Fonte: Jornal do Commercio

Alcançar a auto-sustentabilidade é o grande desafio para as empresas que nasceram dentro de incubadoras. Para resolver a dificuldade, mostram-se necessárias a aproximação de redes de fomento, por meio de parcerias público-privadas e, ainda, a reivindicação de política pública especial para empreendimentos e cooperativas incubadas. Essas foram algumas das questões discutidas ontem, no 9º Encontro da Rede de Incubadoras, realizado no Hotel Flórida, no Flamengo, Rio de Janeiro.

As incubadoras têm, principalmente, o apoio de universidades e centros acadêmicos, que disponibilizam a infra-estrutura necessária ao desenvolvimento dos projetos, além de auxílio para a formatação dos planos de negócio das empresas. Cada vez mais, há melhor receptividade do meio acadêmico em relação à pesquisa aplicada ao desenvolvimento prático da ciência, analisou Frederico Lanza, gerente da Incubadora de Empresas do Inmetro e representante da Rede de Incubadoras, Parques Tecnológicos e Pólos do Rio de Janeiro (ReINC) no evento. Alguns mecanismos, como transferência da tecnologia desenvolvida nas incubadoras, cobrança de royalties e pagamentos contratuais de empresas que já estão no mercado e retribuem o suporte oferecido no primeiro estágio do empreendimento, podem garantir a sustentabilidade dessas incubadoras. Trata-se de um momento novo para área relativamente recente no País.

Ricardo Wargas, gerente de Tecnologia do Sebrae/RJ aponta algumas soluções para a questão, baseadas em experiências bem-sucedidas de algumas dessas instituições. O atendimento das demandas tecnológicas de uma empresa âncora de grande porte podem movimentar diversos empreendimentos incubados, que passam a atuar como fornecedores. O pagamento de royalties e da execução de projetos garante, também, o desenvolvimento da incubadora. A atuação no processo de desenvolvimento do entorno da unidade também gera recursos para a instituição, o que já acontece em pequenos municípios, segundo Wargas. visão paternalista. Para isso, é preciso, em primeiro lugar, aniquilar a visão paternalista de muitas das incubadoras brasileiras, que devem adotar o profissionalismo em todas as suas etapas. Essas instituições precisam assumir o objetivo da sustentabilidade em um viés empresarial, com gerência e administração profissionalizadas, explicou o gerente.

Essa tomada de consciência é fundamental para alavancar o setor. As incubadoras têm importância na economia do País, gerando conhecimento, tecnologia e riquezas, além de dinamizar o sistema, auxiliando na independência de tecnologias estrangeiras, explica Lanza. Segundo o gerente, na instituição mantida pelo Inmetro existem empreendimentos que já exportam produtos, atraindo capital para o território nacional e gerando empregos. Pólo de biotecnologia oferece diversos serviços

Com 18 anos de atuação, a Fundação BioRio foi pioneira na criação de um pólo de biotecnologia na região. Apesar de estar sediada no campus da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a instituição privada não está vinculada a qualquer unidade acadêmica e, por isso, tem acesso aos principais centros de pesquisa do estado. Para garantir sua sustentabilidade, a BioRio oferece serviços de administração de projetos, consultorias, serviços de inteligência para universidades, entre outros ofícios.

Qualquer empreendedor pode participar da seleção e as inscrições de projetos são feitas durante o ano todo. A única exigência é de que o produto a ser desenvolvido não apresente agressão ao meio ambiente, nem finalidades bélicas. O prazo para permanência na instituição é de cinco anos. Os 2,5 mil metros quadrados disponibilizados às empresas incubadas e ao pólo industrial estão preenchidos por completo. São, ao todo, 12 empreendimentos no parque e 10 na incubadora que, juntos, geram cerca de 500 empregos diretos. Nosso foco é a biodiversidade e a biotecnologia, afirma Kátia Aguiar, gerente de negócios da fundação.

A incubadora Phoenix, por sua vez, ainda está em período de implantação na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Estamos entrando tarde nesse setor, mas a existência de ações isoladas e dispersas de empreendedorismo na faculdade de engenharia nos incentivou a abrir a instituição, explica Mariza Almeida, coordenadora da Phoenix/Fen/Uerj. Sete empresas já estão pré-incubadas e o primeiro edital já está em análise. A expectativa é de que até janeiro do ano que vem a incubadora supere a fase de implantação e inicie a atuação no mercado. A articulação com outras incubadoras da própria universidade e do restante da rede possibilitará a troca de experiências entre todas as instituições, evitando erros recorrentes. Nosso objetivo é incentivar a criação de novos empreendimentos a partir dos resultados da pesquisa gerada em centros de conhecimento da Uerj, fortalecendo a atuação da universidade no desenvolvimento econômico e social do estado, explica Mariza. Outra finalidade apresentada durante o encontro é contribuir para o desenvolvimento regional por meio da interação com o APL de São Cristovão, região do entorno da incubadora. Analisaremos quais as necessidades das empresas já existentes no local e da comunidade para definirmos um foco de atuação da incubadora nessa região, afirma Mariza.

Cooperativas

Em todo o mundo, o empreendedorismo nas universidades se aqueceu principalmente no setor tecnológico. Nesse ambiente de tecnologia, surgem muitas oportunidades de negócios inovadores, além de existir grande demanda por esses produtos. Esse movimento não foi calculado, mas espontâneo, explica Lanza. No entanto, essa realidade começa a mudar. Outros setores começam a apresentar iniciativas empreendedoras, principalmente no formato de cooperativas.

Um desses casos é a Cooperativa da Praia Vermelha, que executa um trabalho de inserção social de usuários da Rede de Saúde Mental do Rio. Pessoas com distúrbios e doenças mentais produzem alimentos à base de castanha e cupuaçu que são vendidos em algumas lanchonetes e restaurantes. Hoje, o projeto, incubado há 10 anos no ITCT-Coppe da UFRJ, já é auto-sustentável e gera renda simbólica aos trabalhadores. O objetivo é a independência, já que o projeto ainda utiliza as dependências do Instituto Municipal Philippe Pinel. A dificuldade maior enfrentada pela empresa é o escoamento dos produtos, já que temos capacidade de uma produção ainda maior, afirma Vera Lobato, coordenadora do projeto e terapeuta ocupacional.

Finep disponibiliza possibilidade de investimentos

A Finep oferece investimentos para o setor em um pacote que contemplará cerca de 1 mil empreendimentos cujos produtos sejam inovadores, em relação à base tecnológica, ao mercado, à gestão ou ao produto. São R$ 300 milhões disponíveis para projetos que receberão no mínimo a quantia de R$ 300 mil. Outra oportunidade de investimento, esta abrangendo as empresas que não sejam tecnológicas, é o capital de risco, acrescenta Costa.

O superintendente da Área de Pequenas Empresas Inovadoras da Finep, Eduardo Costa, afirma que as possibilidades de se conseguir investimentos para os empreendimentos incubados mudou significativamente nos últimos anos. Hoje, as condições impostas aos financiamentos não são viáveis para essas pequenas empresas, que devem buscar recursos nos capitais de subvenção.