecemos a Nancy e a Maria Helena personalidades importantes da economia social e solidária no Quebec. As falas foram rápidas. Após os comes e bebes e a foto oficial, cuja mestra de cerimônia se chama Liberdade, fomos convidados por Maria Helena para ver a cidade numa vista panorâmica em determinado ponto, o que não foi possível porque o Presidente da RIPPES nos convidou para um jantar reunião cujo tema central era a proposta de um encontro em 2007 e a busca de apoio. Presentes estavam: nós brasileiros, Umberto Ortiz – Peru e os Africanos – presidente da RIPPES e mais uma senhora. Ficou acertado pensar no Encontro a acontecer no Peru, porém, ficamos nos perguntando sobre o caráter político deste encontro, a partir do seguinte questionamento, quais são os parceiros sindicais e governamentais de tal Rede? Qual o campo político de sua atuação no cenário internacional?

A Cúpula de economia social e solidária

A comemoração de 10 anos do Canteiro e a perspectiva da economia social no Quebec foi o objetivo principal da cúpula. 20 países presentes. Autoridades de peso do Quebec como o primeiro Ministro estiveram presentes. Todas as falas sempre na linha afirmativa e valorativa da economia social e solidária. Diversas experiências do cooperativismo no Quebec foram relatadas, bem como experiências de economia social com doentes mentais, imigrantes e desempregados. Outro aspecto importante foi às finanças solidárias: a construção da proposta de credito em andamento com carência de até 15 anos, bem como, o alargamento dos tipos de cooperativas. No Quebec se possui cooperativa para tudo, inclusive para se fazer solidariedade! A presença do Daniel, como secretário executivo do FBES e do Prof. Singer foi muito bem ressaltado. O Prof. Singer falou da nossa experiência da Conferencia, sendo traduzido pelo Daniel.

As experiências relatadas ressaltam em muito a felicidade das pessoas e suas ocupações na economia social. Em muito pouco, são evidenciados aspectos de gestão e os processos participativos no interior das cooperativas. No entanto, a inclusão social pela ocupação econômica, parece ser o forte entre eles.

Importante perceber nesta cúpula que existem outros canais de articulação com outros paises que não somente os nossos parceiros tradicionais. Principalmente com a África em que se apresentaram outras personagens com outros discursos…

No final da cúpula, enquanto se servia o coquetel, o presidente da RIPPES convocou mais uma reunião, ali mesmo no local, desta vez com o Prof. Singer e os mexicanos para amarrar a proposta de ter o Professor como Patrono do encontro, o que implicava a articulação de recursos para viabilizar uma visita no Brasil e o Encontro no Peru. O Prof. Singer percebeu a proposta como de difícil viabilidade no contexto atual do Governo Brasileiro e passou a argumentar por outras formas de articulação. Então começou uma serie de apelação contundente sobre a pessoa do professor (seu compromisso com a Economia Solidária e coisas do gênero). Então percebi que se tratava de uma articulação supra FBES, sem o seu devido reconhecimento, e solicitei a palavra, após insistir muito foi concedida, e fiz a argumentação que a nossa articulação deveria acontecer de “sociedade para sociedade” e que as questões de viabilidade das nossas atividades em que implicasse apoio do governo brasileiro seria papel do FBES fazer esta articulação e não da forma como estava acontecendo ali. Pois o Prof. Singer estava ali enquanto representante do Governo Brasileiro e não como um simples militante da economia solidária…

A visita a Abitibi – Interior mais ao norte do Estado do Quebec||| O objetivo desta visita era a participação de uma Feira de Economia Social Solidária e ver a interiorização – regionalização da economia social no Quebec. Projeção de 8 horas de viagem de carro, dirigido por Charles com apoio de Maria Helena, músicas, piadas, brincadeiras, debates sobre nós mesmos, conhecimento da região foi o tom.

A cada Km o frio apertava e o aquecedor do carro nos mostrava como os humanos foram se adaptando aquela terra, não se via ninguém fora de algum abrigo residencial ou nos carros. Muitas carretas transportando madeiras passaram por nós… de repente vimos a neve caindo… quando paramos para abastecer o chão estava branco com a neve… e passamos a brincar na neve… tive muitas lembranças das imagens veiculadas do papai Noel em nossos natais… aliás, brincando com uma senhora quebequense, que faltávamos ver somente o Papai Noel com seu trenó, ela respondeu que não teria Natal porque os caçadores mataram as renas que puxariam o trenó do Papai Noel. E falou da temporada de caça que estava acontecendo às renas e aos alces. Assim passamos no Vale do Ouro, região dos povos autóctones, que resolvi denominar de povos do gelo.

Nosso almoço foi com o representante da regional que nos falou das grandes cooperativas e de empreendimentos informais na região de Abitibi. Cooperativas das mais variadas matizes (produção, serviços, solidariedade) com muito impacto econômico na vida da população, mas pouca participação dos sócios. Cooperativas com 12.000 sócios conseguem reunir no máximo 100 a 120 participantes de suas assembléias.

Após o almoço visitamos uma cooperativa produtora de mudas florestais e tomates com a tecnologia da hidroponia. Envolve 100 participantes, possui trabalhos temporários, com um faturamento de 3 a 4 milhões de dólares canadenses. De fato vimos muito forte a preocupação com a questão ambiental e a felicidade de duas trabalhadoras que estavam em plena atividade de preparação dos tubos de irrigação (por gotejamento), mas também vimos a solidão de outra trabalhadora sobre um carrinho nos tratos dos tomates. Vimos também a produção baseada na esteira fordista da alta tecnologia. A história dessa cooperativa é importante para região porque recuperam umas estufas do governo que estavam abandonadas e deram uma função produtiva e social. Outro aspecto importante é a utilização de óleo queimado pelos veículos numa caldeira que serve as estufas, bem como, as caixas de embalagens dos tomates feitas de papel reciclado. Normalmente a cooperativa cobra uma taxa aos visitantes, mas nós fomos dispensados do pagamento desta taxa, talvez o fato de sermos visitantes estrangeiros.

A feira de economia social e solidária em Abitibi

A abertura foi muito bonita, homenageando os dez anos do Canteiro e a referencia a nossa presença. As falas foram no sentido de evidenciar a construção da economia social e a consolidação da regional. Depois houve as oficinas de debates. Fomos para oficina sobre os conceitos de economia social e solidária, coordenada por Maria Helena. Nossa percepção é que temos conceitos similares entre economia social e economia solidária. As diferenças estão na acentuação que damos a prática dos empreendimentos e das organizações. Contudo, temos a mesma concepção: propriedade coletiva, gestão participativa, solidariedade e inclusão social.

No almoço tivemos uma dinâmica de apresentação em que o tema da economia social era trabalhado com jovens atores como concorrência entre equipes em que todos ganham. Depois houve uma avaliação das oficinas e da economia social com o publico, então falei, enfocando a autogestão como uma revolução silenciosa nas estruturas de dominação em que vivemos no Brasil.

Essa FEIRA tinha a característica de amostragem e “sala de negócios”. Visitamos a feira – fomos muito acolhidos – ganhamos presentes (agendas, lápis e muitos folders). Partimos de volta.

A reunião de avaliação com o Canteiro

Nossa avaliação foi positiva de como continuarmos o intercâmbio entre Brasil e Quebec. O canteiro ficou interessado pelo tema das cadeias produtivas e pela nossa interiorização do FBES. Outra idéia é a troca de material – realizar traduções, bem como uma visita do Canteiro ao Brasil. Do nosso lado precisamos aprofundar o sistema de finanças solidárias implantado no Quebec, possuindo milhares de pessoas sócias e condiciona vários aspectos da vida social.

Palmares, dia de Nossa Senhora da Conceição do ano de 2006-12-08