Fonte: http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=25729, por Rogério Almeida*

A Amazônia é um floresta urbana. 70% da população ocupa as grandes e médias cidades. Berta Becker, geógrafa da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), chacoalhou o debate na academia quando fez a afirmação em tempos idos. A pesquisadora recordou o fato quando esteve em Belém, durante um seminário internacional, “Cidade na floresta”, organizado pelo Núcleo de Altos Estudos da Amazônia (NAEA), da Universidade Federal do Pará (UFPA), entre 29 de novembro a 01 de dezembro. Além de debater a questão, a geógrafa foi homenageada. O seminário foi possível por conta da associação com uma pororoca de organizações.

Refletir a cidade foi o desafio imposto ao encontro. A superação da dicotomia entre urbano e rural, serviu de princípio. Afinal, os dias são de rompimento das fronteiras de espaço e tempo. O pacto colonial tem nova tintura. Uns chamam de globalização.

O cimento sobre os rios

A indiferença aos recursos hídricos foi revelada em posição de diferentes debatedores. Tanto Belém, quanto Manaus, são cidades que cresceram de costas para o rio. Logo ele que na capital paraense aflui com tanto vigor. As janelas que permitem partilhar do mesmo são estreitas. Logo Belém que poderia muito bem, como Veneza, respeitar tal recurso. Logo Belém, quase uma ilha.

As cidades crescem sobre os igarapés. Cimento sufocam as veias dos rios. As cidades se verticalizam. Os condomínios verticais ou não, despontam como signos da tragédia social que conforma o país. As cidades se avolumam sem saneamento básico. Favelas pipocam sobre os rios. Haverá primavera na selva de cimento?

As cidades médias, tais como Marabá e Santarém no Pará, e Tefé no Amazonas, revelam-se importantes centros burocráticos, econômicos e políticos. Desdobramento do avanço do processo de produção capitalista sobre a fronteira. Caminhada que desordena laços de solidariedade, redimensiona o espaço, redefine territórios, altera o tabuleiro do poder local.

No campo, os elementos de tal processo são expressos através da destruição ambiental, grilagens de terras, trabalho escravo, aguda disputa pelo território, morticínio de camponeses, reconfiguração da identidade indígena. No campo, o agronegócio avança.

A cidade é o espaço do negócio, da disputa política, das marchas dos sem terra e da festa agropecuária. A cidade não pára. A cidade só cresce. O de cima sobe. E o de baixo desce. A cidade é o espaço da informalidade. A cidade é o espaço do rapa, das meninas violadas na precocidade.

A integração regional dos milicos primou em pólos de integração de produção. Assim foram impostos os projetos de pecuária, mineração, siderurgia e madeira. No presente a integração desejada é via eixos. Comunicação, transporte e energia são as colunas.

Assim Coari, no coração do Amazonas, tem agenda pautada por projetos da Petrobrás, que explora gás e petróleo. Assim a bacia do Araguaia-Tocantins, a maior em potencial de produção de energia, conta as barragens erguidas. Mede os trios das ferrovias e o asfalto sobre a mata. Sem renegar os hectares das monoculturas.

Sendo assim, interroga-se: é possível a reprodução ampliada da vida?